Invenção do ar condicionado não é bruxaria mas inventor descende de uma bruxa
Se o senhor Willis Haviland Carrier (1876-1950) não tivesse registado a patente Nº 808,897 a 2 de janeiro de 1906 o mundo teria tido os benefícios do ar condicionado muito mais tarde, mesmo que o norte-americano já fosse repetente nesta sua tentativa de controlar as temperaturas do planeta, pois em 1902 já montara um aparelho para refrescar os americanos. Um negócio que em 1915 já ia de vento em popa e para o que foi necessário fundar a sua empresa, a Carrier Corporation.
É normal verem-se nos filmes policiais de Hollywood do meio do século passado aparelhos de ar condicionado de cor beije com o logotipo Carrier pintado, em cenas em que o calor aperta mas a amante do bandido está levemente vestida porque uma brisa fresquinha percorre a divisão onde ela está. Mesmo que a razão para Carrier ter inventado o ar condicionado em termos industriais fosse menos glamourosa, devia-se à necessidade de baixar a temperatura numa gráfica da cidade de Buffalo, no estado de Nova Iorque, onde os operários não aguentavam o calor. Por isso, pode-se declarar que esta tecnologia que tanto tem valido às gerações posteriores foi realmente inventada no dia 17 de julho de 1902 nessas instalações.
O que tornava a invenção de Carrier novidade, e melhor que a tradicional ventoinha - esta foi inventada nos EUA em 1882, também por um americano, Schuyler S. Wheeler -, era o facto de ter quatro avanços tecnológicos: o controlo da temperatura, da humidade, da circulação do ar e da limpeza do ar. Carrier nunca deixou de melhorar o aparelho que inventou, sendo que um ano depois da primeira patente registou outra, que se tornou a principal norma para o funcionamento destes aparelhos e, em 1911, anunciou a fórmula final para o ar condicionado.
Também aqui, Hollywood poderia estar presente, afinal Carrier dava a conhecer as suas descobertas como se fosse um artista que definia as regras mundiais para o funcionamento destes aparelhos num documento pomposamente intitulado "Fórmula Racional Psicométrica", que foi considerado na assembleia de 1911 da Sociedade Americana de Engenheiro Mecânicos como a "Magna Carta da Psicometria".
A história dos Carrier começa bem antes e também nesta parte podia servir de argumento para Hollywood, pois o primeiro elemento da família a pôr o pé nos Estados Unidos fera um galês de nome Thomas, chegado a Massachussetts por volta do ano 1663, ao abrigo da justificação de ser um exilado político. Esse primeiro Carrier casou com Martha Allen, uma mulher que tem uma história estranha, pois foi acusada de ser bruxa. Como nunca o confessou, tornando-se numa das poucas pessoas que contrariou a reação habitual aos atos de fé da época, os seus dois filhos foram pendurados pelos calcanhares o tempo suficiente para que testemunhassem contra a própria mãe, e assim a condenassem à morte.
Já a vida de Carrier não foi tão dramática e até a Grande Guerra o beneficiou, pois juntou-se a seis amigos e com as economias de todos deixaram a empresa onde trabalhavam para montar a sua própria fábrica de aparelhos de ar condicionado. No entanto, a Grande Depressão de 1929 estava contra o sucesso empresarial porque diminuiu radicalmente a utilização destes aparelhos. As dificuldades financeiras obrigaram a empresa a fundir-se com outra, o que fez com que Carrier perdesse o controlo da firma. Nada que em 1937 não tivesse sido ultrapassado e que fosse um dos maiores empregadores de Nova Iorque.
Foi na Feira Mundial de Nova Iorque em 1939 que Willis Carrier apresentou a sua visão do futuro para o ar condicionado, num stand que tinha forma de um igloo. Um progresso que teve de esperar pelo fim da II Guerra Mundial, momento a partir do que o boom económico que se verificou difundiu generalizadamente o uso do ar condicionado. Um percurso de sucesso que se manteve, tanto que há dez a Carrier Corporation empregava 45 mil funcionários.