Desde 1 de janeiro até 15 de julho (ou seja, antes dos incêndios que desde segunda-feira atingem nas zonas norte e centro do país), a área ardida já ultrapassou os números de 2024. A contabilização feita pelo Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) mostra que desde o início do ano já arderam 10.768 hectares em Portugal continental - um número bastante superior ao do mesmo período do ano anterior, 3462 hectares. Este número, no entanto, já será superior ao divulgado pelo ICNF, uma vez que só o incêndio de Arouca já queimou pelo menos quatro mil hectares de área, segundo a autarquia.De acordo com o relatório feito até 15 de julho pelo ICNF - e que se encontra disponível no site deste instituto -, houve uma diminuição de 36% de incêndios rurais em relação ao período homólogo de 2024. Os 3.370 incêndios rurais registados até essa data são “o quarto valor mais reduzido” em número de ignições desde 2015, mas representam a quinta maior área ardida. Conclusão: até 15 de julho, houve menos incêndios, mas foram mais agressivos, sendo a maior parte (57%) fogos de grandes dimensões (ou seja, com área ardida maior ou igual a 100 hectares).Numa altura em que o combate aos incêndios em Portugal tem sido dificultado pelas temperaturas elevadas, a Polícia Judiciária (PJ) já deteve 26 pessoas suspeitas de terem praticado o crime de incêndio florestal. O levantamento, feito com base nos comunicados divulgados pela PJ até esta quarta-feira (30 de julho), mostra que este número é superior às detenções feitas no período de incêndios do ano passado (20). Estas detenções dizem respeito, apenas, às suspeitas de fogo posto com conduta criminal, com a Guarda Nacional Republicana (GNR) a ter a responsabilidade de deter suspeitos da prática do crime de incêndio florestas nos casos em que possa ter havido negligência na origem da ignição. Entre GNR, PSP e PJ, foram detidas, no ano passado, 99 pessoas por suspeitas do crime de incêndio florestal.Arouca e Ponte da Barca: as situações mais preocupantesSe o dia começou com boas notícias (com os fogos de Penamacor, Alcanede e Nisa a terem sido dominados durante a noite), as temperaturas elevadas continuaram a não dar tréguas. E isso fez com que os incêndios de Arouca e de Ponte da Barca continuassem a não ceder às investidas dos bombeiros.Segundo disse Carlos Pereira, adjunto de operações da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) no ponto de situação feito pelas 19h00: “A ocorrência de Arouca é de elevada complexidade e tem no terreno 711 operacionais, apoiados por duas aeronaves. Houve, durante o período da tarde, uma dificuldade elevada em empenhar meios aéreos devido ao fumo e às fracas condições de visibilidade em todo o perímetro do incêndio. Já em Ponte da Barca, estão 400 operacionais no terreno, apoiados por nove aeronaves. Destas, destacam-se dois aviões espanhóis, ao abrigo da cooperação transfronteiriça, bem como um helicóptero.”Durante a tarde, Vasco Ferraz, autarca de Ponte de Lima (onde deflagrou um incêndio na passada segunda-feira e que chegou a ter 465 operacionais no terreno), queixou-se da falta de aeronaves no combate às chamas. Mas, segundo disse Carlos Pereira mais tarde no briefing operacional das 19h00 (ainda que sem comentar diretamente as palavras do presidente da câmara), as dificuldades que se sentiram em Arouca para colocar aeronaves no terreno “também aconteceram noutros teatros de operação, nomeadamente mais a norte”.À hora do último ponto de situação da Proteção Civil, estavam no terreno 1909 operacionais, apoiados por 25 meios aéreos e 597 veículos, que combatiam “17 ocorrências significativas”. O risco elevado de incêndio mantinha-se em 12 distritos, com o “estado de prontidão especial” a estar no nível três no Norte, Centro e Alto Alentejo..Mais de 60 fogos num só dia levaram mais de quatro mil bombeiros para o terreno.Área ardida triplicou nos últimos 15 dias. Detidos incendiários em Ansião, Arouca e Peso da Régua