A viver com covid-19 há seis meses. "Não sei como ficar melhor"

Os sintomas de Monique Jackson começaram em março e persistem. Os médicos acreditam que pode pertencer ao grupo raro, mas existente, de doentes de longa duração com covid-19. Para amenizar os efeitos, a artista começou um diário no Instagram.
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O relato é publicado na BBC e impressiona: seis meses depois ter começado a sentir sintomas de covid-19, Monique Jackson continua doente. Tem mantido um diário gráfico no Instagram sobre os seus sintomas e tentativas de tratamento.

É uma das muitas pessoas que têm sintomas persistentes de covid-19 e suspeita-se que faz parte do grupo de doentes de longa duração, algo que só agora começa a ser estudado pelos médicos. Por que razão a doença não abandona algumas pessoas, muitas quais apresentavam sintomas ligeiros no início?

Monique Jackson encaixa nesse perfil. Ficou doente em março. Tinha sintomas leves da doença - os mesmos que ainda persistem. Nas primeiras duas semanas, dizia sentir-se demasiado cansada para sair da cama e, apesar de não ter podido medir a temperatura (os termómetros esgotaram-se por essa altura), acredita que teve febre. Também não foi testada à covid-19 na altura, uma vez que os testes eram tão poucos no Reino Unido que apenas eram usados em casos extremamente graves. À segunda semana, sentia falta de ar. Depois, dores no peito. Seguiram-se as dores de estômago, que só muito mais tarde no estudo do SARS-CoV-2 foram acrescentadas à lista de sintomas da doença.

Nas semanas que se seguiram, sentiu dores no corpo e comichões. Os médicos perguntavam-lhe: "Como está a sua saúde mental?" Diz que nunca lhe disseram "tem covid, mas não sabemos tratar", mas não quer criticar o serviço público de saúde britânico. Garante que fizeram o possível.

Nove semanas passaram até que foi testada pela primeira vez. Conta que vivia aterrorizada com a ideia de contagiar outras pessoas. No Reino Unido, as regras são para se mantenha o isolamento durante sete dias ou até os sintomas se manifestarem. Mas no caso de Monique Jackson, ainda lá estão.

Hiperativa, segundo a própria, pratica muay-thai e jiu-jitsu, e usa a bicicleta para se deslocar para o trabalho numa galeria de arte no centro de Londres. Garante que hoje, porém, precisa de arranjar energia para descer as escadas e lavar os dentes.

Num mundo à parte

Fechada em casa, Monique Jackson tinha pouco contacto com os companheiros de casa. Evitavam o contacto - cada um tinha a sua prateleira no frigorífico, o seu local para o abrir e depois faziam as refeições no quarto, sozinhos.

Finalmente, fez o teste. Um amigo ofereceu-se para a levar a um drive-in onde foi recebida por militares em vez de enfermeiros e outros profissionais de saúde. O resultado foi negativo mas, como explica ao jornal Hackney Citizen, os médicos acreditam que o vírus da covid-19 passou por ela. "Os sintomas podem ser neurológicos mas não menos reais", dizem-lhe.

Em julho, uma vez que os sintomas persistiam, voltou para casa da família e foi nessa altura que começou a usar o Instagram para documentar a sua experiência com uma banda desenhada em que explica os sintomas e histórias que lhe vão acontecendo - a primeira das quais explica como ainda se encontra doente ao fim de quase seis meses.

Monique Jackson faz parte de um grupo minoritário de pessoas que são consideradas doentes de covid-19 de longa duração. Pessoas que podem ter testado positivo para o novo coronavírus, ou não, mas que convivem com os sintomas durante meses. Ou ainda pessoas que apresentam todos os sintomas clínicos de coronavírus, mas cujos testes são negativos. O tempo de vida da pandemia ainda não permite ter respostas para estes casos.

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