Marcelo Rebelo de Sousa Será mobilizador?.A mensagem de Ano Novo do Presidente da República era simples, como ele próprio disse, mas continha muito do que quer neste complexo ano eleitoral. Marcelo Rebelo de Sousa terá todo o interesse em que o PS não atinja a maioria absoluta, mas nunca deixará transparecer que esse é um dos seus desígnios para 2019, tendo avisado o governo de que não dará tréguas para que a economia fique mais robusta e o combate à pobreza seja uma prioridade. Talvez o maior desafio do inquilino de Belém neste ano seja o de usar o seu afeto e proximidade com os portugueses para os convencer de que é com o voto nas eleições que contribuem para o reforço da democracia - que começa a ser ameaçada em vários países da Europa por movimentos extremistas..António Costa Conseguirá a maioria absoluta?.António Costa não precisa de fazer ou pedir muito. Ajudará ao sucesso eleitoral se a economia na Europa não entrar em desvario e atingir a nacional com as habituais ondas de choque. Mas, mesmo assim, chegar a uma maioria absoluta é sempre difícil porque o nosso sistema eleitoral não está desenhado a preceito. O primeiro-ministro, que foi o "pai" da engenhosa aliança pós-eleitoral com o PCP e o BE, sem ter de os suportar no governo, deseja-a fervorosamente. "Dá para namorar, mas não dá para casar", foi o aviso que já lançou aos comunistas e aos bloquistas, muitos meses antes das eleições. Isto porque o Bloco encheu o peito a reivindicar um lugar no próximo executivo caso Costa tenha de se conformar a uma nova geringonça. Tudo o que líder socialista gostava de evitar..Rui Rio Resistirá na liderança?.Rui Rio some e segue. É muito obstinado e convicto de que a sua estratégia política está certa. Que os portugueses gostam mais de políticos disponíveis para o diálogo do que dos que andam sempre a malhar, sem dó nem racionalidade, no governo. O líder social-democrata intensificou, no entanto, o seu papel de opositor a Costa. Criou conta oficial no Twitter e a partir dela tem zurzido nas políticas do primeiro-ministro e do ministro das Finanças. E vai intensificar a presença na estrada. No PSD todos sabem que uma vitória nas legislativas é tão difícil como um camelo passar pelo buraco de uma agulha, mas o partido, sobretudo os críticos internos e os putativos candidatos à sua sucessão, vão exigir-lhe que meça forças com o PS. Se perder, e for por muitos, não haverá obstinação que o segure. O PSD é um partido implacável com os perdedores..Jerónimo de Sousa Passará o teste do apoio a Costa?.O semblante de Jerónimo de Sousa esteve carregado meses e meses após o PCP, quase a tapar os olhos - à semelhança do que aconteceu quando Álvaro Cunhal sugeriu aos comunistas para votarem em Mário Soares nas presidenciais de 1985 -, ter celebrado o acordo para viabilizar o governo socialista em 2015. O líder comunista deixou transparecer esse peso de ter dado a mão a um partido ao qual o PCP sempre acusou de ser igual aos da direita. Só neste último ano, com o governo a conseguir bons resultados económicos e o país a mostrar maior confiança, é que Jerónimo tomou as rédeas dos ganhos no Orçamento do Estado, sobrepondo-se ao Bloco de Esquerda. Mas só em outubro de 2019 é que o secretário-geral do PCP testará junto do eleitorado se a aliança histórica com o PS foi ou não uma boia para o partido manter-se à tona..Catarina Martins Conseguirá um lugar no governo?.Nos primeiros dois anos de governação, o Bloco de Esquerda foi muito mais espevitado e lesto do que o PCP a reivindicar muitas das medidas de reposição de direitos e rendimentos. Catarina Martins, a líder, e também outras figuras do partido conseguiram gerar uma dinâmica de sucesso que centrou as atenções do país no BE, o que servia como uma luva às pretensões eleitorais do partido. Costa percebeu isto e em 2018 tirou-lhe o tapete e estendeu mais a mão às propostas do PCP. Catarina também percebeu e deu o salto em frente. Colocou a fasquia mais alta para uma eventual reedição do acordo entre os três partidos: um lugar no governo. O desafio da líder bloquista é agora convencer o eleitorado a dar esse poder reforçado ao Bloco de condicionar os socialistas..Assunção Cristas Fará o CDS crescer?.No último congresso, reeleita líder, Assunção Cristas apontou o CDS ao infinito e mais além, ou melhor, a ser o primeiro partido de centro-direita com mais votos do que o PSD. Foi isso que aconteceu em Lisboa, quando encabeçou a lista do seu partido à câmara. Mas conseguir a proeza a nível nacional é outra loiça. A presidente centrista tem andado pelo país como nenhum outro líder a pregar contra a política do governo e das "esquerdas encostadas" e vai manter o ritmo. A tentativa é a de congregar todo o espaço à direita do PSD, sem deslizar ao centro como os sociais-democratas. Mas a tarefa complica-se com o aparecimento de novas forças políticas como o Aliança ou o embrionário partido populista de André Ventura..Santana Lopes Consegue valer um partido?.O enfant terrible do PSD quis voltar a liderar o partido legitimado pelo voto dos militantes. Enfrentou Rui Rio e não conseguiu o que ambicionava. Deixou o partido em que esteve ao lado do líder mítico, Francisco Sá Carneiro, e pelo qual foi primeiro-ministro. Assumiu que a decisão não foi fácil, mas foi embalado pela ideia de que o centro-direita tem espaço para novas forças políticas, à semelhança do que aconteceu em outros países, como Espanha e, sobretudo, França, com o movimento Macron. Criou o Aliança em pouco tempo, mas não arrastou grandes figuras do PSD. Diz que prefere assim, um partido de gente nova e descomprometida. Irá beliscar o PSD? E o CDS? Os resultados que o Aliança obtiver nas europeias e nas legislativas demonstrarão se Santana, só por si, vale um partido..Lucília Gago MP mantém-se a todo o gás?.A comparação vai ser inevitável. Até porque Joana Marques Vidal, a ex-procuradora-geral da República, deu a entender que gostaria de ter visto renovado o seu mandato por mais nove anos e que poder político, governo e Presidente da República não a trataram bem. O trabalho da sucessora à frente do Ministério Público será sempre avaliado à sombra do que foi feito pela ex-PGR. Lucília Gago não tem tarefa fácil. O mandato de Joana Marques Vidal, o número de processos desencadeados e as personalidades que envolvem, entre as quais José Sócrates e Ricardo Salgado, não será fácil de igualar. A nova PGR tem de provar que o Ministério Público continuará com todo o gás. Tem ainda pela frente uma anunciada greve dos magistrados do Ministério Público contra a possibilidade de alterações ao seu Estatuto..Mário Centeno Sob pressão social, será 0,2% o défice."Os desafios são grandes na substância e na forma." A frase é de Mário Centeno presidente do Eurogrupo, mas Mário Centeno ministro das Finanças de Portugal não diria diferente. O homem forte do governo parece confiante de que manterá as contas certas, nos 0,2% do PIB, mas a pressão para que abra os cordões à bolsa será tremenda. Os parceiros no Parlamento, PCP e BE, precisam de libertar, mesmo que temporariamente, as amarras do governo, e vão ajudar a fazer subir o tom da reivindicações sociais. Depois dos professores virão outros setores do Estado a pedir mais, num ano em que as famosas cativações podem ser corrosivas em áreas que já estão depauperadas como a saúde ou a educação. Desafios grandes na substância e na forma..Marta Temido Aliviará os sintomas do SNS?.O SNS tem andado mal da saúde, de tal forma que António Costa remodelou a pasta. A um médico, Adalberto Campos Fernandes, que não conseguiu impor-se na resolução dos problemas, seguiu-se uma gestora hospitalar. Marta Temido assumiu uma das pastas mais difíceis do governo e apanhou um setor com problemas financeiros e em convulsão. A greve dos enfermeiros aos blocos operatórios, e o consequente aumento das listas de espera para operações, só veio aumentar a conflitualidade na área da saúde. A ministra mostrou falta de preparação política para lidar com a pressão, a ponto de ter de pedir desculpa aos enfermeiros por os ter equiparado a "infratores". Marta Temido tem menos de um ano para provar o que vale, mas é uma peça essencial para evitar o desgaste do executivo na área mais transversal da governação..Tiago Brandão Rodrigues Resistirá à pressão dos professores?.A educação é sempre um foco clássico de desgaste do poder. Controlada pela Fenprof e por Mário Nogueira, tem sido uma das grandes pedras no sapato para vários governos. O atual até beneficiou durante bastante tempo de alguma benevolência, fruto do apoio do PCP ao executivo. Mas o caldo voltou a entornar-se com a intransigência em reconhecer todo o tempo de carreira congelado aos professores. O ministro da pasta, Tiago Brandão Rodrigues, deu o corpo às balas, e o primeiro-ministro amparou-o. Azar dos Távoras, o Presidente vetou o diploma que só garantia dois anos e alguns meses de reposição na carreira, e o ministro volta à mesa das negociações. E terá de ter engenho para chegar a um entendimento que trave os protestos em ano eleitoral, sem desencadear outros ainda mais ferozes noutros setores da função pública..Eduardo Cabrita País estará mais seguro?. A segurança do país é outra das prioridades que o governo não pode descurar se sonha com uma maioria absoluta. Desde as tragédias de 2017, com os incêndios, e de 2018, com a queda da estrada em Borba, que há um cutelo a pairar sobre o executivo se não estiver atento e vigilante a esta área. O ministro da Administração Interna conseguiu estancar o protesto dos bombeiros profissionais, que se rebelaram contra as novas competências da Proteção Civil, o que a não ser travado poderia causar problemas complexos noutra área que atinge todos os cidadãos. Eduardo Cabrita poderá, no entanto, ter de enfrentar novos desafios se as forças de segurança acabarem mesmo por vir para a rua reivindicar as atualizações salariais como os professores.