Nos primeiros seis meses deste ano, a Polícia Judiciária (PJ) registou 32 participações de crimes de violação ocorridos no concelho de Lisboa. No total de 2024 tinham sido 75, mais 17% que em 2023 (64), ano em que instauraram mais dois inquéritos que em 2022, o primeiro ano pós-pandemia de Covid-19 – em 2021 a PJ recebeu 42 denúncias deste crime, cuja investigação é da sua competência, no município.Uma tendência de aumento que se deverá também manter no corrente ano. João Oliveira, diretor da Diretoria de Lisboa e Vale do Tejo da PJ, disse ao DN que "face ao número de participações já recebidas relativas ao concelho de Lisboa, admitimos que no final de 2025 possamos ter um aumento de casos relativamente ao ano anterior. Trata-se contudo de uma mera projeção.” Além das estatísticas das denúncias de violações, a PJ extraiu também do seu Sistema de Investigação Criminal (SICPJ), os valores relativos aos crimes de importunação sexual (importunar outra pessoa, praticando perante ela atos de carácter exibicionista, formulando propostas de teor sexual ou constrangendo-a a contacto de natureza sexual) e de coação sexual (constranger outra pessoa a cometer um ato sexual), ocorridos na cidade, no mesmo período. Se neste último crime houve 10 queixas no primeiro semestre deste ano, em 2024 houve 14 denúncias, uma queda face a 2023, ano em que a PJ registou 24 inquéritos; já no crime de importunação sexual, há uma sólida tendência de recrudescimento até 2024, mas que deve inverter-se este ano. Em 2022 houve oito participações relativas a casos no concelho de Lisboa, em 2023 foram 12 e em 2024 foram 21 – quase o dobro e quase três vezes mais face a 2022. No entanto, nos primeiros seis meses de 2025, apenas entraram duas denúncias.Segundo o diretor da DLVT, de uma forma geral, informa, as denúncias de violação que chegaram à PJ relativas ao concelho de Lisboa são, na sua maior parte, relacionadas com situações ocorridas de noite ou madrugada: "Continuamos a verificar casos, em bares ou discotecas, de utilização de químicos nas bebidas das mulheres que as deixam prostradas e indefesas à violação”.Questionado pelo DN sobre se existe alguma relação entre o acréscimo de participações registado em 2024 na cidade e o Martim Moniz – associação feita pelo atual presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, - a resposta foi "não". .RASI: Delinquência juvenil, roubos a bancos e violações aumentaram em 2024.E afasta também uma associação entre o aumento de participações do crime de violação e zonas da cidade onde há mais imigrantes residentes: “Não é padrão, não é uma tendência”. Este responsável revela, porém, que “há uma parte significativa de casos cujos suspeitos são estrangeiros, sendo as suas vítimas também estrangeiras”. Questionado sobre se nota um aumento desses casos, afirmou não ter dados objetivos que lhe permitam essa comparação.O DN pediu também estes dados também discriminados por freguesia à PSP, mas esta força de segurança declinou. "A PSP não comenta, neste momento, quaisquer dados sobre criminalidade, uma vez que não detém dados sustentados e devidamente consolidados relativamente ao ano de 2025. Quanto aos anos anteriores, os dados são os explanados no Relatório Anual de Segurança Interna (RASI)", disse fonte oficial, sendo que no RASI a estatística não está apresentada por freguesia.Apesar destes dados fornecidos pela PJ confirmarem a tendência de aumento verificada desde 2022, não têm correspondência, no entanto, com os números constantes nas Estatísticas da Justiça: é que, no respeitante a 2024, a diretoria de Lisboa da PJ averba ali apenas 22 inquéritos, um decréscimo face aos 29 de 2023, sendo 2021, com 30, o ano recordista entre os últimos 10. Por outro lado, somando os números da PJ e da PSP (22 mais 55) para Lisboa o valor resultante também não bate certo com o valor que a PJ comunicou ao DN (77). O DN questionou o Sistema de Segurança Interna - organismo que faz a coordenação das participações das forças e serviços de segurança que são depois registados pela Direção-Geral de Estatísticas de Justiça e no RASI - sobre este desencontro de dados, mas até à publicação deste texto, o jornal não conseguiu obter explicação. Com Fernanda Câncio