Ao ataque. No futsal, na política e no ciberespaço
Sábado, 5 de fevereiro
Os esforços para resgatar com vida o pequeno Rayan, do fundo de um poço com 32 metros de profundidade, seco, estreito e de difícil acesso, em Ighrane (Marrocos), prenderam milhões de pessoas em frente à televisão, acompanhando horas de diretos que pouco mais mostravam do que terra esventrada, a movimentação dos socorristas e uma enorme multidão que ali se juntou a assistir às operações e a rezar. O desfecho, contudo, foi o pior possível. Cinco dias após o acidente, e depois do trabalho incessante e delicado das equipas de socorro para evitar o deslizamento de terras, Rayan foi retirado do poço já sem vida. É sempre complicado encontrar numa tragédia algo de positivo, mas o papa Francisco foi certeiro: a morte de Rayan mostrou como "um povo inteiro se uniu para salvar uma criança". É esse testemunho de solidariedade que fica como legado deste menino de cinco anos que emocionou o mundo.
Domingo, 6 de fevereiro
Um dia intenso e de glória para o desporto português. Nos Países Baixos, a seleção de futsal revalidou o título de campeã europeia (a que se soma o mundial conquistado em 2021), batendo na final a Rússia, por 4-2. Tal como acontecera na meia-final com a Espanha, Portugal esteve em desvantagem por 2-0, mas teve a arte e a força para dar a volta à adversidade. Num Europeu já sem Ricardinho, um dos melhores futsalistas da história, a seleção comandada por Jorge Braz viu emergir talentos como Zicky Té, de apenas 20 anos, para continuar a dominar uma modalidade em franca expansão internacional. Já em Pune, na Indía, o tenista João Sousa somou o quarto título ATP da carreira. Uma demonstração de força, aos 32 anos, do melhor tenista português de sempre.
Segunda-feira, 7 de fevereiro
Fosse o PAN um animal e o seu estatuto de conservação seria, hoje, no mínimo, "vulnerável". De 2019 para 2022, o partido Pessoas Animais-Natureza perdeu quase metade do seu eleitorado (caiu de 174 511 votos para 92 582, segundo a CNE) e viu a sua representação parlamentar reduzida a um deputado (tinha quatro). Já sem o efeito novidade que o beneficiou nos sufrágios anteriores, o PAN pagou ainda o custo de se "oferecer" para parceiro de governo fosse ele liderado por Costa ou Rio. No entanto, a maioria absoluta do PS tornou o PAN (e todos os outros partidos) inútil para qualquer matemática parlamentar. E incendiou a contestação a Inês de Sousa Real, há apenas sete meses na liderança. Terça-feira, seis membros da Comissão Política Nacional bateram com a porta, queixando-se de "asfixia democrática" no partido e da ausência de um congresso. A porta-voz do PAN diz que há "uma agenda pessoal por detrás das demissões" e criticou o "espetáculo lamentável de cisão interna" a que o país assiste. Traduzindo: um partido em queda e desunido, num cenário político em que se tornou irrelevante. "Vulnerável".
Terça-feira, 8 de fevereiro
O ciberataque à Vodafone teve lugar na noite de segunda-feira, mas foi no dia seguinte que melhor se percebeu o seu real impacto. Foram afetadas as comunicações de milhões de portugueses, bem como a atividade de várias empresas e serviços tão diferentes como os de socorro, a rede de multibancos e até a previsão meteorológica. A Vodafone não hesitou em classificar o ataque como um "ato terrorista" que não só visou tornar indisponível a rede como também procurou "dificultar ao máximo a recuperação dos serviços". A PJ abriu uma investigação, reconhecendo, no entanto, que será complexo apurar resultados. Desde logo porque não se sabe sequer qual a motivação do ataque (não foi reivindicado, nem foi pedido qualquer resgate). Nos últimos meses, além da Vodafone, também os grupos de comunicação Impresa, Cofina e Trust in News foram visados por piratas informáticos, assim como o site do parlamento e os laboratórios Germano de Sousa.
Quarta-feira, 9 de fevereiro
O Conselho Nacional das Confederações Patronais (CNCP) apresentou na quarta-feira um conjunto de propostas para a nova legislatura, exigindo ao governo "uma atitude diferente para com as empresas que são quem cria emprego e riqueza para o país". A proposta de OE2022, que os patrões disseram "ficar muito além do que seria desejável" e de conter "poucas medidas e de impacto reduzido" destinadas às empresas, converteu-se, após o chumbo na AR que precipitou as eleições, numa das principais bandeiras políticas usadas pelo PS na campanha. Foi apresentada como sinónimo de estabilidade e a mensagem fez caminho entre os eleitores, que reforçaram António Costa com uma maioria absoluta. Ora, no mesmo dia em que a CNCP apresentou o seu caderno de encargos, o que o primeiro-ministro fez foi anunciar que quando a proposta de OE voltar à AR vai já incluir, não o que pedem os patrões, mas sim "o conjunto de compromissos" que o governo tinha assumido nas negociações com o PAN e os partidos à esquerda (BE, PCP e PEV). As mesmas que não chegaram para evitar a queda do governo, mas que ainda pioraram a opinião que os patrões tinham do OE2022.
Quinta-feira, 10 de fevereiro
A nova configuração da Assembleia da República está a merecer mais atenção do que é habitual. O tema mais polémico promete ser a eleição do vice-presidente indicado pelo Chega. Se Pacheco de Amorim não for eleito (o voto cabe aos deputados, em urna e secreto), André Ventura já disse que vai indicar outro candidato indo ao encontro de um direito que está previsto na Constituição - o de os quatro partidos mais votados poderem propor nomes para o cargo. A estratégia passa por demonstrar que o chumbo não se dirige a um deputado em específico, mas sim ao partido que lidera. Também a Iniciativa Liberal quis agitar as águas, apresentando um requerimento para os seus oito deputados ficarem sentados no meio do "Bloco Central", com os do PS à sua esquerda e os do PSD à sua direita. Rui Rio, que tanto insistiu em posicionar o PSD ao centro político, diz que o pedido da IL "anda próximo de uma brincadeira de mau gosto". E esta quinta-feira houve um momento, acima de tudo, simbólico, documentado pela repórter fotográfica Diana Quintela. Ao fim de 47 anos, o CDS deixou de estar representado no parlamento. Bastaram poucos segundos para ser removida a placa com o nome do partido da sala no Andar Nobre que, doravante, será ocupada... pelo Chega.
Sexta-feira, 11 de fevereiro
O jovem de 18 anos, suspeito de preparar um ataque à Faculdade de Ciência de Lisboa, ficou em prisão preventiva após ser ouvido em tribunal. O estudante de engenharia informática foi indiciado pelos crimes de terrorismo e posse de arma proibida (aquando da detenção, a PJ apreendeu objetos como uma besta e catanas, que seriam usadas para concretizar o ataque "dirigido a alunos universitários da UL"). A juiza do Tribunal Central de Instrução Criminal optou pela medida de privação de liberdade devido a "fortes indícios de existir a continuação da atividade criminosa e da perturbação da tranquilidade pública". O arguido, como explica o DN nesta edição de sábado, está diagnosticado com síndrome de Asperger, o que ajuda a explicar algumas das características comportamentais, como a dificuldade nas interações sociais, que foram sendo reveladas nos meios de comunicação acerca deste jovem.