Pelo menos 51 pessoas morreram, incluindo soldados, e mais de 200 ficaram feridas num ataque russo com dois mísseis balísticos que atingiu um instituto militar e um hospital de Poltava, cidade com mais de 300 mil habitantes, a cerca de 140 quilómetros da fronteira e 300 de Kiev e que se tornou na casa de muitos daqueles que fugiram às incursões de Moscovo no leste da Ucrânia. Este é o ataque mais mortal do ano desde o início da guerra e surge na semana em que faz um mês que a Ucrânia iniciou a sua incursão em solo russo e numa fase em que a Rússia tem intensificado os seus ataques com mísseis e drones contra alvos ucranianos. .No início do verão, a Rússia já havia atacado um campo de aviação na região de Poltava, alegando ter destruído aviões de guerra ucranianos. Mas o ataque desta terça-feira atingiu a cidade, destruindo parcialmente um edifício usado pelo Instituto Militar de Comunicações de Poltava e deixando pessoas soterradas. “As pessoas viram-se sob os escombros. Muitos foram salvos”, afirmou o presidente Volodymyr Zelensky num vídeo publicado no Telegram, acrescentando ter ordenado “uma investigação completa e imediata”..Relatos dos jornalistas da AP contam que eram visíveis para lá dos portões fechados da escola militar tijolos partidos e poças de sangue. Já um jornalista da AFP presente no local viu várias ambulâncias dirigindo-se ao local afetado logo após o ataque ao instituto militar. “O intervalo de tempo entre o alarme e a chegada dos mísseis mortais foi tão curto que apanhou pessoas no meio da retirada para o abrigo antiaéreo”, explicou o Ministério da Defesa ucraniano. O ataque provocou indignação nas redes sociais ucranianas depois de relatos não confirmados afirmarem que o ataque tinha como alvo uma cerimónia militar ao ar livre, com muitos culpando o comportamento imprudente de autoridades que permitiram que o evento ocorresse apesar da ameaça de ataques russos..Segundo Chris Partridge, especialista em armamento da BBC, “o provável míssil utilizado neste ataque é o Iskander-M, uma arma balística com um alcance reivindicado de até 500 quilómetros” que “carrega uma ogiva cluster ou altamente explosiva de até 700 quilos, tem uma precisão relatada entre 10 e 30 metros e é capaz de destruição considerável”. “Os meios imprevisíveis de ataque da Rússia mantêm a pressão sobre as defesas ucranianas. Kiev usa uma combinação de aeronaves, mísseis terra-ar e artilharia para tentar conter ataques aéreos, especialmente de mísseis de cruzeiro e drones. Mas mísseis balísticos como o Iskander são muito mais difíceis de combater devido à sua velocidade e trajetória parabólica até ao alvo, tornando qualquer interceção extremamente desafiadora”, referiu o mesmo especialista britânico..Kiev também atacada.Na segunda-feira da semana passada, a Ucrânia já havia sido atingida com o bombardeamento mais forte até à data, a Rússia atacou com mais de 200 mísseis e drones, matando sete pessoas e atingindo instalações de energia em todo o país, nomeadamente nas regiões de Dnipro e Zhytomyr (centro), Zaporíjia (sul), e na cidade de Lutsk (oeste), segundo referiu Kiev, enquanto a vizinha Polónia informou que um drone provavelmente teria entrado no seu espaço aéreo..No dia seguinte, Moscovo voltou a disparar uma onda de drones e mísseis de ataque contra a Ucrânia que matou pelo menos quatro pessoas, disseram as autoridades ucranianas, acrescentando terem derrubado metade dos 10 mísseis e 60 dos 81 drones de ataque de fabrico iraniano lançados de diversas regiões da Rússia e da Crimeia ocupada..A 8 de julho, num dos maiores ataques em meses até à data, várias cidades ucranianas, incluindo Kiev, foram atingidas por uma barragem de mísseis russos, matando 31 pessoas e deixando mais de 100 feridos. Além do hospital infantil Ohmatdyt, em Kiev, outras infraestruturas públicas também foram danificadas, juntamente com edifícios comerciais e residenciais em cidades como Dnipro, Kramatorsk, Kryviy Rih e Pokrovsk. A força aérea da Ucrânia afirmou então ter abatido 30 dos 38 mísseis lançados pela Rússia, incluindo o hipersónico Kinzhal, durante esta série de ataques. .Uma semana antes, a 30 de junho, as forças russas já tinham atacado as duas maiores cidades ucranianas, tendo fragmentos de mísseis caído sobre um prédio habitacional nos subúrbios de Kiev e uma bomba guiada matado uma pessoa em Kharkiv. .ana.meireles@dn.pt