Nestes chocolates também há bicharoco

Imagine que está a comer um chocolate misturado com cereais de pequeno-almoço abertos há 15 dias. É a isso que sabem as tabletes de chocolate com insetos, garante Francisco Siopa, chef executivo de pastelaria do Penha Longa Resort, em Sintra, um dos primeiros no país a aventurar-se neste mercado. "Têm um sabor neutro", afiança àqueles que nunca se arriscaram a experimentar estes "bicharocos" tão comuns noutras paragens.

Foi só em junho de 2021 que passou a ser permitida em Portugal a utilização de alguns insetos em produtos alimentares. Nessa altura já o chef Francisco Siopa, um dos mais conhecidos profissionais do setor pelo trabalho desenvolvido em torno do chocolate, andava a testar a utilização de grilos, escaravelhos e larvas de tenebrio nas suas tabletes. Uma curiosidade suscitada por uma amiga que, em 2015, depois de uma viagem a São Francisco, nos Estados Unidos, lhe ofereceu um presente mistério. Provou e gostou daquele crocante e sabor meio salgado. Só uns dias depois ficou a saber que aquelas trufas tinham grilos lá no meio. "Aquilo despertou-me a atenção", conta o chef, lembrando que começou a fazer testes com os insetos e farinhas que adquiria no estrangeiro.

Com a legalização, com o fim da pandemia e com a benção do diretor, que o apoia "nestas loucuras", Francisco Siopa criou para a The Chocolate by Penha Longa tabletes de chocolate negro Brasil Callebaut e praliné de Pecan com insetos (18€ cada), mais precisamente Larvas de Tenebrio Molitor, Grilos desidratados e Farinha de Larvas de Buffalo.

"É a número 2 no Top das tabletes que nós temos", diz o chef para comprovar a "surpreendente" aceitação da clientela a esta novidade, sobretudo da parte dos hóspedes estrangeiros do resort. "O inseto está seco. Não sabe a nada. Foi tratado, é só memo o esqueleto", garante ao cliente "mais conservador".

Atualmente já há algumas opções à venda em supermercados, mas as tabletes do Penha Longa Resort vêm com o selo de qualidade do chef Francisco Siopa, um dos maiores especialistas nacionais em chocolates. Garante que trabalhar este tipo de ingredientes não traz qualquer dificuldade e não tem dúvidas de que "vai ser uma tendência nos próximos anos", até porque não encarece o produto final e já não é necessário ir ao estrangeiro para adquirir a matéria-prima, havendo uma empresa especializada no setor, a Portugal Bugs. Está já a testar uma sobremesa para servir num dos restaurantes do hotel com chocolate, frutas exóticas e, claro, insetos. E acredita que não demorará muito até que abra um restaurante especializado em comida com insetos.

Com o dia dos namorados a aproximar-se é o próprio chef Francisco Siopa a admitir que estes não são os chocolates mais indicados para oferecer nesse dia. "Ninguém quer insetos para fazer uma surpresa romântica", diz. Para essa data, a The Chocolate by Penha Longa tem outras opções, igualmente gostosas e mais apelativas à visão. Para "ter todo o prazer do mundo numa só dentada", os bombons One Bite (18€ a caixa de 12), por exemplo, refletem a herança portuguesa, com pitadas de ingredientes regionais que tanto podem ser azeite do Alentejo, limão de Mafra (a terra natal do Chef Siopa) ou flor de sal de Castro Marim.

Para o São Valentim, o Resort disponibiliza ainda dois programas diferentes até dia 26. O Be My Valentine inclui alojamento, massagem e jantar para duas pessoas (a partir de 455€ por noite, para duas pessoas), enquanto o Be My Valentine no Penha Longa SPA inclui massagem e almoço para duas pessoas (234€ para duas pessoas).

Para um jantar romântico a dois, os restaurantes Arola e Spices oferecem a possibilidade de experimentar o menu dos chefs por 120 euros por pessoa (sem bebidas).

sofia.fonseca@dn.pt