Em Hollywood são muitos os que acreditam que Matthew McConaughey está a ter a chamada "maldição do Óscar". O Óscar, merecido, foi em 2013 por O Clube de Dallas, e desde aí o ator texano só tem feito filmes de que ninguém gosta ou liga. Mas o sorriso com que nos recebe parece ser legítimo, é bem à cowboy..Matthew não quer saber das críticas negativas consensuais a Mar de Árvores, de Gus van Sant, ou ao fracasso de Ouro, de Stephen Gahan. Está firmemente convencido de que White Boy Rick, de Yann Demange, atualmente disponível nos circuitos Home Cinema, sem chegar aos cinemas, é cinema urgente e uma prova cabal da qualidade do seu acting.."A última vez que chorei no cinema foi ao ver-me neste filme. Parte da diversão de irmos ao cinema também é podermos ficar comovidos. Gosto de ficar preso à narrativa de um filme", conta com um sorriso o ator que neste ano já tinha sido visto nos cinemas em Serenidade, ao lado de Anne Hathway, nem de propósito outro fracasso de crítica e de público..Ao lado de McConaughey está Richie Merritt, o adolescente que protagoniza o filme, o tal "rapaz branco" do título, baseado na história de Richard Wercher, um jovem que nos anos 1980 foi notícia por ter conseguido enganar o FBI e um gangue num esquema de tráfico de droga. Yann Demange o que tenta fazer é um thriller policial que venera o folclore dos eighties - da música ao guarda-roupa - e exibe o fascínio do tema dos infiltrados. "Mas tu choraste durante o filme?! Eu só me ri", riposta Richie à resposta do colega, que ao ouvir solta uma gargalhada forte. Ao fim ao cabo, Richie Merritt ainda é um puro: este é o seu primeiro filme..Matthew McConaughey vê precisamente vantagens em contracenar com um virgem em cinema: "Ele interpreta com reação. Faz aquilo que sente. Quando se consegue fazer isso honestamente em frente a uma câmara... bem, só digo que vale ouro. Se ele continuar no cinema, vai ter de aprender que há uma ética de trabalho em tudo isto. Uma ética que passa por continuar livre e, mesmo quando aprender técnicas, não ficar consciente do seu talento. Qualquer ator tem de conservar os seus instintos, lutar para ser sempre real. Além do mais, nunca poderá fazer aquela pergunta parva antes de ouvir a palavra ação: esta cena é sobre o quê? Se não sabe, deveria ter-se preparado. No plateau é apenas preciso estar aberto à magia." Richie ouve essas palavras e fica em silêncio sepulcral..Matthew prossegue: "Ser pai mudou muito a maneira como interpreto este pai. A família é uma coisa muito importante para mim. Sem intelectualizar muito, a paternidade é algo que se tornou mais importante do que tudo. Essa mudança pode ser constatada no meu amor e compromisso. Foi isso precisamente que quis passar em White Boy Rick. As cenas com o Richie resultam muito bem, pois pusemos lá algo de nós, das nossas famílias. Mesmo que uma ou outra cena não sejam são fortes, entre mim e ele há um elo muito verdadeiro"..Se a ação de White Boy Rick se passa numa América dos anos 1980, a adoração pelas armas das personagens remete para os nossos dias. Quase como se Yann Demange estivesse a fazer um jogo de espelhos: "Se o Yann Demange decidiu começar o filme com a cena do fetichismo das armas, há uma razão. Trata-se de um discurso antiarmas. Este filme não tenta glorificar o direito ao armamento. Claro que há violência, mas não é uma violência exposta para glorificação", expõe McConaughey, enquanto Richie Merritt prefere salientar que o filme é, acima de tudo, uma história de família: "É sobre gente que faz tudo para sobreviver." "Seja como for, a história do filme é mesmo incrível. Mesmo que não fosse verídica, aceitaria fazer este filme. Depois, adoro a minha personagem: este pai falhado. Diria que este filme é como se fosse a minha canção country triste.".White Boy Rick esteve para ser estreado no circuito das salas portuguesas, mas, depois de a Sony perceber que não tinha pedalada para a temporada dos prémios, foi atirado para o calendário do Home Cinema, chegando apenas neste verão.