Ciêntista chinês defende manipulação genética: "Estou orgulhoso"

Respondendo às críticas da comunidade científica, He Jiankui, o cientista que diz ter feito alteração genética em embriões, garante que a sua conduta foi segura e ética.
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"Sinto-me orgulhoso", disse He Jiankui, o cientista chinês que afirma ter criado os primeiros bebés geneticamente modificados. Apesar de muito criticado por outros cientistas, que o acusam de irresponsabilidade, numa conferência em Hong Kong, na quarta-feira, o cientista de 43 anos garantiu que todas as suas experiências de manipulação de genomas foram seguras e éticas e que a única coisa que lamenta é o facto de a notícia ter sido "divulgada inesperadamente".

Foi a primeira vez que o cientista falou publicamente sobre esta experiência depois de as notícias terem sido publicadas, na segunda-feira. Em causa estão duas gémeas cujo ADN terá sido manipulado de forma a que estas tivessem resistência inata à infeção pelo vírus HIV, uma mutação genética que se estima ocorrer naturalmente em menos de 1% da população mundial.

Muitos dos principais especialistas presentes na conferência apelidaram a conduta do He Jiankui de antiética e dizem que há sérias perguntas não respondidas sobre a segurança da manipulação de embriões e a necessidade de garantir que essas experiências sejam monitorizadas, para que a tecnologia não seja mal utilizada. Um dos que se mostrou mais crítico foi o norte-americano David Baltimore, vencedor do Prémio Nobel da Medicina em 1975, que disse: "Não me parece que tenha sido um processo transparente. Nós só descobrimos o que aconteceu depois de as crianças terem nascido. Pessoalmente, não considero que isto seja medicamente necessário." Na verdade, a manipulação de ADN é proibida em vários países, incluindo na China, e a investigação não foi acompanhada nem verificada por qualquer entidade oficial.

Depois de ter ouvido todas as críticas dos seus pares, He Jiankui dirigiu-se à audiência para explicar que apesar de não ter informado a Southern University of Science and Technology, a universidade chinesa onde trabalha, das suas pesquisas, também não se esforçou por mantê-las secretas, tendo apresentado relatórios preliminares em várias conferências e debatido os resultados com outros cientistas. Garantiu ainda que os pais das crianças gémeas e os outros casais que participaram na investigação tinham toda a informação necessária e conheciam os riscos envolvidos, tendo perfeita noção do que estava a ser feito aos embriões. "Os pais foram informados de todas as implicações disto", disse He. "Lembrámo-los da opção de abandonar a experiência sem fazer a implementação. Mas eles optaram por continuar."

O cientista mostrou algumas imagens destes três anos de investigação, que envolveu ratos, macacos e embriões humanos e explicou que usou a técnica Crispr-Cas9 para desativar um gene, CCR5, que cria a proteína que torna possível o desenvolvimento do VIH. Segundo o cientista, os pais, sobretudo o pai, que é VIH positivo, viram o procedimento como uma forma de recuperar o sentido da vida. "Sinto-me orgulhos, porque eles tinham perdido a esperança", disse o dr. He. "Mas com esta proteção, o pai enviou-me uma mensagem dizendo que vai trabalhar muito para ganhar dinheiro e tomar conta das duas filhas e da mulher."

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