Até hoje eram 297 - contas feitas pelo DN, consultando o site da Presidência da República. Em muitos casos foram condecorações coletivas: por exemplo, à seleção portuguesa que ganhou o Europeu de futebol em 2016, a uma seleção de futsal e a outra de hóquei..Na prática, tem funcionado assim: não passa um mês sem que Marcelo condecore alguém. Houve duas exceções que confirmaram a regra: agosto de 2017 (estava de férias); e novembro do mesmo ano. Em agosto de 2016 (estava de férias) só atribuiu uma condecoração, no último dia do mês, à jornalista Manuela de Azevedo (comendadora da Ordem da Instrução Pública); em agosto de 2018, também no dia 31, atribuiu duas: uma ao tenor espanhol Plácido Domingo (Grã-Cruz da Ordem da Instrução Pública) e a Nuno Amado, antigo presidente do Millennium BCP (Grã-Cruz da Ordem do Mérito). De resto, não há mês em que não atribua uma..No início do mandato (março de 2016), o Presidente da República prometia que não iria seguir no Dia de Portugal a tradição dos seus antecessores de atribuir nessa ocasião dezenas e dezenas de medalhas. As escolhas seriam muito limitadas e só por "feitos excecionais"..E assim tem sido no 10 de Junho. Em 2016, por exemplo, atribuiu as insígnias de cavaleiro e dama da Ordem da Liberdade a quatro portugueses emigrados em Paris (um homem e três mulheres) que estiveram diretamente envolvidos a proteger e a cuidar de pessoas que fugiam do atentado terrorista na discoteca Bataclan (atentado que fez mais de 80 mortos). E pouco mais..Marcelo condecora pouco no Dia de Portugal - mas no resto do ano não para. Em média, tem seguido à velocidade de uma condecoração de quatro em quatro dias. Uma velocidade intensa - mas que no entanto é mais lenta do que a dos seus antecessores em Belém (contabilizando para todos dez anos de ocupação do Palácio de Belém..Mário Soares (PR de 1986 a 1996) foi o grande condecorador da República (2509 medalhas, à média de uma por cada 1,45 dias); Jorge Sampaio, inquilino de Belém de 1996 a 2006, atribuiu 2368, à média de uma por cada 1,54 dias; em terceiro, Ramalho Eanes, Chefe do Estado de 1976 a 1986, atribuiu 2007 condecorações, uma por cada 1,75 dias. Por último, o mais contido, Cavaco Silva (2006-2016): 1550 medalhas (uma por cada 2,35 dias)..Com uma condecoração de quatro em dias, Marcelo Rebelo de Sousa evolui a um ritmo notoriamente mais lento do que os seus antecessores. Se prosseguir até ao fim deste mandato com a atual velocidade, deverá atribuir 456 condecorações. Se for eleito para um segundo mandato, serão cerca de 900 ao todo. Neste ano, notoriamente, tirou o pé do acelerador: só agraciou 33 personalidades e/ou instituições (não contando com as deste Dia de Portugal). O ano mais prolífico foi 2018: 108 condecorações; em 2016, 80; e em 2017, 76. Tudo somado, 297..Quanto aos condecorados, o PR cumpriu no seu primeiro dia em funções (9 de março de 2016) a tradição dos outros presidentes: a sua primeira condecoração (grande-colar da Ordem da Liberdade) foi para o seu antecessor, Cavaco Silva. Depois, em junho do mesmo ano, agraciou Ramalho Eanes (PR de 1976 a 1986) com o grande-colar da Ordem do Infante D. Henrique. Em abril de 2018 atribuiu a mesma condecoração a Jorge Sampaio..Uma das suas imagens de marca tem sido a condecoração de personalidades e/ou instituições católicas, nacionais ou estrangeiras: os cardeais Sean O'Malley (norte-americano) e Pietro Parolin (italiano), os Servitas, a título póstumo D. António Ferreira Gomes e o padre Manuel Antunes, as ordens dos franciscanos e dos dominicanos (jesuítas ainda não, nem beneditinos nem nenhuma congregação feminina), o cónego João Seabra e o padre Nuno Gonçalves, o seminário de Braga e a Universidade Católica. Também já condecorou a Comunidade Islâmica de Portugal e o líder dos ismaelitas, Aga Khan, e até a Liga dos Estados Árabes..Neste 10 de Junho, no qual as celebrações se dividirão entre Portalegre e Cabo Verde, o PR irá condecorar o bispo emérito do Funchal, D. António Carrilho, e ainda um padre que é dos portugueses há mais tempo radicado em Cabo Verde, Custódio Ferreira de Campos..Houve também condecorações que Marcelo não atribuiu porque o visado recusou. Foi o caso de Pedro Passos Coelho. O PR queria atribuir-lhe a Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo quando deixou de ser primeiro-ministro. Passos Coelho recusou dizendo ser muito novo para receber uma condecoração destas. Os amigos do ex-primeiro-ministro e ex-líder do PSD interpretaram o seu argumento dizendo ver nele um sinal de que Passos voltará à política..Quando cessam funções, os chefes do governo são normalmente agraciados pelo Presidente em funções - mas já houve exceções. Em 2004, o Presidente Jorge Sampaio não condecorou Durão Barroso (que deixou o governo para ser presidente da Comissão Europeia). E, em 2011, o PR Cavaco Silva recusou condecorar José Sócrates..O Presidente também já teve de ponderar a hipótese de retirar condecorações. O caso mais notório aconteceu com o futebolista Cristiano Ronaldo, por este ter sido condenado em Espanha por fraude fiscal (23 meses de prisão com pena suspensa e uma multa de 18,8 milhões de euros)..A Lei das Ordens Honoríficas estabelece que uma pessoa pode perder automaticamente a sua condecoração se for condenada pela prática de crime doloso punido com pena de prisão superior a três anos numa sentença judicial transitada em julgado (sentença final, sem recurso possível). Também determina que pode ser aberto um processo disciplinar no caso de os condecorados não cumprirem os respetivos deveres previstos na lei (por exemplo, "Defender e prestigiar Portugal em todas as circunstâncias" ou "não prejudicar, de modo algum, os interesses de Portugal")..A pedido de Marcelo, o Conselho das Ordens Honoríficas - órgão presidido por Manuela Ferreira Leite - analisou o caso de Ronaldo e concluiu que a situação "não configura o enquadramento previsto no n.º 1 do artigo 55.º da Lei 5/2011, de 2 de março, ou seja, que não justifica abertura de processo"..Consultando o Diário da República, verifica-se que apenas três personalidades viram as suas condecorações ser-lhe retiradas. Todos estão (ou estiveram) presos: Carlos Cruz e o embaixador Jorge Ritto, ambos condenados por abuso de menores no Processo Casa Pia; e Armando Vara, preso atualmente depois de condenado por tráfico de influência no processo Face Oculta..Dito de outra forma: é preciso ir preso para perder a comenda. Zeinal Bava, José Sócrates, Henrique Granadeiro ou Hélder Bataglia são todos arguidos por suspeitas de corrupção na Operação Marquês e mantêm todos as respetivas insígnias. Joe Berardo deve mil milhões à CGD e também ainda não perdeu as duas condecorações recebidas em Belém (uma do Presidente Eanes e outra de Jorge Sampaio).