No império dos sentidos

O chef Vítor Matos criou momentos à mesa para despertar os sentidos dos comensais. Uma experiência diferente onde conhecemos as suas memórias. Leia a entrevista ao chef.

O restaurante Blind é um instigador dos sentidos que vai muito além do que se está habituado num restaurante - sobretudo de alta cozinha, ou fine dining, se o leitor preferir. O desafio é lançado pelo chef Vítor Matos desde o momento em que nos sentamos à mesa numa sala em pleno lusco-fusco. Goste-se ou não, poucos ficam indiferentes aos Blind Emotions, ou seja, os menus de emoções que o chef pensou e preparou tendo em conta muito das suas memórias e também influenciado pelo livro de José Saramago: Ensaio Sobre a Cegueira (Ed. Caminho). Não, pelo menos na visita que o DN fez ao local, não se comeu de olhos tapados, mas a luz dos candeeiros é ténue e focada nos alimentos, como uma espécie de refeição à luz das velas.

O restaurante é parte do hotel Torel Palace, no Porto, e isso faz com que o Blind esteja disponível para hóspedes e não hóspedes, existindo duas escolhas para comer: o Menu Gastrobar, com escolha à carta ou o Blind Emotions, menus de degustação, servidos na tal sala mais privada, e menos iluminada, do restaurante.

Nessa sala, os momentos do jantar são acompanhados pelo chefe de sala, e também sommelier, João Neves, que vai explicando os momentos e as escolhas de vinho para harmonizar. Sempre com o objetivo de provocar os sentidos enquanto comemos, bebemos, cheiramos, escutamos... Aliás, um dos pratos é acompanhado por headphones com sons da natureza, diferentes para cada comensal, para acompanhar um dos pratos.

Tudo tem um ambiente mais ou menos secreto, sem ser sinistro ou desconfortável, por isso mesmo não há fotos do menu para que os clientes sejam surpreendidos à vontade do chef. Falando da comida, para lá das texturas, crocâncias e surpresas visuais e de palato, o pregado na brasa com caldo de peixe assado ou sobremesa de caramelo salgado vem diretamente da memória do chef para ficar na nossa. Com a infância entre a Suíça e Portugal e formado na escola de cozinha e pasteleira de Neuchâtel, Vítor Matos foi distinguido, entre outros prémios, como Cozinheiro do ano (2003) e Chef de cozinha do ano (2013) a distinção Prix Chefs de l'Avenir em 2011 pela Académie Internacional de Gastronomia de Paris. A finalizar - e este revelamos - uma das sobremesas traz de volta o algodão doce (barba papa, em francês) e um QR que nos remete para um sítio na Internet onde Vítor Matos nos escreveu as suas memórias. Se um dia o Blind receber uma estrela Michelin, essa será a menos surpreendente das surpresas deste espaço gastronómico.

Chef Vítor Matos

"O nosso principal objetivo será sempre que as sensações permaneçam na memória de quem a experiencia."


O restaurante Blind tem dois conceitos. Como explica esses conceitos diferentes dentro do mesmo espaço?
A existência de dois conceitos distintos está diretamente relacionada com as necessidades da unidade hoteleira e com a adaptação do mercado à nova realidade pós pandemia.

No futuro, pós-covid, a ideia é aumentar o espaço de fine dining ou será sempre um espaço à parte do restaurante "normal"?
O nosso objetivo é caminhar nessa direção, em que todo o espaço do restaurante sirva os Blind Emotions.

Há um despertar dos sentidos, no menu, headphones com sons da natureza. É para ser um menu com mais momentos destes. Se sim, porquê?
Sim, todos os momentos criados têm como objetivo despertar os sentidos.

É um serviço a apontar para as estrelas Michelin?
É um serviço a apontar para a excelência e produto único e diferenciador, as estrelas Michelin são reconhecimento disso mesmo.

No final da experiência, o que gostava que ficasse na memória do cliente?
A experiência é um despertar de sensações, portanto o nosso principal objetivo será sempre que essas sensações permaneçam na memória de quem a experiencia. Mais que alimentar queremos que a emoção perdure!

filipe.gil@dn.pt

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