Reestruturação da TAP com receita conhecida: despedimentos, menos aviões e rotas
O plano que vai encolher a TAP foi entregue à Comissão Europeia nesta quinta-feira, 10 de dezembro, tendo sido elaborado pela consultora Boston Consulting Group (BCG), escolhida pela companhia aérea, e António Costa prometeu que nesta sexta-feira "será apresentado ao país". Apesar de os pormenores ainda não serem conhecidos, ao longo das últimas semanas foram-se sabendo, pelos sindicatos, alguns pontos do documento. Despedimentos, cortes salariais, redução de aviões e de rotas são os ingredientes da receita para tornar a companhia viável nos próximos anos.
No final do ano passado, o grupo TAP contava com cerca de dez mil funcionários. Certo é que, no final de 2020, terá pouco mais de oito mil, uma vez que o ministro das Infraestruturas já confirmou que 1600 contratos a prazo, que terminam neste ano, não serão renovados. De acordo com os sindicatos, que estiveram nos últimos dias reunidos com a administração e o Governo, está prevista a saída de mais cerca de duas mil pessoas: 500 pilotos, 750 tripulantes de cabina e 750 trabalhadores de terra.
Mas a redução dos encargos com salários não se fica por aqui. Os trabalhadores da TAP deverão sofrer um corte de 25% na massa salarial, uma medida que deverá ser transversal a todos, exceto os salários até 900 euros, de acordo com a Lusa, citando uma carta aos trabalhadores a que teve acesso. No ano passado, a rubrica com salários ascendeu a mais de 700 milhões de euros, e neste ano será inferior, uma vez que a TAP aderiu ao regime de lay-off simplificado e ao seu sucedâneo. Nos próximos anos, através da conjugação de saídas de pessoal com reduções nas remunerações, a despesa com salários deverá encolher entre 250 milhões e 300 milhões por ano.
A TAP vai encolher também a sua frota. Houve meios de comunicação a avançar que a transportadora vai fechar 2021 com 88 aviões. No ano seguinte, a frota poderá aumentar para 90 aviões e chegar a 2025 com cerca de uma centena de aviões.
Além disso, a transportadora vai diminuir em cerca de 25% as rotas que ascendiam a quase cem no final do ano passado, segundo o Jornal de Negócios.
O Reino Unido já começou o processo de vacinação contra a covid-19 e a maioria dos países vai seguir esse caminho ao longo das próximas semanas. Apesar de serem necessários alguns meses para a maioria dos países conseguir alcançar imunidade de grupo, o que permitirá um regresso a uma maior normalidade, as previsões internacionais mais recentes, e com projeções mais otimistas, para a aviação civil, sugerem que no próximo ano o setor possa recuperar até 70% do nível de 2019. Mas regressar totalmente aos números do ano passado vai exigir mais alguns anos.
O plano de reestruturação da TAP estará longe de ter uma receita inovadora. Um pouco por todo o globo, a aviação civil foi ajudada pelos respetivos governos e teve de levar cortes, tanto em pessoal como nas operações. Na Europa, nem a gigante germânica Lufthansa (que terá estado interessada na TAP antes da pandemia) escapou a esta receita, embora a situação das duas transportadoras fosse distinta quando a tempestade pandémica se abateu sobre o Velho Continente.
A situação financeira da TAP a 31 de dezembro de 2019 era de prejuízos e capitais próprios negativos, o que fez que fosse considerada por Bruxelas como estando numa situação difícil antes da pandemia de covid-19, não sendo, assim, elegível para apoios específicos para empresas que estejam a sofrer os efeitos da crise sanitária.
Antes de enviar o plano de reestruturação da companhia aérea para a Comissão Europeia, o Governo reuniu-se com os partidos com assento parlamentar. Rui Rio concordou com o recuo na intenção de levar ao Parlamento o plano de reestruturação, deixando alertas importantes, mais tarde reforçados pelo líder parlamentar do PSD após o encontro com Pedro Nuno Santos.
Adão Silva explicou após o encontro que o plano "embrionário" que foi apresentado prevê um investimento público de 3,2 mil milhões de euros até 2024. E apelou para que o dinheiro público que entre nos cofres da companhia seja usado com "rigor, moralidade e transparência" por forma que a TAP não se torne num "Novo Banco com asas".
"É muito dinheiro, exige-se que haja rigor, transparência e moralidade para que os portugueses percebam que valeu a pena fazer este esforço, este sacrifício em nome do sucesso de uma empresa e de Portugal", afirmou, citado pela Lusa.
Rui Rio já tinha admitido que a hipótese de liquidação da TAP poderá ser preferível caso o plano de reestruturação não garanta a rentabilidade da transportadora no futuro. Questionado pelos jornalistas, em declarações transmitidas pelas televisões, se o PSD defenderia a liquidação da empresa caso o plano não dê essa segurança, Rio disse: "Se o plano de reestruturação não conseguir ter respostas capazes que nos garantam que de futuro não será igual ao que tivemos no passado, isso é evidente. Ter no futuro o que tivemos no passado, acho [que será] dramático para as finanças públicas portuguesas."
Ana Laranjeiro é jornalista do Dinheiro Vivo