"Foi um mal entendido". OMS recua na "rara" transmissão por assintomáticos
A epidemiologista Maria Van Kerkhove tinha dito segunda-feira que os assintomáticos raramente transmitem o vírus. Choveram críticas de cientistas e a especialista da OMS diz agora que a questão está em aberto e que apenas deu uma resposta baseada em dois ou três estudos.
A principal especialista da Organização Mundial da Saúde (OMS) na resposta ao novo coronavírus, recuou esta terça-feira (9 de junho) na sua afirmação de que a transmissão do vírus por pessoas assintomáticas é "muito rara". Afirma que não é seguro que seja assim e assegura que não houve alteração na política da OMS.
Maria Van Kerkhove, que fez o comentário original numa conferência de imprensa da OMS na segunda-feira, disse esta terça-feira num briefing semelhante que se baseava em apenas dois ou três estudos e que era um "mal-entendido" dizer que a transmissão assintomática é rara em todo o mundo.
"Estava apenas a responder a uma pergunta, não estava a declarar uma política da OMS ou algo do género", justificou epidemiologista que é a responsável técnica da OMS no controlo de doenças infecciosas.
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Van Kerkhove esclarece que as estimativas de transmissão de pessoas sem sintomas derivam principalmente de modelos que podem não fornecer uma representação precisa. "Esta é uma grande questão em aberto e continua a ser uma questão em aberto", disse.
1/2@WHO recently published a summary of transmission of #COVID19, incl. symptomatic, pre-symptomatic and asymptomatic transmission
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In this summary, we state: "Comprehensive studies...
Muitos cientistas criticaram fortemente a OMS por lançar a confusão sobre o tema, dadas as implicações com políticas de combate à pandemia. Governos de todo o mundo têm recomendado máscaras faciais e medidas de distanciamento social por causa do risco de transmissão assintomática.
Vários cientistas disseram que os comentários de Van Kerkhove não refletem a investigação científica atual.
"Todas as melhores evidências sugerem que pessoas sem sintomas podem disseminar rapidamente o SARS-CoV-2, o vírus que causa a Covid-19", afirmaram cientistas do Instituto Global de Saúde de Harvard em comunicado divulgado esta terça-feira, citado pelo The New York Times.
"A comunicação de dados preliminares sobre os principais aspetos do coronavírus, sem muito contexto, pode ter um tremendo impacto negativo na maneira como o público e os responsáveis por políticas respondem à pandemia", analisam, em tom crítico.
Um artigo amplamente citado, publicado em abril, sugeriu que as pessoas são mais infecciosas cerca de dois dias antes do início dos sintomas e estimou que 44% das novas infeções são resultado da transmissão de pessoas que ainda não apresentavam sintomas.
Esta terça-feira, Van Kerkhove e outros especialistas da OMS reiteraram a importância do distanciamento físico, higiene pessoal, testes, rastreamento, quarentena e isolamento no controlo da pandemia.
O debate sobre a transmissão acontece um dia depois da OMS alertar que os casos atingiram um novo pico global num único dia - 136.000 no domingo, com três quartos em apenas 10 países, principalmente nas Américas e no sul da Ásia.
O novo coronavírus já infetou mais de sete milhões de pessoas em todo o mundo e matou pelo menos 405.400,