Chega, Macron!

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O Grupo Parlamentar do Chega entregou, a 21 de outubro, na Assembleia da República o Projeto de Resolução n.º 414/XVI/1.ª, através do qual “recomenda ao governo o reconhecimento do Saara Ocidental como território soberano do Reino de Marrocos”.

No dia 26 seguinte, o PR Macron aterra em Rabat, onde inicia uma “visita de reconciliação” com o parceiro africano mais próximo. Para nos centrarmos no essencial, o que é que o Chega tem a ver com Macron/França/Marrocos?

A recomendação do Chega menciona o seguinte: “O desconforto de Rabat com a posição de Lisboa (a postura dúbia perante a principal prioridade externa de Marrocos) ficou patente quando, em setembro do ano passado, o apoio português às operações de salvamento e apoio humanitário decorrentes do grave terramoto que então se fez sentir foi preterido por países classificados como ‘amigos’. O significado diplomático daquela recusa foi então pouco debatido em Portugal. Todavia, em França ela foi entendida como protesto pela política ambivalente prosseguida à data por Paris.” Ou seja, Marrocos também recusou a ajuda francesa.

Macron aguardava a celebração dos 25 anos de reinado de Mohamed VI e a 30 de julho oferece ao monarca e seus súbditos a declaração esperada. A França reconhecia oficialmente o Saara marroquino, apesar das previsíveis tensões com a Argélia. É este, aliás, o problema de Portugal!

O que é que Macron foi fazer a Marrocos em outubro? Reiterar presencialmente o alinhamento da sua diplomacia com a de Marrocos! E porquê agora? Porque é importante para o rei MVI, que sabe não vai durar outros 25 anos, vincar bem perante o filho herdeiro, conselheiros, corte e súbditos que a âncora é a França, aconteça o que acontecer! Nesse sentido também quer dar um sentimento de closure a assunto que passará para a gestão da geração seguinte.

E Portugal?

A 12 de maio do ano passado, aquando da XIV Reunião de Alto Nível Portugal-Marrocos, o então PM Costa fez referência à boa-fé e exequibilidade do plano de autonomia para as províncias sul, de 2007, dentro do quadro das Nações Unidas (ONU). O ponto do Chega é este, já que o quadro da ONU continua a prever a realização do referendo, provado inexequível. São estas “meias-tintas à portuguesa” que se terão de desvanecer até 2030, ano do Mundial de Futebol, empresa na qual não podemos entrar coxos face a uma Espanha que também já reconheceu a bandeira de Marrocos em Laâyoune! A MAP está em Lisboa, a LUSA não está em Rabat! Outra falta de reciprocidade grave.

Primeiro o lúdico (2030) e depois o institucional (gasodutos) e apenas compatível se nos sentarmos à mesa sem nada na manga, nem “meias-tintas” a assinar! Já agora, que é feito da ligação marítima Portimão-Tânger assinada em julho de 2021?

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