Análises aos dois casos suspeitos de coronavírus são feitas ainda esta noite
Um homem de 44 anos e outro de 40 apresentam sintomas coincidentes com os do novo coronavírus. "Portugal não tem nesta fase nenhum caso de infeção", mas "foram hoje validados dois casos" suspeitos, declarou o secretário de Estado da Saúde, António Sales, durante uma conferência de imprensa realizada, esta terça-feira, na Direção-Geral da Saúde.
Embora com histórias diferentes foram ambos notificados na região de Lisboa e reencaminhados para o Hospital Curry Cabral (um dos três referenciados para receber estes casos). As análises aos dois homens serão feitas ainda esta noite, pela equipa do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge.
O doente de 44 anos vive na região da Grande Lisboa, apresenta "sintomatologia compatível com o novo coronavírus" e "uma ligação epidemiológica em função percurso dos últimos dias". Foi notificado através da linha de apoio, clarificou a Diretora-Geral da Saúde, Graça Freitas. Quanto ao segundo - do sexo masculino e com 40 anos - "é diferente. É contacto de outros casos fora do país, do grupo de cidadãos alemãs que adoeceu. Ele esteve com doentes fora do nosso país", acrescenta Graça Freitas. Estão ambos estáveis e não há nada, neste momento, que indique que uma destas pessoas já tenha desenvolvido a doença, até porque os sintomas do coronavírus (feche, tosse, dificuldade respiratória) são facilmente confundíveis com os da gripe.
Em Portugal, estes são o terceiro e quarto casos suspeitos de infeção pelo vírus que já matou mais de 400 pessoas. Na semana passada, um homem italiano de 62 anos colocou as autoridades de saúde em alerta, mas, após ser avaliado no Hospital de São João, no Porto, não foram detetados sinais coincidentes com os do novo coronavírus. Antes, um doente regressado de Wuhan esteve em observação e isolamento no Curry Cabral até as análises terem-se revelado negativas.
Sobre a hipótese de algum dos 20 cidadãos (18 portugueses e duas brasileiras), que chegaram a Portugal no domingo à noite vindos de Wuhan, aumentarem a lista de suspeitos pela pneumonia com origem na China, os porta-vozes das autoridades da saúde descansaram a população. Mesmo depois de Bruxelas ter confirmado, esta terça-feira, que um cidadão belga infetado viajou no mesmo avião que os repatriados portugueses. "O avião era muito bem compartimentado. Nós sabemos bem onde cada um viajava e, portanto, conseguimos controlar o nível de risco", garantiu a Diretora-Geral da Saúde.
As 20 pessoas em "isolamento profilático" voluntário no Hospital Pulido Valente e no Parque da Saúde de Lisboa continuam "assintomáticas" e "bem dispostas", avançou o secretário de Estado da Saúde, que reforçou a ideia apresentada pela ministra da Saúde, em conferência, esta segunda-feira, quando esta declarou que agora as preocupações passam por continuar a vigiar estes cidadãos e dar-lhes mais condições de conforto. Questionada sobre a periodicidade com que estas pessoas serão sujeitas a análises, Graça Freitas voltou a indicar que a DGS não tem um timing concreto definido. Há países que estão a proceder a estes teste com um intervalo de apenas 24 horas, outros de 72 e outros ainda quando detetam alguns dos sintomas. Portugal deverá seguir uma mistura de todas estas realidades, adequando o procedimento à medida que as autoridades de saúde considerarem conveniente. "Todos os países estão a ensaiar estas questões e vamos agir de acordo com as indicações do especialistas". No entanto, neste caso específico dos 20 cidadãos, as análises não serão repetidas antes das 72 horas.
Esta terça-feira, o Conselho Nacional de Saúde Pública reuniu-se com o objetivo das diferentes autoridades refletirem sobre a capacidade de resposta de cada entidade e "avaliar as medidas necessárias face à situação", segundo o secretário de Estado da Saúde. "Este encontro foi muito positivo, foram feitas algumas reflexões e levantadas questões", disse António Lacerda Sales.
A pneumonia emergiu na cidade chinesa de Wuhan há um mês e foi provocada por um novo coronavírus, anteriormente desconhecido da ciência. Sobre a origem do vírus, batizado assim devido à sua forma que faz lembrar uma coroa, também ainda não há certezas. Sabe-se apenas que o surto emergiu a partir de um mercado de venda de peixe fresco, marisco e outros animais vivos, incluindo espécies selvagens, como morcegos e cobras.
O último balanço, feito esta terça-feira, aponta para 427 mortos e mais de 20 mil pessoas infetadas. Além do território continental da China e das regiões chinesas de Macau e Hong Kong, há mais casos de infeção confirmados em 24 outros países, com as novas notificações na Rússia, Suécia e Espanha. A primeira vitima mortal fora da China foi anunciada este domingo, nas Filipinas.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou, na passada quinta-feira, uma situação de emergência de saúde pública de âmbito internacional (PHEIC, na sigla inglesa) por causa do surto do novo coronavírus na China.