"Acho estranho que isto surja no dia em que há uma greve dos médicos"

No dia em que foi relevada uma mega operação da PJ que incrimina 12 profissionais de saúde, Miguel Guimarães pede que esta suspeita não seja usada contra os médicos em geral.
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O bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, alerta: "não se pode confundir uma árvore com a floresta". Refere-se à "Operação Antídoto" da Polícia Judiciária, que motivou a detenção, esta terça-feira, de 12 profissionais de saúde por suspeitas de prática de crimes de corrupção, burla qualificada, falsificação de documentos e associação criminosa. "Este episódio abrange uma minoria. Não pode servir para manchar todos os outros", disse o bastonário, em entrevista à SIC Notícias.

Miguel Guimarães mostrou-se ainda desconfiado sobre a escolha da data para as detenções dos envolvidos na operação, que coincidiu com o primeiro de dois dias de greve dos médico e o primeiro de quatro da paralisação dos enfermeiros. "Eu acho estranho que isto surja no dia em que há uma greve dos médicos. Não sei a quem é que isto faz feliz", apontou o bastonário.

"Os médicos estão numa jornada de lutas e eu só posso deixar a minha solidariedade para com os profissionais de saúde. São eles que sofrem as consequências do estado atual da saúde".

O médico voltou a referir que o acesso ao Serviço Nacional de Saúde (SNS) está a ser colocado em causa. E que, ao contrário daquilo que o ministro das Finanças, Mário Centeno, tem vindo a público dizer ultimamente, o sistema tem falta de profissionais de saúde e de financiamento. "Até podem existir mais médicos, mas a força de trabalho é menor". Isto acontece por causa dos descansos compensatórios, da passagem das 40 horas semanais para as 35 horas e pelo fim do regime de dedicação exclusiva, terminado em 2009. O que faz com que os médicos prefiram muitas vezes trabalhar noutros sítios em vez de acumularem horas extras no SNS.

"Os médicos estão a lutar pelos direitos dos doentes"

Sobre a greve dos médicos, Miguel Guimarães fez questão de manifestar o seu apoio aos médicos que estão a lutar pela dignificação do SNS e da carreira médica. Considera que também os utentes vão entender e apoiar os clínicos, uma vez que a lista de exigências é também ela dedicada aos pacientes. "Os médicos estão a lutar pelos direitos dos utentes".

Pedem mais médicos de família para todos os portugueses, a redução da lista de utentes, mais tempo de consultas, a diminuição do serviço de urgência das 18 para as 12 horas, dedicação exclusiva ao Serviço Nacional de Saúde e o descongelamento das carreiras.

De acordo com as informações divulgadas pelo Sindicato Independente dos Médicos, responsável pelo primeiro dia de parelisação, 80% dos clínicos fizeram greve na globalidade e nos cuidados primários. Nos blocos operatórios, a adesão rondou os 85% e nas consultas externas hospitalares os 75%. O que não colocou em causa os serviços mínimos, obrigatórios por lei, que incluem urgências, unidades de cuidados intensivos e alguns tratamentos, como quimioterapia.

A greve, que coincide com a paralisação dos enfermeiros, continua esta quarta-feira. O segundo dia foi convocado pela Federação Nacional dos Médicos, que vai ainda promover uma concentração à porta do ministério da Saúde.

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