António Costa diz que eleições não são referendo às maiorias absolutas
António Costa afastou qualquer hipótese de acordo de governo com o PSD porque, no seu entender, essa solução seria "contranatura". Declarações proferidas, esta quarta-feira à noite, numa entrevista à SIC em que garantiu que não pretendeu atingir José Sócrates - "era o que faltava!" - com a diabolização das maiorias absolutas e que tão pouco as legislativas de 6 de outubro são um referendo às maiorias absolutas. Sublinhou ainda que o Bloco de Esquerda e o PCP não registaram evolução ideológica que justifique um executivo coligação de esquerda.
"As soluções de Bloco Central são contranatura. Tenho-o disto desde sempre, essa solução empobrece a democracia. A democracia ganha em ter alternativas. Se o doutor Rui Rio se refere às reformas, sempre o defendi", disse António Costa, quando questionado sobre a disponibilidade manifestada pelo líder do PSD para acordos parlamentares com o PS em reformas estruturais.
Costa apressou-se, contudo, a acrescentar que as grandes reformas já avançaram e que não está disponível para apoiar algumas das ideias do PSD, como a preconizada para a área da Justiça que, no seu entender, limitam a autonomia do poder judicial.
Na entrevista conduzida pelo jornalista Bernardo Ferrão, voltou à baila a "diabolização" que o primeiro-ministro fez das maiorias absolutas, do PS ou do PSD. O jornalista insistiu em saber por que razão António Costa afirma que são de "má memória para os portugueses"; António Costa respondeu. "É a perceção que eu tenho, das várias sondagens que tenho visto." Até porque, sublinhou, nunca fixou esse objetivo político. Além disso, lembrou que em causa está a escolha de um Governo, e de que forma pode governar, e não um referendo às maiorias absolutas.
"Estas eleições não são um referendo 'sim' ou 'não' às maiorias absolutas. São para escolher entre diferentes programas de governo e quem é que os portugueses acham que está em melhores condições para governar e em que condições deve governar."
Questionado sobre se queria atingir José Sócrates, já que foi o único líder do PS a atingir uma maioria absoluta (em cujo governo também participou), Costa foi perentório: "Não me passou isso pela cabeça. Era o que faltava!"
Este fim de semana, o antigo primeiro-ministro escreveu um artigo no Expresso em que afirmava que "começa a ser insuportável assistir, sem reagir, aos ataques que o líder do PS faz à história do Partido Socialista e aos anteriores governos socialistas".
Principais frases da entrevista
"O que eu disse é que, justa ou injustamente, os portugueses não têm boas memórias das maiorias absolutas. É a perceção que eu tenho, das várias sondagens que tenho visto."
"O único objetivo que tenho fixado é dar mais força ao PS para fazer mais e melhor. Nunca o explicitei nem fixei esse objetivo [maioria absoluta]."
"Estas eleições não são um referendo 'sim' ou 'não' às maiorias absolutas. São para escolher entre diferentes programas de governo e quem é que os portugueses acham que está em melhores condições para governar e em que condições deve governar."
"Não me passou isso pela cabeça. Era o que faltava! [quando questionado se queria atingir José Sócrates]."
"O Aliança manifestamente está no extremo do bloco alternativo ao PS."
"A estabilidade desta solução governativa foi compreendermos o nível de acordo que podíamos ter e não podíamos ter em conta. O que nos separa e o grau de convergência permite fazer o que temos feito."
"O PAN já disse que não tenciona fazer parte de um governo."
"O Governo tem que ser uma entidade coesa. Não teria sido possível fazer o que fizemos se tivéssemos governo de coligação."
"Nenhum dos partidos evoluiu naquilo que são os seus fundamentos ideológicos para mudarmos a nossa posição sobre esta matéria."
"A estabilidade é necessária para prosseguir, temos uma política de reposição de rendimentos, criámos condições para que as empresas possam criar riqueza e empregos, combate à precariedade, reforço de investimento nos serviços públicos e estamos a reduzir o défice. Este ano vamos pagar menos dois mil milhões de euros do serviço da dívida."
"Posso prometer que vamos continuar a trajetória que seguimos até agora, que é continuar a reduzir a tributação sobre o o trabalho, introduzir mais escalões e beneficiar a classe média."
"Vamos continuar a apoiar empresas nos incentivos ficais para sua modernização e investir no interior."
"Vamos dar incentivos para jovens casais poderem aumentar o número de filhos, a dedução passa a ser progressiva sobre o número de filhos."
"Se tivesse havido interferência indevida, o secretário de Estado [da Proteção Civil] tinha sido demitido."
"Aguardo o que o conselho consultivo da PGR tem para dizer."
"Para já, Mário Centeno está no Governo. Qual é a dúvida sobre isso? [Se ele quer continuar a ser ministro das Finanças] tem que perguntar a Mário Centeno."
"Em equipa vencedora não se mexe."
"Cada um é livre de decidir o seu destino. Mas quando ele diz que quer continuar a ser presidente do Eurogrupo, precisando para isso de ser ministro das Finanças, creio que a resposta está dada."