As 20 frases que marcaram o julgamento do ataque à Academia do Sporting
É na manhã desta quinta-feira (28 de maio), no Tribunal de Monsanto, que é feita a leitura do acórdão do processo da invasão à Academia do Sporting, em Alcochete, a 15 de maio de 2018, no qual são arguidas 44 pessoas, entre elementos da claque Juventude Leonina e o ex-presidente do clube, Bruno de Carvalho. Será o desfecho de um caso que esteve em julgamento durante um ano e meio, que teve 15 sessões e durante as quais foram inquiridas mais de 150 testemunhas.
Nas alegações finais, Fernanda Matias, procuradora do Ministério Público (MP), pediu a absolvição de Bruno de Carvalho e dos outros dois arguidos - Nuno Mendes (Mustafá) e Bruno Jacinto -, que estão acusados de autoria moral da invasão à academia, e defendeu penas máximas de cinco anos para a maioria dos arguidos, considerando ainda não provado o crime de terrorismo.
A procuradora Fernanda Matias, que considerou ter ficado provado que 41 dos 44 arguidos do processo entraram na academia do clube, em 15 de maio de 2018, pediu penas máximas de cinco anos para 37 destes, suspensas para os arguidos sem antecedentes criminais, e efetivas para arguidos com cadastro. Já a maioria dos advogados foi, por seu lado, quase unânime nas críticas à acusação elaborada pela procuradora Cândida Vilar e ao crime de terrorismo de que estão acusados os 44 arguidos, pedindo por isso penas suspensas.
Foi há sensivelmente dois anos que um grupo de elementos da claque Juventude Leonina invadiu a Academia, em Alcochete, onde agrediu e insultou vários jogadores da equipa principal do Sporting. Agora, que vão ser conhecidas as sentenças dos 44 arguidos neste processo, o DN recorda as principais frases proferidas em tribunal no âmbito deste julgamento. Nelas estão retratados vários episódios, desde o jogo com o Marítimo, na Madeira, a posterior reunião do então presidente do Sporting, Bruno de Carvalho, com os jogadores e treinadores, que antecedeu o ataque à Academia, e os relatos dos futebolistas sobre as ameaças e agressões que receberam.
"A informação da ida dos adeptos não correu pelas vias normais. Foi muito em cima da hora e não me deixou tempo para acautelar a ida. Normalmente eu era avisado um dia antes, ou pelo menos na manhã daquele dia, que a visita ia acontecer à tarde. Diziam-me que pessoas vinham, com o líder ou sem ele."
02/12/2019 - Ricardo Gonçalves, diretor de segurança da Academia Sporting
"Entrei com a cara destapada, com toda a calma, claro. Quem não deve não teme, claro que entrei com a cara destapada. Eu não tenho grupos, vou sozinho às coisas. Quando os vi a correr, pensei que não iam entrar."
"Vejo o Jorge Jesus a dizer: 'oh Fernando, oh Fernando, ajuda-me!' Jorge Jesus colocou a cabeça no meu ombro e disse-me: 'Salva-me!' Estava em estado de choque, levou com aquilo tudo. Tinha uma lesão na cara. Eu disse-lhe: "Não sei de nada disto, vim aqui para falar consigo". Ele estava extremamente nervoso."
03/12/2019 - Fernando Mendes, ex-líder da Juventude Leonina, que esteve na Academia na tarde do ataque
"Eram quatro ou cinco pessoas. Primeiro levei uma bofetada, depois seguiram-se murros e pontapés. Diziam que não merecia a camisola do Sporting, tentaram tirar-me o equipamento de treino, não conseguiram e depois ameaçaram-me. Disseram que me iam matar, que sabiam onde vivia e onde os meus filhos iam à escola."
17/12/2019 - Marcos Acuña, jogador do Sporting
"Vamos matar-te. Não mereces a camisola. Deram-me socos na cara, no peito e nos braços. Vários colegas foram agredidos ao tentarem colocar-se entre eles e eu. Levei com um garrafão de 25 litros na parte lateral do peito. Fiquei com medo, desde essa altura e cada vez que perdemos um jogo vem esse medo outra vez. Isto aconteceu no nosso local de trabalho e no fim liguei à minha namorada para não sair de casa."
17/12/2019 - Rodrigo Battaglia, jogador do Sporting
"Bruno de Carvalho disse que se quisesse bater em alguém, não precisava de ninguém. Acabou a reunião e o presidente saiu da sala. Voltou com o telefone em alta voz a perguntar ao Mustafá 'mandei partir os carros ou agredir alguém?' Ele respondeu que não."
"Ainda hoje, passado um ano e meio, não me sinto seguro quando vou a Portugal. Tive de apresentar queixa na Suíça pelas ameaças que tive. Não havia condições psicológicas para continuar em Portugal."
06/01/2020 - Rui Patrício, antigo guarda-redes do Sporting
"Levei um soco na cara, caí e fiquei a sangrar do nariz. O Fernando Mendes estava perto. Depois apareceu outro indivíduo, um que levou um carro lá para dentro, também me viu a levar o soco. Quando tentei entrar na cabine, falei com o Fernando Mendes, que me disse: 'Não posso fazer nada'. Fui agredido nos corredores, tentei reagir, mas foi uma enorme confusão. Depois levei com um cinto, meio no ombro, meio na cara. Voltei a ver o Fernando Mendes e disse-lhe: 'Estás a fazer o que estão a fazer? Vocês são uns cobardes'."
"Parecia um filme de terror. No balneário estava tudo virado ao contrário, os jogadores alterados e sem saberem o que fazer. O Bas Dost foi o único que vi a chorar, mas todos estavam revoltados. Bruno de Carvalho apareceu na Academia uma ou duas horas depois do ataque, acompanhado pelo André Geraldes. Falou comigo. Pediu-me para ir falar com os jogadores, mas eles não queriam falar com ele."
07/01/2020 - Jorge Jesus, na altura treinador do Sporting
"Mustafá ligou-me a dizer que o presidente Bruno de Carvalho lhe tinha pedido para ameaçar os jogadores e partir-lhes os carros."
31/01/2020 - William Carvalho, ex-jogador do Sporting
"Durante a reunião com a equipa técnica, o presidente terá afirmado que o treino seria à tarde. Foi o Jorge Jesus que me disse após a reunião, numa conversa particular."
31/01/2020 - André Geraldes, ex-team manager do Sporting
"Foi uma reunião surreal. Bruno de Carvalho disse: 'Estou farto que me enfiem o dedo no cu' e que a Taça valia tanto como um furúnculo no cu. Disse: 'Isto vai mudar completamente' e que queria 'toda a gente no treino amanhã à tarde'. Amanhã, aconteça o que acontecer, quero ver quem continua comigo."
"Tenho ideia de que Bruno de Carvalho confirma com André Geraldes que o treino seria às quatro da tarde. Normalmente, o treino seria de manhã, mas estaria sempre pendente de confirmação."
07/02/2020 - Frederico Varandas, presidente do Sporting, que na altura dos factos era diretor clínico, sobre a reunião de Alvalade no dia anterior ao ataque
"Um deles voltou-se para mim, não vi o que tinha na mão, e atingiu-me na cabeça. Caí para o chão e o homem que me agrediu deu-me pontapés e disse a outro que fizesse o mesmo. Fiquei no chão inconsciente durante cinco minutos. Tinha muito sangue na cabeça."
"Foi um dia horrível, passados meses comecei a falar com pessoas mas tinha medo. Tive segurança pessoal, para a minha família não houve problemas, mas para mim foi diferente, nem ao supermercado queria ir sozinho. Falei com terapeutas especializados em traumas. As pessoas aconselharam-me a não ser medicado, só valia a pena se não dormisse e isso não aconteceu."
12/02/2020 - Bas Dost, antigo jogador do Sporting
"Há dez anos que vou à Madeira e vejo o jogo no café dos sócios do Marítimo. Estava a jogar à moeda. Fiquei no café porque acabei por dar o meu bilhete. Já não tinha condições, tinha bebido demais."
"Nada do que se passou é normal. No dia 15 só acordei para comer a canja da Cristina. Voltei para a cama e acordei com ela a dizer-me para ir ver o que se tinha passado."
26/02/2020 - Nuno Mendes (Mustafá), líder da Juventude Leonina
"O grande mal foi em 2017 o senhor Jorge Jesus ter autorizado, nas minhas costas, uma ida da Juventude Leonina a Alcochete. No meu mandato aconteceu uma vez e foi sem minha autorização."
"Sou o mandante terrorista mais imbecil do mundo, porque me queriam bater a mim."
"As duas pessoas que iam ser despedidas eram Jesus, que acabou condecorado, e Varandas, que acabou presidente. E o despedido fui eu."
28/02/2020 - Bruno de Carvalho, ex-presidente do Sporting