Em 2004, um senador estadual do Illinois e candidato a senador dos EUA, que aos 42 anos estava a chamar a atenção dentro do Partido Democrata, foi o escolhido para realizar o discurso-chave na convenção que se realizou em Filadélfia. Chamava-se Barack Obama e aquele discurso teve tanto sucesso que, quatro anos depois, seria nomeado candidato democrata à presidência e conquistaria dois mandatos na Casa Branca..Em 2020, uma das congressistas que é considerada uma estrela em ascensão dentro do partido, Alexandria Ocasio-Cortez (de 30 anos), só teve direito a cerca de 90 segundos de tempo de antena, com os holofotes colocados principalmente na velha guarda democrata..Uma velha guarda que até pode atrair votos entre os jovens - Bernie Sanders saiu-se bem nessas faixas etárias nas primárias e os millennials (entre os 24 e os 39 anos) e a geração Z (dos 18 aos 23) cresceram com os Obama na presidência (e tanto Barack como Michelle tiveram discursos em horário nobre) -, mas não lhes mostra como pode ser o partido no futuro..Do outro lado da barricada política, o Partido Republicano fez uma convenção centrada em Donald Trump, mas teve tempo para mostrar algumas das suas estrelas em ascensão - não só deu tempo de antena aos filhos do presidente, Donald Trump Jr. e Ivanka, como pôs em palco vários jovens congressistas e não só. E mostrou o que poderá vir aí em 2024 e depois disso..Voto jovem.Nas eleições presidenciais de 2016, 31.3 milhões de millennials (que tinham então até 35 anos) e 2,7 milhões de representantes da geração Z foram votar, segundo um estudo do Centro de Pesquisa Pew. Junto com outros 35 milhões de membros da geração X (entre os 36 e os 51 anos em 2016), ultrapassarem em número as gerações mais velhas pela primeira vez. Oito anos antes, os millennials que votaram foram pouco mais de 18 milhões. Mas, em 2020, estima-se que ultrapassem em número os eleitores da geração X a ir às urnas..E depois há a geração Z. Uma sondagem da Knight Foundation a cerca de quatro mil estudantes universitários revelou que 71% dizem ter a "certeza absoluta" de que vão votar nas próximas eleições, sendo entre as alunas do sexo feminino que a certeza é maior. Em 2016, 49% dos eleitores entre os 18 e os 29 anos diziam que iriam "de certeza" votar, tendo a participação sido de 43% nessa faixa etária..Depois há os dados das eleições intercalares de 2018, em que a participação eleitoral entre os 18 e os 29 anos foi de 33%. Quatro anos antes, nas intercalares de 2014, tinha sido de 16%. Foi um aumento de 106%, esperando-se que possa acontecer o mesmo agora em 2020 - apesar das dificuldades que a pandemia trouxe e os problemas que muitos admitem que podem ter para votar..Apesar de a geração mais jovem tender para a esquerda, identifica-se mais como liberal do que propriamente como democrata, sendo que também os jovens conservadores podem não se identificar com o Partido Republicano. Na prática, não acreditam que os partidos possam ajudar a passar as suas mensagens e podem ser atraídos para um ou outro lado..Outras sondagens apontam para uma vantagem de Biden por mais de 20 pontos percentuais entre os eleitores mais jovens, apesar de os níveis de rejeição ao candidato democrata serem também elevados nessa geração. Os jovens vão votar Biden porque a rejeição a Trump é maior, mas sem se identificarem completamente com o candidato, podem na hora de votar - e se houver dificuldades para o fazer por causa da pandemia - decidir não o fazer..Em 2016, a democrata Hillary Clinton venceu entre o eleitorado jovem, mas Trump ainda assim conquistou um terço dos votos neste segmento (46% entre os jovens caucasianos do sexo masculino), mais do que as sondagens indicavam..Convenção democrata."As empresas que vendem marcas sabem que o melhor investimento é no marketing direcionado aos mais jovens - porque uma vez que eles se agarrem aos produtos podemos manter a sua lealdade durante anos. Os democratas precisam de aprender isto também. Na política americana atual, a idade não é um número. Há uma grande e material diferença entre os jovens e os mais velhos que tem uma grande importância política", escreveu o The Washington Post..Além de vender o candidato escolhido, as convenções deviam servir para mostrar os rostos do futuro do partido e ajudar a manter essa lealdade dos eleitores. Mas, dentro do Partido Democrata, não houve alguém que se destacasse nesse sentido, com o discurso-chave a ser proferido não por uma pessoa, mas por 17. A montagem inteligente de vídeos caseiros mostrou a variedade que existe dentro do partido, mas que deixou pouco espaço para que uma pessoa ficasse na memória - como Obama em 2004..Nesse aspeto, tiveram mais impacto os cerca de 90 segundos de Alexandria Ocasio-Cortez. No curto espaço de tempo, conseguiu apresentar a agenda da ala mais à esquerda do partido, associada a Bernie Sanders. A congressista por Nova Iorque falou no espaço de tempo alocado aos delegados para indicarem o seu apoio a um candidato e AOC, como é conhecida, foi o segundo apoio declarado a Sanders que oficialmente ainda estava na corrida. O apoio causou surpresa nas redes sociais, com Ocasio-Cortez a ter de reforçar depois que ia votar em Biden nas presidenciais..O risco da "extrema-esquerda" tem sido usado por Trump contra Biden, pelo que os democratas podem não ter querido mostrar essa parte do partido na sua convenção, procurando atrair um eleitorado conservador que está descontente com o presidente. Daí não terem dado tempo de antena a AOC, optando por apostar nos rostos do passado, como o ex-presidente Bill Clinton, os antigos candidatos Hillary Clinton ou John Kerry, e até em intervenientes republicanos, como o antigo secretário de Estado Colin Powell..Mas, para os mais jovens, esses nomes podem não dizer nada. Biden, que se for eleito terá 78 anos quando tomar posse, conta com a sua candidata a vice-presidente, Kamala Harris, que tem 55 anos, para atrair o voto dos mais jovens. Ele é mais popular entre os eleitores com menos de 35 anos do que Biden - 62% veem-na de forma favorável, frente a 60% que dizem o mesmo do candidato a presidente, segundo uma sondagem Reuters/Ipsos..Ela é o único rosto que sai da convenção democrata para 2024 - mesmo com uma vitória de Biden, que já disse que a sua candidatura seria de transição, o que muitos consideram um sinal de que só ficaria um mandato na Casa Branca..Convenção republicana.Ao contrário dos democratas, os republicanos apresentaram muitas das suas estrelas em ascensão para a corrida a 2024 - desde o próprio vice-presidente Mike Pence à antiga embaixadora da ONU Nikky Haley Person e ao único afro-americano republicano no Senado, Tim Scott. Os seus discursos foram apontados como audições para o cargo de candidato por alguns media norte-americanos..Mas Trump, que fez 74 anos em junho, deu também voz às estrelas da geração Z ou dos millennials. No palco da convenção esteve a congressista Elise Stefanik, de 36 anos, que em 2014 foi a mais jovem mulher eleita para o Congresso. Esteve também Madison Cawthorn, candidato a um lugar no Congresso pela Carolina do Norte. Tem apenas 25 anos e ficou paralisado da cintura para baixo num acidente de viação, tendo surgido em palco com a cadeira de rodas - levantando-se com a ajuda de outras duas pessoas para finalizar o discurso..Daniel Cameron, o procurador-geral do Kentucky, um afro-americano de 34 anos, também falou para defender a candidatura de Trump e atacar Biden - que causou polémica quando alegou que os afro-americanos não o eram se ainda estavam a decidir entre votar nele ou no presidente. "Eu sou negro. Não somos todos iguais. Não tenho correntes. A minha mente é só minha. E não pode dizer-me como votar por causa da cor da minha pele", disse na convenção, dirigindo-se diretamente a Biden..E depois há todos aqueles em redor de Trump, como a porta-voz da Casa Branca Kayleigh McEnany, de 32 anos, que contou a história da luta pessoal da sua família contra o cancro da mama e como fez uma dupla mastectomia preventiva, contando com o apoio do presidente..E há ainda os filhos do presidente - só o mais novo, Barron, de 14 anos, não falou. Por enquanto, Mike Pence está nas sondagens 14 pontos percentuais à frente de Donald Trump Jr. - 31% dos inquiridos colocaram o vice-presidente como a sua preferência numa eventual candidatura em 2024, frente a 17% que escolheram o filho de Trump, que tem o mesmo estilo de discurso que o pai. Ivanka, que apresentou o pai antes do seu discurso de aceitação da nomeação republicana, surge com 3% na sondagem.Para atrair os jovens, em tempos de pandemia e quando o contacto com as grandes multidões é mais complicado, a campanha de Trump tem apostado fortemente na publicidade nas redes sociais (como o Instagram). No final de julho, o site Politico escrevia que quase metade dos jovens eleitores democratas diziam ter visto anúncios digitais a Trump, contra um em cada que dizia ter visto os de Biden. E 40% diziam não ter recebido nenhuma forma de anúncio do político democrata.