Receber um sms do namorado dos tempos da universidade a dizer "foge" e reagir de imediato, ou seja, pegar no carro, ir para o aeroporto, apanhar o primeiro avião para Nova Iorque e encontrar-se com ele. Uma loucura que acontece em Run, a série da HBO com produção de Vicky Jones e Phoebe Waller-Bridge, cúmplices de Fleabag, um dos grandes fenómenos da ficção televisiva nos últimos anos. Merrit Wever e Domnhall Gleeson são os protagonistas desta mistura de drama, thriller e, sobretudo, comédia sexual dos novos tempos..O DN já viu os primeiros episódios desta série que nos faz pensar sobre o fascínio que podemos ter sobre os romances liceais e universitários que ficaram pelo caminho. Vicky Jones imaginou um improvável casal que se encontra numa fase das suas vidas de trintões após um pacto da juventude que permite um reencontro. Gleeson é um bem-sucedido speaker de autoestima, enquanto Merrit é uma dona de casa algo frustrada e desapaixonada do seu marido. A ideia é ambos encontrarem-se num comboio a partir de Nova Iorque para Chicago..Uma viagem pela América para reacenderem uma química sexual que nunca esfriou, mesmo quando para ele é difícil esconder o seu hábito alcoólico e, para ela, abdicar de repente do filho. Uma espécie de "estranhos num comboio" à Hitchcock mas com reflexão desencantada de uma geração. À chegada a Chicago, logo no segundo episódio, o tom da série muda e o humor fica mais sofisticado.."É irónico a série chegar nesta altura, uma série chamada Run sobre pessoas numa viagem excitante! Por outro lado, pode ser bom por conseguir fazer com que imaginemos uma hipótese de largar tudo e fugir!", começa por dizer Domhnall Gleeson, fresco dos deveres de vilanagem de Star Wars: A Ascensão de Skywalker, ao telefone de Dublin, onde está confinado no seu apartamento. "Claro que Run tem a marca das suas criadoras, a Phoebe Waller-Bridge e a Vicky Jones. Ambas trabalham realmente como uma equipa, são inseparáveis. Pude mesmo testemunhar que são como aquelas amigas bastante cómicas cuja relação de amizade vem de anos e anos. A relação de trabalho entre as duas é muito dinâmica. Meu Deus! O Fleabag era absolutamente espantoso! A diferença aqui é que as personagens são mais complicadas, são pessoas que fogem dos seus problemas e fingem que tudo está bem. De alguma forma, Run é bem diferente de Fleabag, por muito que haja coisas em comum", prossegue com o seu sotaque cerrado irlandês..Neste telefonema feito na semana passada, Domhnall referiu igualmente que sente afinidades com a nostalgia romântica da sua personagem e que, se numa circunstância normal tivesse o impulso de fugir de tudo, escolheria talvez o Japão: "Quando era mais jovem estive no Japão e esse foi um país que me marcou! Não me importava também de me perder pelo interior dos EUA numa viagem de comboio - já o fiz quando era igualmente puto... Mas para fugir talvez apostasse na Islândia ou algures onde nunca fui. Creio que se quisermos desaparecer o melhor é locais que não conhecemos. Estar aqui preso em casa torna muito difícil pensar em locais para escapar. Se agora fosse para o Google Maps escolher sítios para fugir creio que ficava maluco!".Numa altura em que é dos atores com maior procura em Hollywood, Domhnall Gleeson esteve recentemente nos nossos ecrãs como amante sanguinário de Elizabeth Moss nesse fracasso da Warner chamado The Kitchen - Rainhas do Crime, mas foi em Brooklyn, de John Crawley, e Ex-Machina, de Alex Garland, que mais brilhou. Um ator com uma secura fria rigorosa e uma capacidade de composição capaz de muitos registos, bem mais versátil do que o pai, Brendan Gleeson. Como não poderia deixar de ser, está também a ser afetado profissionalmente pelo vírus: Peter Rabbit - Coelho à Solta, em que é o protagonista ao lado de Rose Byrne, estaria a estrear-se agora....Antes de uma voz vinda das relações de imprensa da HBO cortar a chamada, o ator irlandês conta como tem sido o seu isolamento: "Isto da quarentena está a deixar-me muito menos produtivo do que alguma vez pensei. Tenho estado em leituras, mas pensei que conseguisse ler muito mais do que estou a fazê-lo. Enfim, passo a vida a ver porcaria na net. Pensei também que jogar videojogos pudesse ajudar, mas nem isso... Por outro lado, estou a ligar mais vezes para os meus pais e para todos aqueles que amo. A maioria do meu tempo passo em trabalho - estou a ler uma peça que espero vir a fazer - e a fazer rigorosamente nada! Tenho mais sorte do que muitos outros atores, porque quando isto acabar há trabalho à minha espera. Comparado com outras pessoas, estou numa situação privilegiada.".Há ainda tempo para lhe perguntar se sempre vai cumprir o que prometeu há uns anos, isto é, a estreia como realizador: "Boa pergunta! Sei lá, está difícil. Ainda não arrisquei realizar uma longa porque, na verdade, tenho tido muito trabalho como ator e estou a adorar, mas quero muito realizar. Por outro lado, todos dizem isso, não é? A verdade é que ainda vai demorar. Neste momento continuo a divertir-me muito como ator, é o que quero mais fazer. Estou aqui em casa e só penso no momento em que vou estar a contracenar com atores que adoro na série que estou a preparar com o meu mano."