Cambridge e Goldsmiths. Coimbra não é a única a eliminar a carne de vaca
A Universidade de Coimbra anunciou no início desta semana que a partir de janeiro deixaria de servir carne de vaca nas cantinas da instituição. A medida tomada pela terceira maior universidade do país pode ser pioneira em Portugal, mas lá fora há outras instituições do ensino superior a seguir a mesma ideia com o objetivo de eliminar as suas pegadas de carbono. Cambridge e Goldsmiths, no Reino Unido, já não permitem que seja servida carne de vaca.
No caso da universidade de Cambridge, a redução começou em 2016 e, segundo um estudo realizado pela própria instituição, já levou a uma diminuição de um terço das emissões de carbono provenientes da alimentação. Agora, a carne foi afastada por completo dos menus, tal como alguns peixes considerados pouco sustentáveis e substituídos por opções vegetais.
"A sustentabilidade é muito importante para os nossos alunos e funcionários e queremos garantir que, não apenas respondemos às suas necessidades, como também promovemos um ambiente de restauração cada vez mais amigo do ambiente", explica no site da universidade o diretor, Nick White. "Isto envolve sacrifícios, mas é a coisa certa a fazer. Trata-se de facilitar a escolha certa".
A Universidade de Londres Goldsmiths optou por tomar a mesma decisão com efeito a partir já deste ano letivo. "Hambúrgueres de carne e água engarrafada serão consignados à história no campus da universidade de Londres Goldsmiths a parte deste ano letivo", informou a escola, em agosto.
Cortar na carne de vaca é uma forma significativa de reduzir a pegada de carbono, uma vez que esta contribui para as emissões de CO2, segundo o presidente da associação ambientalista Zero. "Quando nós comemos a carne de vaca já estamos no segundo nível da cadeia alimentar, já se perdeu bastante energia e temos emissões de metano associadas", diz Francisco Ferreira.
No caso destas três universidades, nenhuma adotou a eliminação da carne de vaca de forma isolada. As garrafas de plásticos descartáveis vão ser substituídas por vidro ou outros materiais biodegradáveis num esforço para neutralizar a pegada de carbono até 2025 no ensino superior em Inglaterra. Em Coimbra, o prazo para cumprir o mesmo objetivo é mais alargado, até 2030, mas já estão a ser implementadas mudanças. Os novos estudantes receberam um kit de boas vindas só com materiais recicláveis, as lâmpadas dos edifícios foram substituídas por leds, foram colocados mais ecopontos pela universidade, entre outras coisas.
"É uma boa medida que tem de ser enquadrada com outras e tem de ser explicada e percebida. Em relação ao consumo de carne, achamos que ele deve ser reduzido, mas não proibido e adquirido localmente de forma sustentável. Mas se há instituições que querem reduzir a sua pegada, isto é compreensível", diz o ambientalista Francisco Ferreira.
No entanto, a decisão não foi recebida de braços abertos por todas as pessoas quer em Portugal, quer no Reino Unido. Rachel Carrington do sindicato dos agricultores ingleses acusa a universidade de recorrer a "uma abordagem demasiado simplista", em declarações à BBC.
A proibição da carne de vaca nas universidades é vista como sendo radical e limitadora da liberdade de escolha da comunidade escolar. Em Portugal, mais de dez associações de agricultores manifestaram-se contra a medida. Jorge Pereira é agricultor na ilha do Pico e optou por escrever uma carta dirigida ao reitor da Universidade de Coimbra, que publicou na rede social Facebook: "Peço-lhe que reflita e estude melhor as suas medidas para atingir tão nobre objetivo que é o de ser a primeira Universidade livre de carbono. Enquanto Universidade esperava de si uma atitude de trabalho e cooperação com os produtores, rumo a esse objetivo, não uma atitude de pura e simples exclusão do trabalho destes produtores".
"O que estamos a fazer é olhar para o futuro, cuidar do futuro dos jovens, é um problema de geração. Quem quiser entender que as universidades e a nossa, no caso concreto, têm responsabilidade social, entende. Quem não quiser entender, pois com certeza, é livre de ter opinião diferente", indicou, esta quinta-feira, o reitor da Universidade de Coimbra, Amílcar Falcão, à agência Lusa.
Questionado sobre o mesmo tema, esta sexta-feira, o Presidente da República indicou apenas que não tencionava deixar de consumir carne "nomeadamente carne de vaca", apenas reduzir a quantidade que come atualmente.
Mais moderadas, as Universidade inglesas Ulster, East Anglia e Oxford defendem uma redução crescente da carne de vaca nas suas cantinas e instituíram as "segundas-feiras sem carne". Tal como a Universidade de Edimburgo que anunciou como objetivo alcançar a meta dos 50% de redução da carne de vaca.
A Universidade de Westminster criou cartão que concede uma refeição vegetariana gratuita por cada quatro almoços sem carne feitos na mesma cantina.