Uma semana depois de uma grávida ter perdido o bebé após o nascimento, embora não tivessem sido detetadas quaisquer irregularidades no atendimento que lhe foi prestado na avaliação feita pela Direção Executiva do Serviço Nacional de Saúde (DE-SNS), há mais um caso de perda de vida de um feto às quase 32 semanas (31 semanas e seis dias), por uma grávida do Barreiro. Como o DN noticiou na manhã desta sexta-feira, dia 4, o caso chegou ao conhecimento público por uma denúncia da Federação Nacional dos Médicos (Fnam), que o considera “trágico”. “Não podíamos calar esta situação", disse ao DN a presidente da estrutura, Joana Bordalo e Sá. Isto, "independentemente de, agora, as justificações dadas por todos os organismos da Saúde, sobre os tempos de resposta, virem justificar que esta teve acesso aos cuidados, mas a verdade é que uma grávida não pode ser sujeita a este sofrimento. Entre o ter ligado para a Linha SNS24 e para o INEM e o ser recebida numa unidade passaram cinco horas”, insiste a sindicalista. “Isto não pode acontecer”, reforça.Para o presidente da Sociedade Portuguesa de Obstetrícia e Medicina Saúde Materno-Fetal (SPOMMF), Nuno Clode, o tempo de espera desta grávida "não faz qualquer sentido. Não estamos propriamente no meio do deserto do Sahara. Estamos em Portugal, onde há vias rápidas para todo o lado. Portanto, não percebo como é que se demora mais de quatro horas a tomar uma decisão e a saber para onde se deve levar uma mulher grávida de 32 semanas a sangrar”. O médico começa por explicar que estes casos podem acontecer, e também pode acontecer não haver uma maternidade com unidade de prematuros na área da residência desta (Barreiro) e de outras utentes, e até não haver vagas em neonatologia nas unidades mais circundantes, mas “se o SNS funciona em rede, esta mulher deveria ter sido encaminhada de imediato para qualquer unidade. Uma grávida de 32 semanas a sangrar é definitivamente uma situação grave e tinha de ir para Lisboa, Coimbra ou Évora. Fosse onde fosse, que houve uma vaga para o bebé, porque a mãe não estava em risco de vida, que se saiba”. .Bastonário aponta falhas no SNS após "mais um caso trágico" de grávida que perdeu bebé. Reforçando: “Ainda por cima, tudo aconteceu durante a noite, o que não me parece ser uma altura em que haja confusão em termos de trânsito. Uma ambulância do Barreiro a Cascais poderia levar meia hora ou três quartos de hora, não quatro horas”.Nuno Clode recorda ao DN que “a área da obstetrícia sempre deu resposta, agora não consegue, mas, parte-se do princípio que, ainda por cima há instruções nesse sentido, se uma grávida liga para uma das linhas telefónicas que pretendem dar apoio, deve ser atendida”. Do que sabe do caso, o presidente da SPOMMF diz que a mulher “tinha uma hemorragia importante e isto significa que a probabilidade de se fazer nascer o bebé era alta. Portanto, era preciso descobrir-se rapidamente qual a maternidade que a poderia receber. Não me parece adequado que se levasse tanto tempo para uma decisão e para ter essa informação”.Segundo relataram ao DN, a utente ligou a primeira vez para a Linha SNS Grávida pelas 23.30, não conseguiu atendimento, o que tanto os Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS) que gere a Linha SNS Grávida, não aconteceu. “Não há registo”, responderam. Só há registo do número indicado mais tarde e as chamadas foram desligadas. O INEM justifica também o tempo decorrido com o facto de o quadro da grávida se agravar e haver necessidade da intervenção de uma equipa da VEMER, que fez o diagnóstico e tentou encaminhar a mulher para uma unidade com neonatologia, nomeadamente Santa Maria e Maternidade Alfredo da Costa, depois de passarem por Setúbal, que não tinham vagas para prematuros. Foi identificada a unidade Cascais, mas desde que o INEM recebeu a primeira chamada (1h:30m) até à chegada da utente a Cascais passaram duas horas e meia. A grávida chegou à urgência pelas 4:00 com “descolamento da placenta, hemorragia e o feto sem vida”. O que, diz o obstetra e presidente da sociedade, “não parece ser uma situação adequada”, sublinhando que tal deve ter sido “um pesadelo para esta mulher. Não é aceitável. Tem de haver uma resposta do outro lado da linha e quem está desse lado tem que perceber que, seja a que horas for, tem de descobrir rapidamente qual é a maternidade que está operacional para levar uma grávida nesta situação”. Mais uma vez: “Quem está do outro lado da linha tem de perceber que às 32 semanas uma mulher a sangrar é definitivamente uma coisa grave”.Para o bastonário dos médicos, este caso é reflexo de “uma grande desorganização” no SNS”. E declarações à Lusa, Carlos Cortes aponta ainda o dedo à Direção Executiva do SNS pela falta de coordenação nos cuidados “três maternidades encerradas é inconcebível”.O DN tinha pedido à DE-SNS um comentário sobre esta situação e o que iria ser feito, mas até não obteve resposta..Grávida do Barreiro esperou horas para entrar no Hospital de Cascais para ser assistida. Feto chegou sem vida.Ministra da Saúde diz que sai quando o primeiro-ministro entender