António Costa: "As coisas correram melhor do que se chegou a temer"
Os principais riscos da passagem do furacão Lorenzo pelo arquipélago dos Açores "estão ultrapassados", confirmou o primeiro-ministro António Costa, que esta manhã esteve a acompanhar a situação na sede da Autoridade Nacional de Emergência Proteção Civil, em Carnaxide (Lisboa).
Costa confirmou que, de acordo com o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), já está a haver "uma quebra dos ventos" mas que é preciso acompanhar o estado das marés, "que provocam alterações à navegação". No entanto, o primeiro-ministro está confiante que "pela hora do almoço a situação estará normalizada".
Durante a passagem do Lorenzo pelos Açores foram registadas 82 ocorrências, incluindo danos graves em três habitações, revelou António Costa, explicando que neste momento estão ainda a ser avaliados os danos no molhe do Porto das Lajes das Flores. Além disso, em vários locais não estão ainda restabelecidas a energia e as comunicações telefónicas.
"Até agora não houve qualquer dano a nível pessoal", confirmou Costa, que tem estado em "contacto permanente" com o presidente do Governo Regional dos Açores, Vasco Cordeiro, sublinhando que "tudo indica que as coisas correram melhor do que se chegou a temer" e elogiando as ações das várias entidades envolvidas na prevenção.
Sendo assim, António Costa afirmou que não irá aos Açores: "Salvo alguma surpresa, não se justifica deslocação aos Açores, felizmente tudo correu pelo melhor mas continuamos em contacto. Se for necessário irei, mas tudo indica que não é preciso qualquer deslocação minha ou de outro elemento do Governo".
O mar poderá ter levado parte do molhe e um edifício de apoio do Porto das Lajes das Flores, nos Açores, na sequência da passagem do furacão "Lorenzo", avançou a Proteção Civil açoriana. "Temos uma situação, que ainda estamos a confirmar, ocorrida no Porto das Lajes das Flores, com o desaparecimento de parte do molhe, de um edifício de apoio e de alguns contentores", adiantou o presidente do Serviço Regional de Proteção Civil e Bombeiros dos Açores, Carlos Neves, numa conferência de imprensa, em Angra do Heroísmo (ilha Terceira), por volta das 6:30 locais (7:30 em Lisboa).
"É uma situação que estamos a confirmar. Ainda não poderei dizer de forma concreta o que se passou. Estamos a receber as informações e a saber a extensão dos estragos", acrescentou. Segundo o responsável pela Proteção Civil, "não há registo" de desaparecimento de pessoas e a zona estaria isolada.
Carlos Neves disse que na ilha das Flores, no grupo Ocidental, já se está "a registar alguma acalmia" e o vento não está a aumentar. "Possivelmente irá manter-se nas próximas horas ainda com esta intensidade e depois irá descer pouco a pouco", avançou. Ainda assim, sublinhou que a tempestade "ainda está muito próxima do grupo Ocidental". "É lógico que está a caminhar para norte. Agora uma das preocupações é a agitação marítima", frisou, acrescentando que no grupo Central (São Jorge, Faial, Terceira, Graciosa e Pico) os efeitos serão sentidos mais tarde, ao longo da manhã.
O presidente da Proteção Civil açoriana admitiu que esta possa ser a tempestade mais forte dos últimos 20 a 22 anos a afetar o arquipélago. "Nós temos nos últimos anos tido algumas tempestades tropicais que provocaram estragos, tivemos a sorte de alguns furacões que tinham como trajetória o arquipélago se terem desviado e terem passado a centenas de quilómetros do arquipélago, não provocando estragos, mas este, de facto, embora se tivesse desviado nos últimos dias ligeiramente para oeste, mesmo assim afetou-nos de uma forma muito agressiva", afirmou.
Segundo Teresa Machado Luciano, secretária regional da Saúde, em declarações ao início da amanhã, as ocorrências registadas são sobretudo "obstrução de vias, queda de árvores e telhas caídas" e foram registadas "nas Flores, no Pico e no Faial", obrigado ao fecho de algumas estradas e causando alguns cortes de energia e interrupção das comunicações telefónicas em algumas zonas.
Até ao momento só foram registados "danos materiais", mas foi preciso realojar duas famílias, que "foram socorridas de forma muito rápida", confirmou Carlos Neves, responsável da Proteção Civil. "Registaram-se duas situações de desalojados, duas [pessoas] em São Jorge e três nas Flores. As pessoas já se encontram realojadas e a situação foi resolvida", avançou.
O furacão "Lorenzo" baixou já para categoria 1, na intensidade prevista pela Proteção Civil açoriana. A rajada máxima até ao momento, 145 quilómetros por hora (Km/hora), foi registada na ilha do Faial, no grupo central, seguindo-se 130 Km/hora nas Flores e 126 km/hora no Corvo. Já foram encerradas 61 estradas em várias ilhas dos Açores.
A maior proximidade do centro do furacão "Lorenzo" à ilha das Flores registou-se pelas 06:00 locais de hoje (07:00 em Lisboa), disse também o delegado local do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), à agência Lusa. Por essa hora, o centro do furacão esteve aproximadamente 100 quilómetros a oeste da ilha das Flores, previu Carlos Ramalho.
Também o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) dos Açores confirmou que o período crítico do furacão "Lorenzo" decorrerá até às 09:00 da região (10:00 em Lisboa), afetando maioritariamente a ilha das Flores e do Corvo. "O centro do furacão já passou" a oeste da ilha das Flores, e encontra-se a caminho de norte/noroeste, "com tendência a afastar-se" progressivamente da ilha do grupo ocidental, declarou a meteorologista Vanda Costa à agência Lusa.
Depois do período mais crítico em termos de vento, o Corvo prepara-se, ao início da manhã de hoje, para a agitação marítima. À agência Lusa, o presidente da Câmara Municipal de Vila do Corvo, José Manuel Silva, disse, pouco antes das 6:00 locais (07:00 no resto do país) que o furacão "Lorenzo" "ainda está a passar", mesmo depois de o vento ter mudado "ligeiramente a sua direção". "Tendo em conta que o olho do furacão já se encontra um bocadinho mais a noroeste do Corvo e das Flores, a tendência é para melhorar", acrescentou.
As autoridades preocupam-se agora com a possibilidade de a ondulação aumentar, perante a redução da intensidade do vento. "Preocupa-nos a ondulação, na zona sul, que é a zona mais exposta ao mar, onde não há grandes movimentos, nem grandes habitações, mas é preciso o cuidado de as pessoas não circularem para evitar alguma situação mais desagradável", afirmou José Manuel Silva.
O autarca avançou que não se registaram na ilha quaisquer ocorrências que tenham afetado pessoas, apontando "duas ou três ocorrências com portas, janelas e telhas de armazéns, que nem foram em casas habitadas".