O que se passou, realmente, ainda ninguém percebeu. O facto é que, na semana passada, foi o PSD, partido de Carlos Moedas, a contribuir na Assembleia Municipal, pela abstenção, para o chumbo de uma proposta vinda do Executivo com o contrato de mandato da Lisboa Ocidental SRU prevendo 17 milhões de euros para a organização, em agosto do próximo ano, da Jornada Mundial da Juventude, (JMJLisboa2023, evento católico que trará à capital portuguesa o Papa Francisco bem como, segundo se espera, mais de um milhão de visitantes do mundo inteiro)..Ontem, sem grandes explicações, o PSD mudou de posição na Assembleia Municipal e voltou a alinhar-se com o "seu" presidente da câmara, aprovando agora as propostas. Moedas levou-as de novo à Assembleia Municipal e os votos a favor do PSD, MPT, PPM, Aliança e CDS-PP (a coligação no poder em Lisboa), conjugados com a abstenção do PS, PAN e IL, viabilizaram-na. BE, Livre, PEV, PCP, Chega, deputados independentes eleitos pela coligação PS/Livre e deputado do PS, Rui Paulo Figueiredo, votaram contra..Antes da votação, a concelhia de Lisboa do Bloco de Esquerda tinha manifestado preocupação com a organização da JMJLisboa2023, defendendo que os contratos públicos têm de ser "escrupulosamente cumpridos", para reduzir o risco de corrupção. "Estamos a um ano do maior evento que já teve lugar em Portugal e subsistem dúvidas sobre o papel das várias entidades, assim como o investimento total no evento", afirmou aquela estrutura bloquista, em comunicado..O partido entregou um conjunto de requerimentos ao Ministério das Infraestruturas e da Habitação e às câmaras de Lisboa e de Loures, colocando seis questões relativas à preparação do evento, inclusive que contratos serão utilizados e que entidade é responsável por cada contrato, qual o seu estado e qual o seu valor. Reconhecendo a importância da JMJLisboa2023, o BE contestou as declarações públicas de responsáveis políticos a defenderem um regime de excecionalidade para ultrapassar os vistos do Tribunal de Contas previstos na lei, afirmando que tal "seria inaceitável", por diminuir a transparência do uso dos dinheiros públicos e por aumentar o risco de corrupção..Citaçãocitacao"Ninguém fica sem um pelouro que não existe e que nunca lhe foi dado, portanto não é possível retirar aquilo que nunca lhe foi dado. Não existe o pelouro da Jornada Mundial da Juventude, nunca existiu, não existirá.".Entretanto, há alguns dias, causou espanto a notícia, avançada pela Lusa, segundo a qual Moedas delegara no seu vice-presidente, Filipe Anacoreta Correia (CDS-PP) as "competências de coordenação geral de todas as atividades municipais destinadas à organização e realização" da JMJLisboa2023. Ora essa competência estava atribuída a Laurinda Alves (independente)..Ontem, na reunião da Assembleia Municipal, Laurinda Alves assegurou que foi a seu pedido que foi alterada a delegação dessa competência no Executivo municipal, acrescentando mesmo que "não existe o pelouro da Jornada Mundial da Juventude".."Ninguém fica sem um pelouro que não existe e que nunca lhe foi dado, portanto não é possível retirar aquilo que nunca lhe foi dado. Não existe o pelouro da Jornada Mundial da Juventude, nunca existiu, não existirá", afirmou. Segundo acrescentou, "havia uma competência que estava concentrada numa vereadora nestes primeiros nove meses", referindo-se à organização e preparação da JMJLisboa2023, e revelou que foi ela própria a pedir "insistentemente, que a equipa fosse reforçada, transversalizada para todos os vereadores", ficando a coordenação com o vice-presidente, Anacoreta Correia, que tem o pelouro das Finanças..Procurando "só desfazer este equívoco", de que havia sido afastada da competência sobre a JMJLisboa2023, a vereadora disse ainda que "há pessoas que seguem muito os jornalistas e pessoas que usam muito certo jornalismo para fazer desinformação"..A Jornada Mundial da Juventude irá decorrer na zona norte do Parque das Nações, nas margens do rio Trancão, zona de fronteira entre Lisboa e Loures - e envolvendo por isso na sua organização as duas autarquias, bem como a Igreja e o Governo..joao.p.henriques@dn.pt