Vladimir Putin pôs fim a horas de especulações ao revelar, em discurso televisivo aos russos, a identidade do míssil que atingiu Dnipro nas primeiras horas de quinta-feira, em conjunto com outros sete mísseis de cruzeiro Kh-101 e um hipersónico Kinzhal. “Os nossos engenheiros chamaram-lhe Oreshnik”, contou o líder russo, ao dizer que se trata de um novo míssil balístico de médio alcance hipersónico - e “invencível”. Horas antes, o presidente ucraniano criticou a “loucura” de Moscovo, que faz da Ucrânia “um campo de testes”, e o secretário-geral das Nações Unidas mostrou-se preocupado com este novo desenvolvimento. “Os sistemas de defesa aérea atualmente disponíveis no mundo e os sistemas de defesa antimíssil criados pelos americanos na Europa não conseguem intercetar estes mísseis. Isto está fora de questão”, afirmou Putin depois de ter anunciado que o alvo foi um local que produz “equipamento de mísseis e outros armamentos”. As autoridades ucranianas disseram ter intercetado seis mísseis de cruzeiro e que o ataque atingiu duas casas e uma zona industrial, tendo causado dois feridos. .Kiev não conseguiu descortinar o Oreshnik, cujas características foram confundidas com um míssil balístico intercontinental. Aliás, vários peritos creem que será uma adaptação do míssil intercontinental Rubezh. Moscovo alimentou a especulação ao dramatizar a conferência de imprensa da porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros. Maria Zakharova atendeu um telemóvel em plena conferência, não desligou o microfone e deixou ouvir um homem a instrui-la: “Masha, não comentes o que quer que seja sobre o míssil balístico em Yuzhmash [nome antigo do complexo aerospacial e de defesa Pivdenmash].” Stéphane Dujarric, porta-voz do secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que “é um novo desenvolvimento preocupante e inquietante, e tudo está a ir na direção errada”. Já Volodymyr Zelensky acusou “o vizinho louco” de “usar a Ucrânia como um campo de testes” e Kiev anunciou que iria ativar mecanismos nas organizações internacionais sobre a utilização de um novo tipo de arma intercontinental russa..Depois do discurso de Putin, o Ministério dos Negócios Estrangeiros ucraniano, em comunicado, considerou que o “ditador russo” só está interessado em continuar a guerra. “É Putin quem está constantemente a expandir a sua escala e crueldade, envolvendo armas do Irão e da Coreia do Norte, tropas norte-coreanas, e agora utilizando um míssil balístico estratégico que pode ser um portador de armas de destruição maciça.” O comunicado rejeita ainda as acusações de alegada má conduta dos seus aliados. “A Ucrânia está a defender-se contra a agressão ao abrigo do artigo 51.º da Carta das Nações Unidas e tem todo o direito de atingir quaisquer alvos militares legítimos no território da Federação Russa, em conformidade com o direito internacional”, lembrou. O Ministério, agora chefiado pelo ministro Andrii Sybiha, referia-se às ameaças proferidas por Putin no discurso aos russos. “Consideramos que estamos no direito de utilizar as nossas armas contra as instalações militares dos países que autorizam a utilização das suas armas contra as nossas instalações. E no caso de uma escalada de ações agressivas, responderemos com a mesma firmeza”, advertiu Putin. O lançamento deste novo míssil dá-se na sequência da utilização de mísseis norte-americanos e britânicos em alvos militares em solo russo. Qual foi o objetivo, tendo em conta que não estava dotado de explosivos? “Moscovo avisou Zelensky e os seus amigos de que, da próxima vez, não se limitaria a um ataque com uma ogiva convencional, mas que chegaria um míssil carregado com material nuclear”, lê-se no russo Pravda. “Este ataque não tem valor militar, é puramente para fins políticos”, comentou o especialista em Defesa Fabian Hoffmann ao Kyiv Independent. Zelensky apelou para uma forte reação internacional e disse que é preciso que Putin “sinta o custo das suas ambições doentias” através da pressão. “Precisamos de forçar a Rússia a uma verdadeira paz, que só é possível através da força”, concluiu. Os EUA deram mais um passo na referida pressão ao anunciarem sanções contra 50 bancos russos. A grande novidade é que visam em particular o braço financeiro da empresa de gás Gazprom, o Gazprombank.