No Pátio da Galé, Terreiro do Paço, rodeado de centenas de apoiantes, Miguel Pinto Luz foi o último a apresentar publicamente nesta segunda-feira a sua candidatura à liderança do PSD. E foi ali que marcou território em relação ao adversário Rui Rio, que tem sido acusado de ter dado e querer dar a mão ao governo socialista. O vice-presidente da Câmara de Cascais garantiu que quer um "PSD que não seja uma segunda escolha do PS". Há precisamente oito dias, Luís Montenegro tinha insistido na mesma ideia ao lançar oficialmente a sua candidatura. Um partido sob a sua liderança, disse, nunca será "a bengala suplente do PS"..Esta estratégia de colar Rio ao PS permite aos dois candidatos à presidência do PSD fazer passar a nota de que só com eles haverá uma oposição firme e implacável ao governo, capaz de levar o partido de novo às vitórias eleitorais. Um bom resultado nas eleições autárquicas é uma bandeira que ambos ostentaram e que Rui Rio também já tinha considerado indispensável à sobrevivência do partido. Mas Luís Montenegro foi sempre o mais entusiasta, ao estabelecer como meta a vitória na principal câmara do país, a de Lisboa, agora governada pelo socialista Fernando Medina. De tal forma que se propõe, caso venças as diretas de 11 de janeiro, coordenar pessoalmente esse processo eleitoral. "Sei bem o que quero para voltar a ganhar em Lisboa. Sei bem qual a estratégia e os protagonistas", afirmou o antigo líder parlamentar social-democrata..Num partido de forte implantação autárquica - e que saiu de duas derrotas eleitorais nas europeias e legislativas deste ano - ganha particular relevância interna esta promessa eleitoral dos candidatos. Tanto mais que nas eleições autárquicas de 2017 o PSD teve o seu pior resultado de sempre em eleições locais, ganhando em 98 municípios, em listas próprias e com outros partidos. Enquanto o PS conquistou 161 municípios. O regresso ao poder nas eleições legislativas também não poderia deixar de atravessar o discurso dos três candidatos..Mas a unir ainda Miguel Pinto Luz e Luís Montenegro no arranque da campanha para as diretas estiveram as críticas a Rui Rio. O vice-presidente da Câmara de Cascais foi duro no Pátio da Galé: "Quando se gosta do PSD, não se diminui o partido, concelhia a concelhia, distrital a distrital, apenas para se ter o partido que se quer. Quem não gosta deste PSD, dê lugar a quem goste e queira lutar por Portugal." Uma alusão ao facto de Rio ter assumido, em entrevista recente, que não gosta de todo o partido. O antigo líder parlamentar também não poupou o presidente e criticou a forma como a direção geriu o partido nos últimos anos, com divisões que não são aceitáveis, entre "os bons e os maus", os "puros e impuros", os "desejados e discriminados", criticando que quem dentro do partido "pensava pela sua própria cabeça era dispensado"..Luís Montenegro prometeu que, consigo na liderança, o PSD "vai voltar a ser o que sempre foi", "abrangente", onde a "unidade se constrói na ação e não no conflito", exemplo do que disse ter feito quando dirigiu o grupo parlamentar na Assembleia da República. A que Pinto Luz acrescentou a garantia de que, se vencer as diretas, não excluirá posteriomente os adversários..Na apresentação públicada da sua candidatura, no final de outubro, no Porto, Rui Rio não foi inclusivo nem deu sinal de que contará com Pinto Luz ou Montenegro caso seja reeleito líder do partido. A ideia-chave foi a de que a sua não recandidatura poderia levar o partido à fragmentação e foi ao antigo líder parlamentar que dirigiu as palavras mais duras, sem nunca ter citado o seu nome. "Falta de imaginação e de lealdade ", "hipocrisia", "vaidade", "ambição" e "interesse pessoal", foram palavras que dirigiu sobretudo a Montenegro, que já o tinha tentado depor do cargo em janeiro deste ano..PSD ao centro ou à direita?.Neste trocadilho de estratégias e ataques mútuos - a que Pinto Luz escapa mais porque esteve mais protegido enquanto autarca e manteve sempre uma postura mais resguarda nas críticas à liderança - ficam a faltar as habituais propostas concretas que todos os candidatos fazem ao eleitorado, mesmo que seja todo de uma cor, neste caso laranja. Ainda assim, Montenegro e Pinto Luz convergiram na defesa da descida de impostos para as famílias, um tema que também toca a família social-democrata na hora de votar..Os candidatos à liderança do PSD também procuraram marcar as diferenças ou nuances no seu posicionamento ideológico. Rui Rio a insistir na necessidade de manter o PSD ao centro, para lembrar, sem o dizer, que Montenegro foi o rosto no Parlamento da viragem do partido à direita, mais liberal, no consulado de Pedro Passos Coelho. Mas a social-democracia e os valores fundadores do partido foram também os que Miguel Pinto Luz quis sublinhar na sua apresentação pública da candidatura: "Sou social-democrata porque o PSD é personalista, centrando a sua ação na promoção da liberdade individual e da dignidade da vida. Sou social-democrata porque o PSD é profundamente democrático no seu ideário e na sua prática e não esta refém de dogmas ou cartilhas ideológicas. Sou social-democrata porque o PSD transporta o inconformismo, porque o PSD lutou (e luta) por uma sociedade civil resiliente capaz de transformar o país. Sou do PSD porque o PSD é dinamismo, porque é ousadia.".E talvez o estilo ainda seja a maior fronteira entre Rui Rio, Luís Montenegro e Miguel Pinto Luz. O primeiro escolheu o Porto e uma apresentação sóbria da sua candidatura, o segundo optou por Lisboa e seguiu o esquema tradicional da sala decorada com imagens de todos os líderes que foram primeiros-ministros e com luzes laranja. Pinto Luz foi mais arrojado e, no espaço onde costuma decorrer o glamour da Moda Lisboa, montou um palco à americana, rodeado pelos apoiantes, teve o apoio do teleponto e uma apresentação ultraprofissional e moderna da sua candidatura..Na campanha interna que agora se intensifica até 11 de janeiro, estas diferenças vão acentuar-se. Deverá haver uma bipolarização entre Rio e Montenegro, mas Pinto Luz pode obrigar a uma segunda volta. E, se tal acontecer, já avisou que não dará indicação aos seus apoiantes para votar em qualquer dos outros dois candidatos à liderança.