O melhor filme de super-heróis dos últimos tempos. Dizer isto numa altura em que é raro um filme da Marvel ou DC ser decente não é o melhor dos elogios, nem por sombras, mas este Homem-Aranha - Longe de Casa, de Jon Watts, é uma excelente proposta de entretenimento, o regresso daquela sensação de estarmos a ver um legítimo "filme de verão"..Nesta sequela de Homem-Aranha - Regresso a Casa (2017), temos o mesmo cineasta e argumentistas, a mesma frescura desta nova encarnação em sintonia com o Marvel Cinematic Universe (é assim que se chama oficialmente toda a ligação entre filmes da Marvel, independentemente de este ser da Sony e não da Disney), mas também uma profundidade de comic book mais autêntica e irreverente..Desta vez, encontramos o jovem Homem-Aranha prestes a partir para umas férias escolares na companhia dos seus colegas logo a seguir aos últimos acontecimentos de Avengers: Endgame. Um mundo já sem Homem de Ferro e onde Peter Parker ganha poderes (materializados através de uns óculos) dados por Tony Stark e a sua tecnologia. Todavia, mesmo em férias, (o) Homem-Aranha é chamado, desta vez para se aliar a Mysterio (novo super-herói interpretado com galhardia por Jake Gyllenhaal), vindo de uma outra dimensão terrestre para dar uma coça nos Elementals, gigantes vilões de ar, vento, terra e fogo, prontos a destruir cidades como Londres ou Veneza. Claro que nada é o que parece e que em cada terço do filme há uma daquelas reviravoltas que nem os fãs mais "totós" deste franchise estavam à espera..Aliás, o tema da história é precisamente a ilusão e, nesse sentido, o filme de Watts é uma espécie de experiência imersiva num núcleo da mais complexa poesia dos livros de banda desenhada e da alma do próprio Spider-Man. Afinal, o que é real? Afinal, a destruição neste tipo de espetáculos merece um jogo de perceções quase em sintonia entre o espectador e os heróis. Escusado será dizer que nenhum filme da Marvel alguma vez ousou ir por aí, mesmo quando consegue ser divertidamente tolo e leve em todo o processo. Há uma sequência em que o nosso herói é atacado por versões ilusórias de si próprio. É esse momento em Spider-Man: Far from Home que se torna no mote conceptual de uma ideia de reflexão do próprio conceito daquilo que se entende por "filme de super-herói"..Filmado como se fosse um prolongamento direto do derradeiro Vingadores, esta teoria da ilusão importa ainda ser vista num ecrã de IMAX em 3D, sobretudo porque a coreografia exuberante das cenas de ação foram pensadas para essa grandiosidade e porque a câmara de Watts é a de um cineasta que dá lógica, coração e ritmo a toda essa conjugação de efeitos visuais com a vertigem do simulacro da BD. Desta vez, acertou-se em cheio. Como bónus, o romance entre Peter Parker (perfeito Tom Holland) e a sua colega de turma, interpretada com raça por Zendaya, é fofo sem ser artificial..Estamos na presença de um blockbuster quase perfeito para quem não é fã de filmes de super-heróis e também para quem é. Convém é ficar até depois dos créditos para surpresas e um twist bem esgalhado..**** Muito bom