Quando na quarta-feira Álvaro foi constituído arguido no âmbito da operação Rota Final as autoridades apreenderam-lhe o cartão de telemóvel para que seja sujeito a perícias. Foi mais uma situação em que o político do PSD ficou envolvido. Nesse momento, o ex-presidente da Câmara da Guarda estava constituído arguido noutro processo, também investigado pelo DIAP de Coimbra, em que já foi deduzida, a 30 de maio passado, a acusação por crimes de fraude na obtenção de subsídio e prevaricação. Em causa está a forma como foi obtido um financiamento para a Guarda Folia, evento que se realiza no Carnaval, em 2014..Além de Álvaro Amaro, segundo revela a SIC, que avançou com a notícia, são também acusados o atual presidente da Câmara da Guarda, Carlos Monteiro, o vereador da Cultura, Vítor Amaral, e duas técnicas municipais, Alexandra Isidro e Carla Morgado, esta última também presidente da cooperativa de teatro Aquilo. Segundo o MP, como a autarquia, através da empresa municipal de cultura, não se podia candidatar ao subsídio, os arguidos engendraram um plano para obter o financiamento de pouco mais de 50 mil euros, refere a SIC. Para tal, usaram a cooperativa de teatro como uma espécie de barriga de aluguer para a candidatura apresentada na Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro. O dinheiro obtido e a logística da organização permaneceu sob direção da Câmara..O MP pede a perda de mandato dos autarcas em funções e que as funcionárias sejam proibidas de exercer funções. À SIC, o atual presidente da autarquia afirmou que pondera requerer a abertura de instrução, para contestar a acusação e tentar evitar o julgamento..Esta quinta-feira, a Comissão Política Concelhia do PSD da Guarda disse esperar o "esclarecimento cabal" e "célere" dos processos judiciais que envolvem a autarquia e manifestou solidariedade ao ex-presidente Álvaro Amaro e ao atual, Carlos Chaves Monteiro. "Encaramos a presente situação com surpresa e como algo que obviamente não desejaríamos estar a viver", refere o líder da concelhia social-democrata, Tiago Gonçalves, em comunicado. .O PSD emitiu a nota em reação às notícias "vindas a público nos dias de ontem [quarta-feira] e de hoje sobre processos judiciais envolvendo a autarquia da Guarda". A concelhia do PSD repudia "qualquer tentativa de julgamento público antecipado, tendo sempre presente o princípio da presunção de inocência"..São assim conhecidos dois processo judiciais a envolver Álvaro Amaro desde que foi eleito, em 26 de maio, eurodeputado pelo PSD. Como ainda não tomou posse, o que só acontece a 2 de julho, não beneficia de imunidade parlamentar. O ex-presidente da Câmara da Guarda ainda não reagiu à sua constituição como arguido no processo Rota Final, em que é tido como um elemento central no esquema de corrupção e favorecimento que a PJ e o MP dizem existir para benefício próprio e da Transdev, a operadora de transportes públicos cujas empresas têm contratos, muitos por ajuste direto, com 17 das 18 câmaras alvo de buscas pela PJ..Além de Amaro, são também arguidos outros dois ex-autarcas do PSD: Francisco Lopes, de Lamego, e Hernâni Almeida, de Armamar. Este último disse à Lusa ter ficado surpreendido por ter sido constituído arguido e garantiu ter "a consciência plenamente tranquila". Hernâni Almeida afirmou não perceber porque foi envolvido neste processo, fazendo votos de que a verdade se esclareça. "Respeito a justiça, os tribunais e as investigações, acho que são positivas, mas agora vamos aguardar com serenidade que tudo se esclareça", frisou..Autarcas foram condecorados por Cavaco.Os três ex-autarcas do PSD foram todos condecorados pela Presidência da República, em 2014 e 2015, quando Cavaco Silva era chefe de Estado. Álvaro Amaro foi agraciado com o título de Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, em 2014 quando as cerimónias do 10 de Junho se realizaram na Guarda..No ano seguinte, o Dia de Portugal foi comemorado em Lamego e nessa altura Cavaco Silva agraciou Francisco Lopes com o título de Grande Oficial da Ordem do Infante D.Henrique, enquanto Hernâni Almeida mereceu o grau de Comendador da Ordem do Mérito..São os três agora suspeitos de formarem o elo de ligação entre a Transdev e as autarquias para a celebração de contratos de serviços de transporte escolar e também de carreiras de serviço público no concelho. "Esta investigação visa esclarecer os termos em que o Grupo Transdev obteve contratos e compensações financeiras com autarquias das zonas norte e centro do país", esclareceu ainda o DIAP de Coimbra. São também arguidos um funcionário da autarquia de Lamego e um administrador da Transdev. Há suspeitas de crimes de corrupção, participação económica em negócio, tráfico de influências, prevaricação e abuso de poder.