"A direita tem de ser punida", cá e lá, pede PS. "Levemos as pessoas a votar"
Há bandeiras, há bombos a ribombar, há 2100 lugares sentados que se levantam ao comando da voz que pede que se dê as boas-vindas ao "homem que devolveu a esperança e a confiança aos portugueses", António Costa.
O secretário-geral do PS pediu - este domingo, num almoço comício num pavilhão industrial em Mangualde - o voto nos socialistas para castigar quem na Europa, depois dos anos de austeridade, queria sanções "na força máxima" para Portugal, nomeando Manfred Weber, o alemão apoiado pelo PSD e CDS. Para Costa, o voto cá ajudará à vitória lá fora do candidato dos socialistas europeus à presidência da Comissão Europeia, o holandês Frans Timmermans, presente na sala.
O líder do PS português quer que Portugal sirva de exemplo para a Europa, para ensaiar a 28 (ainda com 28 Estados membro) uma geringonça em que socialistas e sociais-democratas deem corpo a uma "frente progressista", que vai de Emmanuel Macron a Alexis Tsipras, para travar quem apoiou e apoia a austeridade.
"Numa Europa a 28 é preciso construir alianças e fazer amigos", disse, recordando que "em três anos" conseguiram "uma solução estável". "O que conseguimos em Portugal, vamos construir na Europa", desejou.
"De um lado, temos o nosso amigo e camarada Frans Timmermans", pesou na balança, "do outro lado, temos o candidato apoiado pelo PSD e CDS", dizendo que os portugueses não podem esquecer que, "nos momentos que foram difíceis, o sr. Weber defendeu aplicar sanções com a força máxima contra Portugal", disse, referindo-se ao opositor do PPE, Manfred Weber. "Votar no PS é dar força ao PS na Europa e dar força à família socialista", atirou.
Costa piscou o olho a um eleitorado que vai para lá do socialista. "O que peço é que aqueles que amam a nossa pátria e Portugal e querem o melhor para o nosso país" que votem nos socialistas. "Não podemos ter à frente da Europa quem nos quis castigar, quem teve desprezo total pela pobreza que existiu, pelos milhares de desempregados, pelos pensionistas e reformados. Nunca perdoaremos quem depois da austeridade ainda nos quis sancionar", atirou.
É um "três em um", que vem com o voto nos socialistas, garantiu: "Dar força ao PS, dar força a Portugal e dar força à Europa." Não, não dizemos que tudo que corre mal é culpa da Europa", disse, numa profissão de fé, que também marca diferenças para a esquerda do PS. "Nós tínhamos razão: era possível acabar com a austeridade, mantendo-nos na Europa e no euro", defendeu.
António Costa começou a sua intervenção a combater a abstenção. "Aqueles que diziam que Viseu era o cavaquistão e que esta campanha não está a correr bem ao PS pois é aqui que mostramos a força e a energia", disparou para os comensais no primeiro mega-almoço desta campanha. "Quem diz isso é porque não nos conhece. Este partido não nasceu na comodidade da democracia", sublinhou, para recordar que na hora da fundação Mário Soares e os socialistas contaram com o apoio da Europa. Este é também o "partido que se sujou de novo nas ruas para defender a democracia e a liberdade", depois do 25 de Abril. Afinal, "quanto mais a luta aquece mais força tem o PS".
Há também Jorge Coelho, o antigo homem forte do aparelho socialista que é de Mangualde e levanta o pavilhão da terra onde o PS arrancou este domingo, oficialmente, com a sua campanha eleitoral para as eleições europeias, e há um homem que aponta para Pedro Marques e diz-lhe de dedo em riste, "tu vais ganhar, tu deste ontem uma tareia ao Paulo Rangel" - e há por fim a máquina socialista a funcionar para uma campanha de um candidato que tem andado sem gente.
Jorge Coelho deixou de parte qualquer quadratura do círculo e foi ao alvo: o cabeça-de-lista do PSD, Paulo Rangel, disse que a sua lista era melhor que as outras, o que para o socialista - que se lembrou das discussões dos seus netos na escola sobre se o melhor é o Benfica ou o Sporting - "é um argumento totalmente infantil". E Coelho lembrou a crise política por causa dos professores para definir "a coragem de um primeiro-ministro à altura da nossa história".
Falando da "irresponsabilidade da direita", o socialista sentenciou: "Isto não pode ter acontecido e ficar tudo na mesma", pedindo mesmo que "a direita tem de ser punida". Quem se mete com o país, leva, parecia dizer Jorge Coelho.
E há Bella Ciao, a canção popular italiana, que se tornou um hino da resistência antifascista e que os socialistas europeus fizeram hino destas europeias, e foi ao som deste tema que Costa, Timmermans e Pedro Marques entraram na nave do pavilhão de uma empresa de transportes rodoviários, sem sombra de protestos nem greves.
Em Mangualde, Pedro Marques pediu "vamos" - e às suas palavras juntou-se a versão acelerada de Bella Ciao, O partigiano portami via, O bella ciao, bella ciao, bella ciao ciao ciao, O partigiano portami via, Che mi sento di morir, a morte a vir, com os fascismos que andam por aí, como avisou Frans Timmermans, o socialista holandês.
A morte pode vir, disse num "small intermezzo in english", Frans Timmermans, recuperando os resultados do referendo do Brexit e a eleição de Donald Trump, que apanharam muitos de surpresa. A Europa tem de estar prevenida, avisou o holandês, evitando que "o fascismo mande".
Sem se referir ao perigo dos extremismos, também Pedro Marques exultou com o ambiente que encontrou em Mangualde. "Que grande momento de força do PS", afirmou desde o palco.
O cabeça-de-lista socialista apresentou o que disse ter sido o PS no governo como caução para um trabalho futuro na Europa. "Recuperámos o respeito da Europa, fizemos tudo isto sempre com as contas em ordem, sempre com sentido da responsabilidade", por oposição, garantiu, à direita que defende "a mesma receita de sempre", feita de "austeridade, cortes e sanções".
Já de Rangel, garantiu Marques, não se conheceu "em dez anos uma medida que tenha mudado a vida dos portugueses". E disparou de novo com o argumento Weber: "Se tem tantos cargos no Partido Popular Europeu, tem que explicar porque é não defendeu Portugal quando a direita pediu sanções na força máxima." É esta direita que "tem que ser sancionada nas urnas com o voto no PS".
O autarca João Azevedo, que dirige a Câmara de Mangualde e a campanha de Pedro Marques, lançou um apelo diferente na hora de combate à abstenção. "É fundamental que todos nós levemos as pessoas a votar, como se fossem as autárquicas."
Às 15.40, o candidato Pedro Marques e o secretário-geral do PS, António Costa, saíram de um pavilhão que, ainda não era meio-dia e já se compunha para o comício, em que os participantes beberam uma hora e meia de discursos. Para a refeição estava reservado o prato típico de uma qualquer campanha, a carne assada. Houve quem batesse nos pratos como se de um casamento se tratasse, mas os noivos não apareceram. Os votos só no dia 26 se conhecerão.