Vacinação evitou 2300 mortes e 200 mil infeções

Para Henrique Barros, a vacinação assume-se como a "medida fundamental de proteção", por isso apelou à vacinação das crianças. Pedro Pinto Leite adiantou ainda que o grupo etário com maior incidência de infeções é o das crianças até aos 9 anos.
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O resultado do processo nacional de vacinação contra a covid-19, que atingiu perto de 87% de cobertura da população, terá evitado a morte de quase duas mil pessoas desde maio até agora, defendeu esta sexta-feira o epidemiologista Henrique Barros, durante a reunião de avaliação sobre a situação da pandemia em Portugal, na sede do Infarmed, em Lisboa.

"Desde maio até agora, a adesão dos portugueses à vacina terá poupado à volta de 200 mil infeções, menos 135 mil dias em enfermaria, menos 55 mil dias em unidades de cuidados intensivos e pouparam-se cerca de duas mil vidas", mais concretamente 2300, afirmou o epidemiologista do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP).

Numa intervenção intitulada "Entender como a pandemia evoluiu", o especialista traçou alguns cenários comparativos com o passado e o momento atual da situação epidemiológica da covid-19, tendo concluído ser "extraordinariamente evidente" que o aumento do número de infeções "parte de uma base mais baixa, como um reflexo da vacinação" e com um notório efeito na distribuição da doença pelos grupos etários.

"O grupo etário das pessoas com mais de 80 anos, que era um dos mais afetados, é agora completamente ultrapassado pelo grupo dos 5 aos 10 anos, em que ainda não utilizamos a vacinação", frisou, notando que "a situação portuguesa na hierarquização dos casos e das mortes encontra-se muito melhor do que há um ano, comparativamente com os outros e consigo próprio".

Apesar dessa evolução, o especialista aconselhou que, perante a situação epidemiológica neste momento, "poderia fazer sentido desaconselhar as reuniões com muitas pessoas, as chamadas reuniões sociais com mais de 50 pessoas", tendo em conta o panorama de infeções que se tem registado nas últimas semanas.

Para Henrique Barros, a vacinação assume-se como a "medida fundamental de proteção", por isso apelou à vacinação das crianças assim que as autoridades permitam a administração abaixo dos 12 anos, bem como a toma da dose de reforço para a população já elegível. Porém, salientou também a necessidade de manter as medidas não farmacológicas individuais, a vigilância epidemiológica e um adequado planeamento da resposta clínica.

Na análise aos dados destes quase dois anos de covid-19, o epidemiologista do ISPUP referiu ainda que já é possível constatar o "desenho de um quadro inequívoco de apresentação sazonal e que indicia muito bem a transformação endémica" do contacto com o vírus SARS-CoV-2 em solo nacional.

Portugal encontra-se na quinta fase da pandemia de covid-19 e apresenta uma incidência de infeções de 203 casos por 100 mil habitantes, sendo mais elevada na população jovem, adiantou esta sexta-feira a Direção-Geral da Saúde (DGS), na reunião de avaliação sobre a situação da pandemia em Portugal na sede do Infarmed, em Lisboa.

"Tivemos quatro grandes fases pandémicas e Portugal encontra-se, de momento, na quinta fase pandémica, até ao momento com um impacto na gravidade e na mortalidade inferiores às fases anteriores, ainda que mereçam alguma atenção especial", adiantou Pedro Pinto Leite, da DGS.

Segundo disse, a incidência atual é de 203 casos de infeção por SARS-CoV-2 nos últimos 14 dias por 100 mil habitantes, com uma tendência crescente e uma variação de mais 47% em relação ao período homologo.

De acordo com o especialista, a região com maior incidência de infeções é o Algarve, seguida do Centro e da Madeira, estando estas três regiões acima dos 240 casos por 100 mil habitantes.

Já Lisboa e Vale do Tejo está com uma incidência "ligeiramente inferior à nacional", seguida do Alentejo, do Norte e dos Açores, mas também com tendência crescente e com variações superiores a 10%.

Pedro Pinto Leite adiantou ainda que o grupo etário com maior incidência de infeções é o das crianças até aos 9 anos, que corresponde a uma faixa da população não vacinada.

O grupo dos 20 aos 29 anos é o segundo que apresenta uma maior incidência de casos de infeção, seguindo-se a faixa dos 30 aos 39 anos.

No encontro entre especialistas de várias áreas da Saúde e políticos, Pedro Pinto Leite adiantou que se regista um aumento na proporção da positividade, que está acima do valor de referência do ECDC de 4%.

Referiu ainda que se verifica um aumento do número de internamentos, com 523 doentes internados na quinta-feira, o que representa um aumento de 37% em relação ao período homólogo, dos quais 72 em cuidados intensivos, o que corresponde de 28% do nível críticos de camas ocupadas definido na análise de risco da pandemia.

Segundo disse, a maioria dos casos associados a surtos nas várias regiões são em contexto de escolas e de universidades, mas também se registam situações em contexto laboral, em instituições particulares de solidariedade social e em lares de idosos.

Pedro Pinto Leite adiantou também que, para os casos notificados em agosto, o risco de internamento por estado vacinal é duas a cinco vezes menor nas pessoas com vacinação completa.

Relativamente à letalidade para os casos notificados em outubro, é 1,4 a quatro vezes menor nas pessoas com vacinação completa relativamente às pessoas que não completaram a sua vacinação.

Portugal pode atingir os 240 casos por 100.000 habitantes em menos de duas semanas a manter-se a taxa de crescimento de número de casos, avançou o investigador Baltazar Nunes, do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA)

Na sua intervenção "Impacto da vacinação contra a covid-19 na população portuguesa: efeito observado" na reunião de peritos no Infarmed, em Lisboa, o epidemiologista afirmou que a transmissibilidade é elevada no país, com o número de casos a duplicar aproximadamente a cada 15 dias.

"Quando olhamos para as várias regiões verificamos que em comparação com a última reunião do Infarmed em que efetivamente estávamos numa situação contrária com praticamente todas as regiões com tendência decrescente, agora estamos com todas as regiões com uma tendência crescente", salientou.

Segundo o responsável da unidade de investigação epidemiológica do INSA, os valores do 'R' (transmissibilidade) estão "elevados ou muito elevados", estando alguns dias acima de 1,2 em algumas regiões.

"Olhando para as projeções da incidência, verificamos que a linha dos 240 casos por 100.000 habitantes vai ser atingida rapidamente em aproximadamente menos duas semanas se mantivermos esta taxa de crescimento, mas também podemos verificar que as linhas dos 480 e dos 960 podem ser atingidas em um mês ou dois meses se mantivermos sempre esta taxa de crescimento", advertiu o investigador.

As vacinas contra a covid-19 utilizadas em Portugal apresentam uma eficácia superior a 80% na prevenção de hospitalização e de morte e superior a 53% contra a infeção pelo SARS-CoV-2, adiantou esta sexta-feira uma especialista do INSA.

Em relação às formas graves de doença, as "efetividades [das vacinas] são bastante elevadas, superior a 80% de uma forma geral, sendo mais baixas quando olhamos para população acima dos 80 anos", referiu Ausenda Machado.

Segundo a especialista do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), contra a infeção pelo coronavírus, as quatro vacinas utilizadas no plano de vacinação nacional permitem uma proteção acima dos 50% para os vários grupos etários.

"Os resultados da efetividade indicam-nos que as vacinas são efetivas na redução da doença, mas em particular quando olhamos para doença grave ou muito grave", adiantou Ausenda Machado.

Segundo disse, esta eficácia varia com a idade, o que já se observa em outras vacinas, e os valores mais elevados encontra-se na população entre os 30 e 49 anos.

Já nos idosos com 65 ou mais anos, "começamos a perceber que há um decaimento desta proteção conferida após a vacinação completa, sendo que este decaimento é mais significativo" no caso da infeção, o que vem reforçar da importância de uma dose de reforço, disse.

"A informação preliminar da introdução da estratégia de reforçar a vacinação na população com 80 ou mais anos parece mostrar um decréscimo da incidência neste grupo etário", adiantou a especialista.

O alargamento da população elegível para dose de reforço contra a covid-19 vai exigir a disponibilização de mais meios no terreno, alertou esta sexta-feira o responsável pelo Núcleo de Coordenação do Plano de Vacinação, coronel Carlos Penha-Gonçalves.

Na intervenção efetuada na reunião de avaliação sobre a situação da pandemia em Portugal, que junta especialistas e políticos na sede do Infarmed, em Lisboa, o coordenador desta fase do processo de vacinação referiu que a atualização feita na quinta-feira pela Direção-Geral da Saúde (DGS) sobre as condições de elegibilidade para a dose de reforço "duplica o esforço de planeamento" que tinha sido feito e impôs uma reprogramação do plano.

"Desde ontem [quinta-feira], pela norma da DGS, estamos agora a considerar outros grupos populacionais e estamos a falar, basicamente, de 1,8 milhões de pessoas", começou por dizer, continuando: "Esta nova ambição com o alargamento da população-alvo indica-nos que é preciso fazer um reforço da estrutura executiva, que administra a vacina. É nesse equilíbrio de aumento da capacidade no terreno que vamos atingir os objetivos".

O coronel Carlos Penha-Gonçalves reconheceu ainda a necessidade de se avançarem com "opções de planeamento" para a organização dos novos grupos elegíveis, bem como a importância do "acesso a dados de vacinação, infeção e hospitalização" para a definição das prioridades, embora a "vacinação das pessoas mais expostas" continue no topo da agenda.

Descrevendo o plano que foi traçado para decorrer entre 27 de setembro e 19 de dezembro com vista à vacinação da gripe e da dose de reforço contra a covid-19, com uma estimativa de cerca de 4,5 milhões de inoculações, o responsável pelo núcleo de coordenação vincou que o dispositivo "tem evoluído no tempo" e conta agora com 304 pontos de vacinação, com capacidade de administrar 460 mil vacinas por semana.

Em termos de cobertura já conseguida na vacina da gripe, o coronel Carlos Penha-Gonçalves explicou que a população elegível foi dividida essencialmente em três grupos: os maiores de 80 anos, os idosos entre os 70 e os 79 e, finalmente, as pessoas entre os 65 e os 69 anos. Nesse sentido, foram já alcançadas coberturas vacinais de 73%, 42% e 20%, respetivamente.

O teto vacinal da vacina da gripe costuma ser de 75%, segundo o responsável. "Temos cerca de 730 mil para dar, o que se traduz em cerca de 25 mil vacinas por dia, perfeitamente dentro daquilo que temos estado a dar", observou.

Carlos Penha-Gonçalves adiantou que cerca de 630 mil pessoas receberam a dose de reforço contra a covid-19, numa população igualmente elegível para a vacina da gripe e que, para o coordenador, está a ter efeito na adesão à vacinação. A adesão atual é de 80%, com cerca de 600 mil pessoas para vacinar até 19 de dezembro, a uma média de 20 mil inoculações diárias.

Todavia, avisou que, se a adesão subir até aos 100%, isso traduz-se na vacinação de um milhão de pessoas, a "uma média de 35 mil por dia", de acordo com o coronel do Exército.

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