Algumas perdas na aprendizagem provocadas pela pandemia de covid-19 poderão ser permanentes e outros problemas poderão persistir para lá de 2030, segundo vários investigadores, que defendem mais apoios aos alunos, melhorias na avaliação e currículos mais exigentes..Estas são algumas das conclusões do livro que será esta segunda-feira divulgado e que contou com a participação de analistas de 12 países, entre os quais Portugal, que voltaram a olhar para os efeitos da suspensão do ensino presencial durante a pandemia e para as diferentes formas de tentar superar os desafios educativos..Os resultados estão no "Improving National Education Systems After Covid-19 - Moving Forward After PIRLS 2021 and PISA 2022", que mostra que "houve perdas generalizadas, que são graves, desiguais e que acentuam clivagens mesmo dentro dos mesmos meios sociais e das mesmas turmas", disse à Lusa Nuno Crato, investigador da Universidade de Lisboa e um dos autores do livro que hoje é lançado no ISEG..Os investigadores alertam para a urgência de medidas e defendem que, sem uma intervenção séria e intensiva, serão precisos vários anos para que os alunos consigam recuperar as aprendizagens perdidas..No capítulo sobre Inglaterra, por exemplo, o investigador teme que os problemas possam persistir até 2030 ou até mais tarde. "Existe um risco substancial de que as perdas se tornem permanentes", acrescentam os investigadores Nuno Crato e Harry Anthony Patrinos, no prefácio do livro, baseando-se nos resultados dos 12 países..À Lusa Nuno Crato resumiu as principais recomendações das diferentes experiências e que apontam para a necessidade de voltar a olhar para os currículos, que deverão centrar-se nas disciplinas básicas e ser mais exigentes, aumentando o nível de conhecimentos ensinados e o rigor de cada disciplina.."O exemplo mais claro é a leitura: Se os jovens não desenvolverem a fluência de leitura na idade apropriada vão ter dificuldades por ai adiante", explicou Nuno Crato, do Centro de Matemática Aplicada à Previsão e Decisão Economia do ISEG (CEMAPRE/ISEG)..Os investigadores recomendam também uma melhoria do sistema de avaliação. O investigador do Equador, por exemplo, destaca a importância das avaliações para ajudar os alunos com mais dificuldades. Já João Marôco, que assina o artigo sobre Portugal, critica a quebra na avaliação, lembrando a substituição da avaliação externa no final dos três ciclos do ensino básico por provas de aferição a meio dos ciclos de ensino..O livro recorda ainda a "surpresa" dos maus resultados dos alunos portugueses em provas internacionais pouco depois de outros resultados aparentemente positivos..A avaliação inicial do impacto dos confinamentos escolares em Portugal "parecia excessivamente otimista, com base nas avaliações internas da escola", recorda o autor do artigo sobre Portugal..No entanto, em comparação com países semelhantes, as perdas de aprendizagem em Portugal duplicam as dos países com durações equivalentes de bloqueios escolares: "A Hungria registou uma quebra de 10 pontos na Matemática, enquanto Portugal registou um declínio de 20 pontos entre as edições do PISA de 2018 e 2022", escreve o investigador do ISPA-Instituto Universitário.."Não cair na tentação de baixar os padrões" é outra das recomendações citadas no prefácio, que aponta também o sucesso de medidas como dar incentivos aos professores que dão explicações a alunos com baixo desempenho..É preciso ajudar os alunos com mais dificuldades oferecendo-lhes tutorias, como acontece em Itália em que há aulas voluntárias para estudantes universitários. Já em Portugal, alerta João Marôco, tem havido uma tendência para substituir a tutoria cognitiva apenas pela mentoria emocional..As explicações 'online' e outras soluções tecnológicas de baixo custo também funcionaram bem durante a pandemia..Os estudos apontam também para um aumento da "brandura e complacência" com o desempenho dos alunos em países como o Chile, a Estónia, Portugal e Espanha.."Os professores e as escolas tornaram-se mais tolerantes com os esforços dos alunos, o que significou que, embora as notas aumentassem, a aprendizagem real alcançada - tal como medida por padrões padronizados avaliações como o PISA -- diminuíram", refere o estudo..Em Portugal, por exemplo, passou a ser mais difícil chumbar um aluno, critica João Marôco..Na análise dos 12 países, apenas a Estónia se destacou pela positiva, segundo Nuno Crato, que aponta o que diz parecerem ser "três características importantes": Uma avaliação sistemática; um currículo muito bem estruturado e a autonomia das escolas com grande responsabilidade..Os países analisados foram o Chile, o Equador, a Inglaterra, a Estónia, a Itália, França, os Países Baixos, a Polónia, Portugal, África do Sul, Espanha e Estados Unidos.