Adolescentes no interior da América, cultura pop, uma rapariga com poderes transcendentes. Pensa-se em Stranger Things, da Netflix, é certo. Mas, coincidências à parte, a nova série I Am Not Okay With This, também da Netflix, é um outro bicho. A primeira temporada de seis episódios, todos eles à base dos 18 minutos, é um daqueles vícios irresistíveis. Um cruzamento de Teenage Angst sobre as dores de crescimento com um twist sobre superpoderes..Mesmo tendo questões que derivam da fantasia da cultura comic, a série que adapta a novela gráfica de Charles Forsman é um prodígio de intensidade dramática e com uma respiração eminentemente cinematográfica, por vezes a jogar no terreno do sobrenatural adulto - a citação maior talvez seja a Carrie, de Stephen King..Mas se o tema dos teens americanos parece estar na moda (Stranger Things, Sex Education e The End of the Fucking World são sucessos estrondosos), na essência, é um produto televisivo com temas nada óbvios como traumas depressivos, cultura da solidão ou descoberta da identidade sexual, mesmo quando o formato aponta para a mais afiada comédia negra..A história de Syd, rapariga de 17 anos estudante de um liceu típico da Pensilvânia, algures prestes a ser mulher mas a odiar o mundo e as normas do "american way of life". Fala para um diário sem medo de usar a palavra "fuck" e confessa não se dar bem com a mãe, sofrer ainda com o suicídio do pai e simpatizar com o vizinho do lado, um rapaz divertido que é fã dos Prefab Sprout..À medida que os dias avançam começa a perceber que tem nela um dom escondido, ou seja, quando está furiosa provoca explosões ou põe pessoas a sangrar apenas com o olhar, já para não falar de que consegue que tudo se movimente com a sua mente. Mas esse é um subenredo. Syd continua só contra o mundo, mesmo quando descobre que poderá estar apaixonada pela melhor amiga..Cheio de ideias visuais que costumam vir do cinema e um ritmo de narração perfeito, I Am Not Okay With This confirma Jonanthan Entwistle como um novo talento emergente, ele que já tinha entrado tão bem no interior do furacão da adolescência em The End of the Fucking World. Um realizador que vai direto ao essencial criando um universo sensorial capaz de remeter qualquer espectador para as memórias das grandes emoções dos tempos do ensino secundário..Apesar de meter superpoderes e alguns efeitos visuais, a série é sobretudo um tratado sobre como uma rapariga lida com responsabilidade e a expressão da sua própria individualidade. Syd é uma grande personagem de ficção, tão real e comovente como as grandes heroínas do melhor cinema. Ajuda (e muito...) ser interpretada por Sophia Lillis, a mais dotada das jovens atrizes americanas do momento. Quem a conheceu nos filmes It perceberá que o título não é uma hipérbole. E, se for preciso comparações com Stranger Things, o mínimo que se poderá dizer é que esta jovem talento é superior a Millie Bobby Brown..I Am Not Okay With This tem sangue, sim senhor, mas tem algo mais assustador: os nossos medos invisíveis. Os fãs do cinema de M. Night Syamalan vão encontrar aqui muito para se refastelar....**** Muito bom