O envelhecimento da população chinesa obrigou a China a alterar a política de natalidade. Depois de a 1 de janeiro de 2016 ter posto fim à política do filho único, permitindo que os casais tivessem duas crianças, Pequim avança agora com a completa liberalização da natalidade..Foram quase 40 anos de uma política, muitas vezes classificada de desumana, que restringiu a apenas um filho o número de descendentes que um casal podia ter. Passados todos estes anos, o país padece dos males das sociedades modernas e as autoridades chinesas tiveram que se render às evidências. Porque, por mais estranho que possa parecer, num país onde vivem 1,370 milhões de pessoas... há falta de pessoas..O aumento da esperança de vida do chinês médio, que nos últimos 50 anos passou de 57,6 anos para 76,7 e o envelhecimento da população (em 2020 prevê-se que haverá mais de 250 milhões de chineses com mais de 60 anos e em 2050 um em cada três terá essa idade) são fatores que justificam a sucessiva alteração das políticas de natalidade tão restritas..Ao mesmo tempo, a população ativa não deixa de diminuir desde 2010 - segundo um estudo do governo chinês, até 2035 o país perderá cerca de 100 milhões de trabalhadores. Somando a esta questão as baixas taxas de natalidade e um sistema de segurança social desadequado, poderá estar em causa a sustentabilidade económica do Estado e das famílias, conforme refere o El Mund o..Nasceram mais crianças mas ainda assim poucas.O esperado baby boom não aconteceu. Em 2016, o primeiro ano em que os casais chineses passaram a ser autorizados a ter dois filhos, o país registou 17,8 milhões de nascimentos, mais 1,3 milhões se comparado com o ano anterior. Mas mesmo assim não foi o suficiente. Em 2017, os números de nascimentos já registaram uma queda face ao ano anterior, ficando-se nos 17,2 milhões de crianças..Os chineses são uma população traumatizada pelos recentes os excessos cometidos pelas autoridades para fazer cumprir a política do filho único - milhares de abortos, esterilizações forçadas e multas pesadas para quem não cumpria a lei..A isso soma-se o aumento do custo de vida e da educação, bem como a integração da mulher no mundo laboral, o que predispõe os casais para terem menos filhos. É assim nas sociedades modernas, e apesar do levantamento das restrições impostas ao longo de quase quatro décadas será também assim na China..O regime está atento às ameaças da queda da demografia e ainda recentemente o Diário do Povo, órgão oficial do Partido Comunista Chinês, procurava estimular a população a procriar: "Ter filhos não é só um assunto familiar, é também um assunto de Estado.".Um artigo que os críticos classificaram como uma pressão clara às mulheres chinesas para engravidarem. Além disso, especialistas têm dito que alterar a restrição ao número de filhos não é suficiente e que estas medidas deviam ser acompanhadas de apoios económicos, nomeadamente nas áreas da educação e habitação..O volte-face chinês nesta matéria é de tal forma, que tem também reflexos ao nível da organização do estado, com a extinção de organismos responsáveis pelas políticas de planeamento familiar. No lugar destes, será criado um organismo para monitorizar a população e o desenvolvimento familiar, anunciou a Comissão Nacional de Saúde chinesa..Para pressionar as mulheres a engravidarem, províncias chinesas optaram por diferentes incentivos, como o alargamento da licença de maternidade ou bonificações para a educação e habitação.