Garcia de Orta. "Podemos não ter médicos para assinar as contratações"

Para responder à falta de médicos, principalmente na urgência pediátrica, a administração da unidade hospitalar de Almada prepara-se para contratar três profissionais, mas não pode garantir que as vagas sejam preenchidas. Isso depende dos médicos, diz.

O presidente do Conselho de Administração do Hospital Garcia de Orta, em Almada, Luís Amaro, e o diretor clínico, Nuno Marques, garantiram esta quinta-feira durante uma audição na Assembleia da República a abertura de sete vagas para pediatras na unidade hospitalar, com o aval da tutela. Três destas devem ser preenchidas brevemente.

No entanto, e embora Luís Amaro tenha considerado "o reforço da equipa absolutamente fundamental ", também referiu que a administração não pode garantir que as contratações venham a ser feitas."Tudo faremos no sentido de motivar os médicos para que fiquem connosco - o que não é uma garantia. Os médicos têm a possibilidade de escolher se querem ou não ficar", indicou o recém nomeado presidente do conselho de administração.

"Nós podemos conseguir as contratações e não termos médicos para as assinar", reforçou Nuno Marques.

Nos últimos meses, a urgência pediátrica da unidade hospitalar tem-se debatido com falta de profissionais, tendo a Ordem dos Médicos alertado em abril para a possibilidade do serviço encerrar durante a noite. Atualmente, a maioria dos turnos é cumprida por apenas três médicos, sendo que muitas vezes dois destes são clínicos gerais.

Em 2018, deixaram a unidade hospitalar nove pediatras, segundo a ministra da Saúde, Marta Temido, e estes não foram substituídos, o que coloca uma pressão acrescida em quem fica. Os chefes de equipa já entregaram um pedido de isenção de responsabilidades e o diretor de Pediatria do hospital, Anselmo Costa, demitiu-se no final do mês passado por considerar que isto coloca em causa a qualidade dos cuidados prestados.

Motivar médicos para preencher as vagas

Apesar da falta de profissionais, há três meses, ficaram por preencher quatro vagas na pediatria do Garcia de Orta por desistência dos médicos. Um dos especialistas assinalados chegou mesmo a ingressar dias depois noutro hospital do Centro- Lisboa. Situação que não é de agora, segundo Nuno Marques, em 2016, dos 17 médicos formados pelo serviço, apenas cinco permaneceram no hospital.

Na semana passada, durante a audição do diretor do serviço de Pediatria demissionário, Anselmo Costa, este afirmou que os médicos estariam a deixar o hospital por desmotivação. Confrontado pelos deputados com esta questão, Luís Amaro reconheceu o problema e indicou que: "há também a necessidade do próprio serviço se restruturar e permitir aos pediatras assumirem outro tipo de projetos que os possam fixar, porque a pediatria geral só por si não garante isto".

Estas indicações deverão ainda ser aplicadas a todos os departamentos da unidade hospitalar, uma vez que, apesar das urgências pediátricas serem o caso mais crítico, os restantes serviços também sofrem com falta de médicos.

"S e nada for feito, este problema vai ser colocado a outros serviços, como a neonatologia, porque as pessoas que estão lá agora têm cerca de 62 anos e daqui a três ou quatros [anos] vão legitimamente reformar-se", reconhece Luís Amaro.

Qualidade do serviço

Mesmo com dificuldade em preencher as escalas de abril, a administração garante que a "qualidade deste serviço nunca esteve em causa graças à dedicação da equipa clínica", afirmou Nuno Marques. O diretor clínico disse ainda que tem estado a analisar dados referentes ao número de médicos da instituição nos últimos dez anos e que a diminuição tem sido constante, não sendo uma situação exclusivamente de agora. "A produtividade do serviço tem sido constante. O que mudou nestes dez anos foi o envelhecimento da equipa clínica".

O diretor clínico quis também frisar que a urgência nunca chegou a encerrar e que nesta escala (de abril) havia inclusive profissionais de férias.

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