Pauleta

É "tal e qual como quando jogávamos todos à bola na rua", dizem os amigos da terra. Não é "tímido", mas é "humilde" e resguarda a família<br />
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Avançado da selecção de futebol de Portugal empenhado em investir na sua própria terra "Pauleta é um lutador" e "completamente imprevisível", diz Vahid Halihodzic, treinador do Paris Saint-Germain (PSG) Pauleta e Figo : "são diferentes, mas muito amigos"

Pauleta, há muito que lhe chamam assim, sonhava em criança "jogar à bola". Quem o diz é o pai, Manuel Resendes, de 57 anos, que recebeu o DN no número 34 da rua que atravessa a freguesia de São Roque. A mesma casa para onde se mudou quando Pedro tinha dois anos. Não é de espantar num rapaz, comentamos. Pois, só que nele, explica, era "diferente". Quem melhor para o reconhecer do que um pai que também foi jogador? Dele, no café do largo, dizem que "até nem era nada mau?!"

Enquanto o televisor transmitia imagens do treino da selecção, ainda antes da estreia frente a Angola, surgiu Pauleta, em exercícios com Figo . Aproveitamos a deixa para o questionar sobre a relação dos dois 'capitães'. "Já estive muita vezes com eles e são amigos!"

A capacidade de fazer amigos aparenta ser uma das qualidades de Pauleta. Houve quem confessasse ter temido que o amigo de infância "mudasse", quando começou a dar a conhecer ao mundo o "voo do açor", após um golo. No café, cheio, perto da escola primária onde estudou, as conversas cruzam-se. "Ele é o mesmo!" Em suma, e passe a publicidade, nunca terá perdido aquele ar de garoto apanhado a partir uma janela com uma 'bola". Fica é por desvendar (segredos de infância) se, ao contrário do anúncio, os meninos de S. Roque conseguiam livrar-se de um bom 'raspanete'!

À pergunta se tinha orgulho no seu filho, que já parecia despropositada logo que feita, a resposta foi inesperada. "Claro! Mas não é por ser o que conseguiu, embora também." Então porquê?! "É porque ele é um homem grande, trabalhador, dá-se com todos, ajuda os pobres e gosta das crianças porque pensa sempre em si quando era criança (ver caixa).

Ficamos a saber que Pauleta é casado com uma micaelense por quem se enamorou nos bancos da escola, antes de os trocar "pela bola", com uma condição: trabalhar, até à hora de ir para os treinos. Fruto de uma educação religiosa e do dever de obediência, acatou. Ajudava o pai na sua profissão de pintor e, depois?, começava a rondá-lo, a rondá-lo?, ri-se Manuel Resendes. São essas qualidades, garante, que o fazem ter orgulho nos seus três filhos, em Pauleta e nas suas duas irmãs mais novas.

E no dia em que bateu o recorde de Eusébio, no jogo frente à Letónia? "Foi uma das minhas maiores alegrias, mas o Eusébio será sempre o Eusébio e é o meu ídolo!" Um golo assistido no recato da casa, apesar dos cafés a "abarrotar por fora".

Recebidos em dia de festas do Espírito Santo e a uma semana de partir para a Alemanha para se juntar ao filho, na freguesia decorada esvoaçavam já bandeiras das quinas e, claro, também a dos Açores, com o milhafre, a ave que sobrevoa as ilhas, alheia às suas fronteiras?


Perfil

Nasceu a 28 de Abril de 1973

A carreira, começou-a em clubes regionais.

'Voou' dos Açores e nunca militou na I Liga.

Vestiu a camisola das Quinas em 1997.

Goleador, destacou-se no Deportivo da Corunha, em Espanha e no Bordéus e PSG, em França

Pauleta, Avançado

O jogador que superou os 41 golos de Eusébio ao serviço da selecção e marcou o único golo na estreia deste Mundial, começou a aprender a técnica que suporta a mestria em escalões de formação de clubes como o Santa Clara, Benfica e FC Porto, que o quis dispensar para o Maia? Optou por jogar em clubes regionais e esteve no Estoril-Praia e Belenenses. Foi o 'olho' do treinador João Alves quem lhe reconheceu o valor, levando-o em 1996 (sem nunca ter jogado na Liga portuguesa), para o país de nuestros hermanos. No Salamanca, Pauleta "chuta" o clube para o escalão máximo do futebol espanhol, em 1998. O Deportivo da Corunha reparou na média de golos e convidou-o. O "Depor" não se arrependeu: conquistou o seu primeiro título de campeão (1999/00). Segue-se França, para o Bordéus, onde foi eleito duas vezes futebolista do ano. Na época de 2003/04 ingressou no Paris Saint-Germain. Na equipa parisiense, Pauleta ajudou a conquistar o primeiro troféu em seis anos, ao marcar o único golo na final da Taça de França. Recentemente, renovou com o PSG até 2008.

Rei dos golos constrói escola de futebol nos Açores

O projecto de vida escondido por trás do estrelato do actual melhor marcador da selecção nacional, tem um nome: Fundação Pauleta. A intenção anunciada já há algum tempo sussurrada na Região foi posteriormente confirmada pelo próprio. Pauleta escolheu a terra que o viu nascer para singrar o projecto. Uma escola para crianças, que, diz, tal "como ele" gostam de jogar à bola. A ideia "tocou" o coração dos açorianos e agradou, também, ao Governo Regional e à Câmara Municipal de Ponta Delgada. No último mês, o executivo liderado por Carlos César anunciou uma ajuda de 500 mil euros para a construção do complexo desportivo da Escola de Futebol Pauleta, na freguesia de S. Roque, onde o internacional deu os primeiros pontapés. Já a autarquia, assinou, pela mão de Berta Cabral, um protocolo de cooperação, comprometendo-se a construir o arruamento de acesso com um custo estimado de 100 mil euros.

Em seis anos em França, Pauleta foi o melhor marcador do campeonato em várias ocasiões. Em 196 jogos, o avançado apontou 118 golos.

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