O antigo vogal foi indicado pela Assembleia da República em junho de 2024.
O antigo vogal foi indicado pela Assembleia da República em junho de 2024.Foto: Global Imagens

Vogal do Conselho Superior do MP em representação na Assembleia da República renuncia e diz que Parlamento está "bloqueado"

"A Assembleia da República está bloqueada, incapaz de designar representantes para os seus órgãos externos, por ser incapaz de gerar os consensos", escreveu em texto partilhado no Linkedin.
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Paulo Valério, que exercia funções como vogal do Conselho Superior do Ministério Público em representação da Assembleia da República, renunciou ao cargo esta semana. O mandato havia caducado em junho, com a entrada em funções do atual Parlamento. No entanto, tal como aconteceu noutros órgãos, não foram realizadas novas eleições.

Numa publicação no LinkedIn, o antigo vogal, indicado pela Assembleia da República em junho de 2024, escreveu que aguardou “pacientemente” essa eleição, o que acabou por não suceder. “Com a posse do atual Parlamento, ocorrida em junho, caducou o meu mandato, mas, por força de um regime transitório, tenho-me mantido em funções, aguardando pacientemente a eleição de novos representantes. Infelizmente, tal não sucedeu ao cabo de seis longos meses”, escreveu o vogal, que representava o Partido Socialista (PS).

Valério referiu que o mesmo se verificou noutros órgãos externos da Assembleia da República, como o Conselho Superior da Magistratura, a Provedoria de Justiça e o Tribunal Constitucional. E não poupou críticas diante da situação.

“Quando um regime transitório neste domínio se torna permanente, aquilo a que assistimos é à degradação da legitimidade dos mandatos e, mais ainda, à degradação das próprias instituições democráticas, a começar pelo Parlamento”, refletiu. O antigo vogal sublinhou que “não está disponível para estar nessa fotografia”.

“AR bloqueada”

O advogado foi mais longe e escreveu que a Assembleia da República está bloqueada. “Existe hoje um problema mais ou menos oculto na democracia portuguesa: a Assembleia da República está bloqueada, incapaz de designar representantes para os seus órgãos externos, por ser incapaz de gerar os consensos necessários entre as diversas forças políticas legitimamente representadas”, afirmou.

O então vogal evitou apontar responsáveis e disse que a culpa não é o mais importante. “Não interessa de quem é a culpa: interessa que o problema existe e não pode ser varrido para debaixo do tapete. Enquanto assim for, está em risco o normal funcionamento das instituições, tema que muito beneficiaria, já agora, de uma posição clara por parte dos diversos candidatos à Presidência da República”, alertou.

Antecipou ainda que sai com várias “frustrações”, que não pretende revelar para já. “Ao longo do último ano e meio, sensivelmente, procurei estar à altura das minhas responsabilidades, num esforço permanente de conjugação, nem sempre fácil, com a minha atividade profissional. Saio de consciência tranquila, mas com várias frustrações, de que falarei em devido tempo”, garantiu.

Por fim, defendeu o Ministério Público, apesar de reconhecer a existência de problemas. “O Ministério Público, enquanto tal, não é um problema na sociedade portuguesa e essa ideia deve ser combatida sem tréguas. Porém, existem no Ministério Público, como em todos os lugares — para além da escassez de recursos, que é uma constante da vida —, problemas que devem ser atalhados, para que a árvore não se confunda com a floresta”, assinalou. Paulo Valério terminou a publicação com uma metáfora: “Seguindo a Lei de Gresham, numa metáfora de Cavaco Silva, que a má moeda não expulse a boa moeda”.

Novo panorama político

Vários órgãos necessitam de eleições, mas o Parlamento tem vindo a adiar essas decisões. O ex-vogal não é o único a fazer esta crítica. Dois juízes do Tribunal Constitucional, Gonçalo Almeida Ribeiro e José António Pires Teles Pereira, renunciaram após o termo dos respetivos mandatos, sem que se vislumbrassem substituições.

O prazo para a eleição de juízes do Tribunal Constitucional e de outras entidades terminou a 12 de dezembro, mas os partidos com assento parlamentar deixaram a data passar. Assim, estas decisões ficam para 2026.

Ao contrário de composições parlamentares anteriores, a nova configuração partidária na AR mudou o panorama destas votações. Atualmente, um acordo político entre os maiores partidos, geralmente o PSD e o PS, já não é suficiente, como ocorria anteriormente. Será necessário um entendimento adicional, seja com o Chega ou envolvendo outros partidos, como o Livre ou a Iniciativa Liberal, para alcançar os votos necessários.

amanda.lima@dn.pt

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