Há dois cientistas portugueses entre o grupo de mais de duas centenas que ganharam novas bolsas milionárias do Conselho Europeu de Investigação (ERC, na sigla de língua inglesa)..Os dois cientistas portugueses juntam-se assim a a mais de uma dezena de outros que, desde 2007, têm ganho estas e outras bolsas atribuídas pelo ERC..As bolsas anunciadas esta quinta-feira são as Advanced (Avançadas), que podem ir até aos 2,5 milhões de euros para cinco anos, e os portugueses entre os vencedores deste último concurso são o físico e historiador das Ciências Henrique Leitão, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL), e Paulo Lourenço, da Universidade Minho..Henrique Leitão recebe dois milhões de euros, que vão servir "para contratar mais investigadores e fazer as missões necessárias a vários arquivos em Portugal, Espanha e, provavelmente, também a Inglaterra e Holanda", explica ao DN o físico, historiador das ciências e investigador da FCUL..O objetivo do trabalho "é estudar os primeiros roteiros roteiros de navegação portugueses e espanhóis, que são os primeiros documentos europeus, e possivelmente do mundo, que mostram informações sobre ventos, correntes, geomagnetismo e outros, à escala do planeta, para perceber como essa informação gerou a conceção da Terra como um mundo global", adianta Henrique Leitão..Em causa está o estudo de muitas centenas de documentos, sendo certo que muitos não são sequer ainda conhecidos. "Com o nosso trabalho pretendemos fazer esse levantamento global, e depois estudar esta documentação de uma forma que nunca foi estudada", sublinha o investigador..Até agora estes roteiros foram estudados apenas como documentos de navegação, e agora trata-se de estudar a forma como eles foram analisados na própria época e perceber como, a partir daí, emergiu a ideia da Terra como um mundo global..Esta é segunda bolsa ERC ganha pelo grupo de História da Ciência dos séculos XVI e XVII, na FCUL. Há dois anos, Joaquim Alves Gaspar venceu uma Starting Grant (bolsa de arranque), no valor de mais de um milhão de euros, para estudar cartografia.."São bolsas muito importantes, quer pelo prestígio e o reconhecimento internacional do nosso trabalho, quer pela verba, que abre possibilidades de trabalho que os financiamentos nacionais não nos dão", diz o investigador.Henrique Leitão redescobriu a história da ciência em Portugal. Para o fazer, mergulhou nos arquivos do país que estavam por estudar e explorar e, nas duas últimas décadas, descobriu uma série de novidades sobre história da ciência portuguesa dos séculos XVI e XVII, o que lhe valeu o reconhecimento do Prémio Pessoa, em 2014. Esta bolsa reconhece igualmente a excelência do trabalho feito, e abre a porta a mais novidades..Paulo Lourenço, o outro vendedor de uma bolsa avançada, vai desenvolver, por seu turno, um projeto inovador na área da sismologia aplicada ao património..O projeto, que vai receber 2,9 milhões de euros - estas bolsas preveem montantes até aos três milhões quando é necessário adquirir novos equipamentos -, pretende agregar novos padrões para fazer a avaliação sísmica das construções que integram a herança cultural..As bolsas Avançadas ERC destinam-se a cientistas líderes de grupos de investigação, "com trabalhos de investigação de excelência reconhecidos", e o concurso é muito competitivo. Para se ter uma ideia, dos 2052 projetos submetidos a esta bolsa, apenas 222 foram contemplados com financiamento - uma taxa de aprovação de apenas 10.8%..Os 222 cientistas contemplados são de 29 nacionalidades diferentes, sendo o Reino Unido quem tem mais cientistas financiados (47), seguido da Alemanha, com 32, e a França, com 31..O financiamentos destas, e de todas as outras modalidades de bolsas ERC, provém do Horizonte 2020. Ao todo, são 13,1 mil milhões de euros (17%) do bolo global do programa europeu para a ciência, tecnologia e Inovação.."Estas bolsas apoiam o trabalho de cientistas excecionais por toda a Europa", afirma o comissário europeu para a Investigação, Ciência e Inovação, Carlos Moedas, sublinahndo que "o trabalho pioneiro que desenvolveram tem o potencial de fazer a diferença na vida quotidiana das cidadãos e de fornecer soluções para alguns dos nossos desafios societais mais urgentes". Estas bolsas dão "a esses investigadores brilhantes a possibilidade de seguirem as suas ideias mais criativas e de desempenharem um papel decisivo no avanço de todos os domínios do conhecimento", conclui Carlos Moedas.