Sarina, Morgan e Antonio concordam: o mais difícil é o idioma. De resto, Portugal é um destino económico, a educação é de excelência e não há nada como a malta portuguesa, mestre nas boas-vindas. Acreditam que é exatamente por isso que o número de estudantes estrangeiros - estatuto que ocupam - tem aumentado nas universidades portuguesas. Só neste ano, subiu cerca de 40% face ao período homólogo. De acordo com dados do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (MCTES), já são cerca de 50 mil no total, quase mais 40 mil desde o início do milénio (12 717)..No Irão, a vida corria a um ritmo bem diferente, demasiado lento para as grandes ambições de Sarina, de 20 anos. Por isso, há cerca de um ano, mudou-se para Lisboa como estudante de Ciências da Comunicação da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da Universidade Nova. É a primeira vez que tem a oportunidade de ser aluna num outro país e também a primeira que viaja para Portugal. Sabia que queria sair do Irão, devido ao clima político nacional. E sabia que queria sair acompanhada da irmã, de 28 anos. "Mas percebemos que não conseguiríamos rumar a esta aventura sem a nossa família, por isso partimos todos juntos" - Sarina, a irmã e os pais..Escolher o destino foi relativamente fácil e nem exigiu segundas considerações: "Entre os vários países da União Europeia (UE), Portugal é bastante económico." Até as rendas das casas - uma dor de cabeça para os portugueses - considera "baratas". Apesar de o preço da habitação ter aumentado perto de 40%, entre 2013 e 2018, enquanto na UE o aumento médio não tem chegado aos 20%. Acima de tudo, "há muitas oportunidades de investimento aqui", diz. Refere como exemplo o próprio pai, que montou um restaurante tradicional iraniano na Penha de França, em Lisboa..Educação "cara", mas de qualidade.Não fosse o preço a pagar pelas propinas académicas e este país seria, para Sarina, o altar do mundo. A educação "é cara", diz a jovem iraniana, que pagará por cada ano de licenciatura 3500 euros. "UmpreçoincomparávelaodeoutrospaísescomoaAlemanha,ondetenhoamigosaestudarquasedegraça.Eaquinãonosdãobolsas.".Para um estudante estrangeiro, a propina pode chegar aos sete mil euros por ano, dependendo do curso e da instituição. De acordo com o MCTES, as instituições de ensino superior têm autonomia para definir estes valores. E, "excetuando os alunos que se encontrem em situação de emergência humanitária", estes "não beneficiam de ação social direta, pelo que não podem receber bolsas de estudo para prosseguimento de estudos"..Contudo, há quem considere que é o preço a pagar por uma "educação de qualidade", como a que existe em Portugal. É o caso de Morgan, 23 anos, sul-africano. Já lá vão dois anos desde que chegou para estudar Engenharia Zootécnica na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), que sempre ouviu ser "a melhor do mundo" na área. Apaixonado pelo país, onde já se "sente em casa" e que elogia como "o melhor lugar para se estar, académica e socialmente", confessa já não ter intenções de sair. "Também planeio fazer aqui um mestrado, dependendo dos meus fundos. Quero ficar cá e espero encontrar emprego na minha área.".O trampolim para o mundo.À mesa da casa de Antonio Coppola, italiano, a palavra "Portugal" surgia sempre atiçada por um tom de fascínio. "Ouvia falar deste país como um sítio maravilhoso para se viver", recorda. Aos 22 anos, aterra neste território que mais lhe parecia uma lenda urbana, como estudante de mestrado em Engenharia Mecânica na Universidade do Minho, para comprovar os ditados..Itália é o quinto país de origem de mais estudantes estrangeiros (perto de três mil) em Portugal, sendo o primeiro o Brasil (16 mil), seguido de Angola (quatro mil), Espanha e Cabo Verde (ambos com três mil). "Sinto que estou num país seguro e rico em história e tradição, não muito dispendioso, cheio de oportunidades para os jovens. Algo com que em Itália, especialmente no sul, de onde venho, apenas podemos sonhar.".E está convencido de que será uma mais-valia no seu currículo, para daqui saltar para o resto do mundo. "Posso vir a ficar cá a trabalhar, mas acho mais provável emigrar para o Brasil, porque é um país que está a crescer na minha área", justifica..Também a jovem Sarina pondera partir para outras bandas. Tem uma certeza: não quer voltar ao Irão nem ficar em Portugal. "Se me perguntares agora, o que pretendo é terminar a licenciatura e fazer um mestrado num outro país", confessa. Prefere estudar e trabalhar num local onde o inglês seja a língua materna. "Falar bem português é muito difícil.".Afirmação nacional.Ficando ou não para segundas núpcias, Portugal é local de passagem para milhares de estudantes. Nos últimos quatro anos, aumentaram em 48%, fruto da validação do estatuto do estudante internacional, em 2014, a par do programa Estudar e Investigar em Portugal. Atualmente, já representam à volta de 13% da totalidade de estudantes no ensino superior português..Segundo a tutela, os dados "confirmam a afirmação internacional de Portugal enquanto destino de estudo, especialmente no contexto lusófono mas também junto de outras nacionalidades"..O Ministério do Ensino Superior sublinha ainda o aumento de candidatos às universidades e politécnicos do contingente de emigrantes em 66%, entre 2018 (324) e 2019 (538).