Angelina Jolie: "Os meus filhos acharam que esta guerreira galáctica era parecida comigo"
A Marvel pode estar a conseguir ganhar o título da salvadora da recuperação das salas nos EUA, mas agora, com Eternals (Eternos), de Chloé Zhao, parece ter um novo desafio: tentar que as críticas negativas acabem por ser varridas pela onda de entusiasmo dos fãs. Não restam muitas dúvidas, por mais mal tratado que seja pela imprensa, poucos são os que acreditam que poderá ser um falhanço nas bilheteiras. De alguma forma, este é o passo seguinte no MCU, Marvel Cinematic Universe, após o desmembramento dos Vingadores, ou seja um novo ciclo sem renegar a realidade após o blip e os acontecimentos do último Avengers.
Depois de Nomadland, a sino-americana Chloé Zaho estreia-se nos blockbusters na primeira aventura dos Eternos, um grupo de super-super-heróis que protege a Terra desde o aparecimento da espécie humana. Agora, com o aparecimento de monstruosas criaturas, os Eternos são forçados a uma nova reunião para evitar a extinção na Terra, ficando a dúvida se o aparecimento dos nefastos seres malignos não estará relacionado com o impacto dos antigos atos de Thanos.
Para dar vida a este gangue dos imortais dos comics, a Disney apostou num elenco com diversidade de género e proveniência, dando a possibilidade a atores como Gemma Chan, Kumail Nanjiani, Salma Hayek, Angelina Jolie, Barry Keoghan ou a surda-muda Lauren Ridloff para libertar a sua etnicidade... Numa conferência virtual à qual o DN foi o único meio português presente, Angelina Jolie explicou porque aceitou ser esta guerreira Thena: "Aceitei este filme porque adoro os filmes da Marvel e porque sou fã da Chloé Zhao... Quando me falaram do projeto percebi a importância do elenco e de como podíamos ser uma família - queria fazer parte dela. Na altura, nem sabia bem qual seria o meu papel. Creio que depois a Chloé trouxe o real para este filme, essa é a sua especialidade. Muitos dos atores trouxeram algo de si próprios e das suas almas para os seus papéis... Alguns de nós nem percebemos que isso estava a acontecer. Eternals foi crescendo com isso. Os meus filhos até acharam que esta guerreira galáctica era parecida comigo, uma mulher vulnerável que é vista como poderosa".
Nessa mesma conferência, Salma Hayek foi quem falou de forma mais apaixonada e garantiu que estar aos 50 e poucos anos num filme de super-heróis deve-se ao facto de sonhar em grande: "sempre fui assim. Sempre sonhei ser super-heroína, trabalhar com os maiores cineastas e fazer cinema que é arte e que vem dos locais mais profundos. Claro que não estava a conseguir atingir esses sonhos grandes mas fui tentando aos 20, aos 30 e aos 40. Depois disso, pensei: que se lixem! E, agora, isto! Trata-se de uma experiência da qual reajo com muita humildade, até porque é ao mesmo tempo cinema de arte e um blockbuster. Afinal, tudo é possível... Se virmos bem, sou pequena, mexicana, não tenho a cara com botox, tenho mamas grandes e não sou musculada... Enfim, características que não são de uma super-herói. Puxa, tenho mais de 50 anos e deixam-me fazer as cenas de ação!!".
Por seu lado, a oscarizada Zhao explica como foi a sua primeira reunião com Kevin Feige, o cérebro de todo o MCU: "A primeira coisa que lhe mostrei foi um macro plano de uma paisagem de areia e depois li-lhe um poema do William Blake. Correu bem porque o Kevin não me expulsou do escritório. Trata-se de um poema que tenta provar que a beleza do universo está nas pequenas coisas. Foi a partir daí que a visão deste filme nasceu - queríamos que o filme tivesse a escala da formação do sol mas, ao mesmo tempo, mantivesse a intimidade de um sussurro entre amantes". E vamos ser justos, este espetáculo que é pensado para a miudagem tem a primeira cena de sexo entre super-heróis e mostra-nos um outro destes heróis gay e casado com um comum mortal...
Depois da conferência virtual, um dos super-heróis deuses, o humorista paquistanês Kumail Nanjiani, teve tempo para uma conversa-flash para Portugal. Ele é Kingo, um Eterno que nas horas livres é estrela de Bollywood, precisamente a melhor ideia do filme.
Sente que os recentes sucessos de filmes da Marvel são os responsáveis por estarem a salvar o parque das salas americanas?
Sou dos que ama a experiência de ir ao cinema... Estou muito feliz com estes filmes grandes que estão a salvar os cinemas. É espantoso este regresso das pessoas às salas. Tenho esperança que os filmes mais medianos e mesmo os mais pequenos também possam ter público, não pode ser apenas filmes de super-heróis.
Fala de filmes de outra escala, mas curiosamente após Amor de Improviso, de Michael Showalter, parece ter abandonado o cinema de autor e ter-se concentrado mais em comédias mainstream...
Aconteceu por acaso, gostava de fazer filmes de dimensão mais reduzida. O sucesso desse The Big Sick foi ótimo porque me permitiu fazer outro tipo de cinema. Depois de ter tentado de forma tão afincada ter oportunidades, de repente estavam a oferecer-me estes filmes gigantes... Talvez, durante uns tempos a minha prioridade tenha ido para o cinema mais comercial. Agora quero continuar a fazer filmes Marvel mas também regressar às coisas mais íntimas. Espero que a minha personagem de Eternals possa regressar. Amava encontrar um equilíbrio entre essas propostas.
O que o surpreendeu mais em todo este processo de fazer um filme com esta escala?
Quando a Chloé Zhao me pediu para correr como uma menina... Ela não queria que eu corresse de forma demasiado masculina. A personagem tinha de ter a sua própria assinatura no movimento e acabei por observar muitas atletas de patins em linha. Inspirei-me muito nas equipas femininas olímpicas. R.P.T.
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