Diretor da PJ: “Trata-se de um fenómeno muito sério, disruptivo e com relevância crescente social e criminal”
O diretor nacional da Polícia Judiciária, Luís Neves, assumiu a sua preocupação com o recrutamento e radicalização de “jovens cada vez mais jovens”. Na conferência de imprensa sobre a operação “Desarme 3D” esteve ao lado da diretora da Unidade Nacional de Contraterrorismo, Manuela Santos. Eis as suas palavras em discurso direto:
“Recentemente, a pedido da Iniciativa Liberal, tive a honra e o prazer de estar no Parlamento, onde prestei um vasto conjunto de esclarecimentos, entre os quais o tema que aqui hoje nos traz, que tem que ver com os crimes de ódio.
E quero reafirmar aquilo que temos vindo a dizer, a instituição PJ e eu próprio, enquanto dirigente máximo, que estamos a tratar de um fenómeno muito sério, disruptivo e com relevância crescente social e crimes crimes de ódio, como todos sabem, têm que ver com a discriminação e incitamento ao ódio e a violência no outro, no ser humano. Não é constitucional e penalmente aceitável que existam crimes desta natureza.
Reitero: ódio e incitamento ao ódio e à violência, assentes na questão da raça, da cor, da origem étnica, da nacionalidade, da religião, da orientação sexual, identidade do género e da deficiência do ser humano.
Por isso, aqui estamos mais uma vez a reiterar que o trabalho das polícias - falo da Polícia Judiciária em particular, mas tenho essa legitimidade para falar em todos os polícias - é o respeito pela diferença, o respeito pelos direitos humanos e, sobretudo, a proteção e o respeito pelas vítimas.
Assistimos cada vez mais a um crescente nos discursos desta natureza e ao recrutamento e incitamento de camadas cada vez mais jovens da população através da internet, em círculos fechados.
Assistimos e temos conhecimento e essa é uma das áreas a alavancar a prova. Estamos a assistir, de facto, ao recrutamento e ao incitamento à violência de jovens cada vez mais jovens, assentes nas fake news, na desinformação e na manipulação destas pessoas.
Disse-o em Janeiro, aquando da comemoração dos 160 anos do Diário de Notícias. Disse-o a seguir no Parlamento. E reitero agora o que acabo de referir.
Quero também dizer que este fenómeno e o combate, quer na sua prevenção, quer na sua propagação, é um combate de todos, quer da sociedade civil, quer , sobretudo, das forças de segurança no âmbito da UCAT (Unidade de Coordenação Antiterrorista).
Não posso deixar de aproveitar o momento para deixar uma nota de profundo reconhecimento e agradecimento às forças de segurança que connosco interagem nestas matérias, designadamente nestes últimos tempos em casos concretos, aos nossos serviços e informações que silenciosamente trabalham e contribuem com a melhor informação possível e, sobretudo, nos últimos dois casos, à Polícia de Segurança Pública, que tem a responsabilidade da prevenção de ordem pública e também de alguma investigação, que está próximo dos cidadãos e com a sua ação rápida, consegue inviabilizar o cumprimento de linhas de natureza mais grave, designadamente crimes contra a vida, conseguindo ainda identificar suspeitos, matéria que é relevante para as nossas próprias investigações.
Falo dos casos relacionados com elementos de uma claque dita do Sporting que atacaram elementos do Futebol Clube do Porto e em que não houve mortos porque houve uma intervenção da PSP, cujo trabalho prosseguiu e foi relevante para o desenrolar da investigação – temos neste momento três indivíduos identificados; falo no ataque ao ator junto ao teatro da Barraca, no qual foi igualmente a PSP que em primeira instância interveio, inviabilizando que as agressões continuassem e fez o seu trabalho no sentido de procurar identificar também pessoas envolvidas nesses crimes que são relevantes depois para a investigação.
Para terminar, gostaria de dizer que este é um trabalho de todos e os nossos objetivos foram alcançados. Dizer ainda quer estamos muito preocupados com o crescente desta atividade, que não acontece só, infelizmente, em território nacional. Por isso entendemos hoje, face a relevância da operação, a relevância dos resultados e, sobretudo, ao fenómeno e aos bens jurídicos que aqui estão em causa e que têm que ver com os direitos humanos, com a igualdade, com o respeito pela diversidade, com o respeito pela nossa Constituição, deveria estar aqui a dar a cara”.