A entrega de mais de 12 mil assinaturas ontem no Tribunal Constitucional foi rápida. Após estes primeiros minutos do resto da vida do Aliança, Pedro Santana Lopes saiu para o pátio do Palácio Ratton com umas notas na mão. "Escrevi-as hoje", garantiu aos jornalistas que o esperavam. Mas rapidamente as meteu no bolso. Estava como peixe na água perante as câmaras e gravadores. Falou com entusiasmo de um "um partido de causas", muitas sociais, que quer entrar no campeonato dos maiores e já em todos os atos eleitorais.."O Aliança nasce para concorrer a todos os atos eleitorais e não para ter um dígito, nasce para ganhar um lugar entre os maiores partidos portugueses, isso exige muito trabalho, falar muito com as pessoas", disse Santana e insistiu: "Agora é trabalhar, trabalhar, trabalhar." Ele vai andar na estrada e tem muita experiência em campanhas eleitorais. Foram sobretudo as corridas em que entrou para as câmaras da Figueira da Foz e de Lisboa que lhe dão agora lastro para este novo desafio..Estava calor, mas Santana Lopes aguentou mais de dez minutos a responder às perguntas dos jornalistas. E não voltou a pegar nas notas que tinha no bolso. O tom do discurso foi moderado mas firme. Disse que o partido nasce para criar "bom ambiente" em Portugal, mas também para ser exigente com todos os órgãos de soberania, incluindo com o Presidente da República. "O senhor Presidente da República pode e deve usar toda a popularidade que conseguiu para mudar a sociedade portuguesa, para fazer reformas que há muito tempo são necessárias - reformas do sistema eleitoral, da justiça, da produtividade, mas também as questões das pessoas.".O antigo primeiro-ministro garantiu que não dá o peito às balas para agradar aos "arautos" do sistema, mas também não é dos que andarão sempre a falar mal de tudo. O que lhe interessa mesmo, sublinha, são os problemas concretos das pessoas. E não falou em abstrato. Pegou em casos que incomodam, como as condições dos detidos nas cadeias e os das mães de crianças com problemas oncológicos. Assim fez apelo ao seu passado recente na Santa Casa da Misericórdia de Lisboa..É com estas bandeiras, a somar à defesa da redução da carga fiscal, que vai andar pelo país a bater-se para atingir dois dígitos nas eleições. Se não os tiver é uma derrota? "Não, mas vamos lutar pelos dois dígitos com humildade democrática", garantiu Santana Lopes. Apontou aos abstencionistas e deu como exemplo os jovens que o ajudaram na fase de recolha de assinaturas como os que "nunca participaram na política e agora lá querem estar"..Não disse uma única palavra sobre Rui Rio nem deixou a "tristeza" de ter deixado o PSD bater à porta. Pedro Santana Lopes preferiu manifestar sem receio a sua proximidade com a líder do CDS, que não descartou entendimento futuro com o Aliança. Assunção Cristas entende que o novo partido pode somar mais à direita contra a esquerda. "A líder do CDS tem feito análises bem lúcidas." Até porque, disse, "esta política da frente esquerda está a prejudicar o país" com o "excesso de cativações" de verbas que estão a "ultrapassar o limite"..Contra a gratuidade para todos.Também foi sem medo que rejeitou a ideia de um Estado que garante tudo de graça a todos independentemente dos rendimentos. E apontou o exemplo dos manuais escolares até ao 6.º ano de escolaridade para recordar que, quando foi líder do governo, tentou criar taxas moderadoras diferenciadas e que "o Presidente Sampaio foi contra". Jorge Sampaio foi o Chefe do Estado que em 2004 dissolveu o Parlamento e que ditou o fim do executivo de Pedro Santana Lopes..O tempo para preparar as europeias começou ontem também. Pedro Santana Lopes admitiu que já pensou nisso, mas ainda não tem "certezas". Ou seja, não quis revelar o nome de quem virá a ser o cabeça-de-lista do partido às primeiras eleições do próximo ano. O de Rui Moreira, de quem se fala, chutou para canto. "É um excelente presidente da Câmara do Porto. Somos amigos há muitos anos, mas sobre isso não conversámos..Nestes primeiros passos do Aliança estiveram ao seu lado Margarida Netto, antiga deputada do CDS, Carlos Pinto, antigo autarca da Câmara da Covilhã, Rosário Águas, que foi secretária de Estado da Habitação e se desfiliou há mês e meio do PSD, e Adriana Aguiar-Branco, que foi deputada. "Esta não é uma força para um homem só", garantiu.Apesar de estar no Tribunal Constitucional a formalizar a constituição do Aliança com figuras que saíram de outras forças, frisou que não precisa de ir buscar militantes a outros partidos. "Se isso acontecesse, eram sempre os mesmos. Se mostrasse as mensagens que recebi, sobretudo no LinkedIn, de uma maioria que nunca participou na vida política...".O Aliança vai agora arrancar com a comissão instaladora que vai preparar o congresso fundador para "dezembro ou janeiro". Santana Lopes reitera que será um partido que não apostará nas sedes físicas, apesar de ir ter uma em Lisboa e outra no Porto, e que a sua base será mais digital. O perfil é de "low-cost, high-profile, desmaterializado e paper-free"..Aos que ainda duvidam de que tenha "entusiasmo e força" para impulsionar o novo partido, dispara: "Falta de dignidade é desistir!"