Centrais a carvão e refinarias. Estas são as dez instalações mais poluentes em Portugal
A Central Termoelétrica e a refinaria de Sines, a Central Termoelétrica do Pego, a Central de Ciclo Combinado da Tapada do Outeiro e a Cimpor, em Alhandra. Estas foram as instalações que mais contribuíram para o aumento das emissões de gases de efeito de estufa em Portugal, no ano passado. O levantamento foi feito pela associação ambientalista Zero, a partir dos dados do registo do Comércio Europeu de Licenças de Emissão, e divulgado este domingo, um dia antes do início da Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas para as Alterações Climáticas.
As centrais a carvão portuguesas têm mecanismos para remover grande parte dos efeitos poluentes, mas nada conseguem fazer quanto à emissão de dióxido de carbono (CO2). Produzem cerca de 900 g/CO2eq. por cada quilowatthora (kWh), quando uma central a gás natural emite 360 g CO2eq / kWh e as centrais híbridas, solares ou eólicas têm zero emissões. É urgente que as centrais a carvão sejam "substituídas pela utilização de centrais de ciclo combinado a gás natural existentes, como como recurso transitório e, a curto/ médio prazo, por fontes de energia limpa. Estes números reforçam a importância da concretização do anúncio do governo em encerrar todas as centrais que recorrem a carvão até 2030", alerta a Zero.
O primeiro-ministro anunciou, em outubro, que o Governo está preparado para encerrar a central termoelétrica do Pego no final de 2021 e fazer cessar a produção da central de Sines em setembro de 2023. Em 2018, as centrais a carvão reduziram a produção de eletricidade em relação a 2017, ano em que uma seca significativa impediu maior produção hidroelétrica. A reduçãoaconteceu aliás em quase todas as unidades industriais, que apresentam um decréscimo nas emissões face a 2017.
Estas são as dez instalações mais poluentes, por ordem: Central Termoelétrica de Sines, Central Termoelétrica do Pego, Refinaria de Sines, Central de Ciclo Combinado da Tapada do Outeiro, Cimpor - Centro de Produção de Alhandra, Centro de Produção de Souselas, Central Termoelétrica do Ribatejo, Refinaria do Porto, Fábrica SECIL - Outão e Central de Ciclo Combinado do Pego. Todas juntas, estas entidades são responsáveis por 28% do total das emissões em Portugal.
Depois do decréscimo das emissões nos últimos dois anos, é previsível, segundo a Zero, que em 2019 as emissões da produção de eletricidade sofram uma forte redução, "emissões especificamente associadas ao uso do carvão devem cair para metade". É o que indicam os dados das Redes Energéticas Nacionais das diferentes fontes de produção de eletricidade entre janeiro e outubro deste ano.
No entanto, há indústrias que ainda não atingiram o ponto de redução, pelo contrário, continuam a aumentar as emissões. "A ZERO tem vindo a alertar para a subida de emissões no setor de aviação. Apesar de não se tratar de uma unidade industrial, as companhias de aviação estão incluídas no comércio europeu de licenças de emissão". Se em 2017, a TAP emitiu 1,2 milhões de toneladas de emissões de dióxido de carbono, em 2018, a companhia área portuguesa aumentou 13% para 1,4 milhões.
Na véspera da Cimeira do Clima das Nações Unidas, que começa esta segunda-feira em Madrid e se prolongará por mais duas semanas, fica o desafio. Até porque a conferência só será bem-sucedida se ficarem estabelecidos os cortes de emissões de carbono que cada país terá de apresentar obrigatoriamente daqui a um ano na cimeira que se realizará em Glasgow, no Reino Unido.
Perante cerca de 25 mil políticos, peritos, jornalistas e outros participantes, esperam-se também anúncios de investimento em políticas ambientais, uma vez que o Acordo de Paris já previa um fundo de cem mil milhões de dólares para o Fundo Verde do Clima até 2020. E deverá voltar à mesa das negociações o tema do "sistema de seguros", um apoio para países que sofrem com catástrofes climáticas.
Em 2018, foram produzidas 55,7 gigatoneladas de dióxido de carbono no mundo, de acordo com Relatório sobre a Lacuna de Emissões de 2019, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), divulgado na passada terça-feira. Para viabilizar o Acordo de Paris, seria preciso que a taxa de emissões começasse "imediatamente" a decrescer 7,6% por ano, entre 2020 e 2030, quando na última década esta taxa tem estado a subir 1,5% ao ano.
É preciso reduzir mais de cinco vezes a quantidade de emissões lançadas na atmosfera, sob pena de as ondas de calor e de as tempestades atingirem a Terra de forma irreversível. Se estas metas não forem ajustadas e cumpridas, a temperatura do planeta pode subir 3,2 graus centígrados neste século, deixando para trás o objetivo dos 1,5ºC.