Transportadora Viação Alvorada abre inquérito interno a motorista acusado de racismo
A Viação Alvorada, transportadora na qual trabalha o motorista acusado de racismo por uma vereadora da autarquia de Cascais, abriu um inquérito para apuramento dos factos, ao mesmo tempo que Carla Nunes Semedo já formalizou a queixa.
Em causa está a publicação feita no domingo pela vereadora de Saúde, Assuntos Sociais e Direitos Humanos da Câmara Municipal de Cascais, Carla Nunes Semedo, na qual esta relatou que a sua filha de 17 anos foi alvo de comentários racistas por parte de um motorista de autocarro.
A jovem, negra, terá ouvido do motorista que “não transportava animais”, num episódio ocorrido na sexta-feira, pelas 22:30, numa paragem de autocarro em Carcavelos.
Questionada pela Lusa, a Viação Alvorada – que presta serviços à Carris Metropolitana – respondeu esta terça-feira (17 de junho), por escrito, que o inquérito, aberto “de imediato”, ainda se encontra a decorrer.
Sem responder à pergunta sobre se o motorista continua em funções, a transportadora adiantou que estão previstas “ações de formação, reciclagem e procedimentos disciplinares” para responder a “situações que se desenquadrem” das regras de funcionamento.
“Em todas as formações é intensificada a conduta de um bom profissional, quer em relação à ética profissional, quer em relação à importância de proceder com urbanidade para com todos”, refere a empresa.
Questionados antes, os Transportes Metropolitanos de Lisboa (TML), entidade na qual a Área Metropolitana de Lisboa delega competências nos domínios da mobilidade e dos transportes, esclareceram, em resposta à Lusa, que o caso envolveu um motorista da Viação Alvorada.
Os TML comprometeram-se com o “cabal esclarecimento” do episódio relatado e instaram a Viação Alvorada a tomar “providências que o caso exige”, ressalvando que “os motoristas ao serviço da Carris Metropolitana são trabalhadores dos operadores responsáveis pela prestação do serviço de transporte rodoviário”.
Entretanto, a vereadora independente eleita nas listas de coligação PSD/CDS-PP, que lidera o executivo camarário de Cascais, confirmou hoje à Lusa que já formalizou a denúncia de racismo junto dos TML, a quem pediu a identificação do motorista de autocarro, para poder apresentar queixa também na polícia.
Na publicação que fez no domingo, nas redes sociais, Carla Nunes Semedo divulgou uma fotografia com a filha, denunciando que esta “foi vítima de um ataque racista” e prometendo que não permitirá “que o preconceito se sente ao volante do que é público”.
A vereadora e psicopedagoga escreveu: “O condutor de autocarro achou por bem dizer-lhe que não transportava animais. Sim, em 2025. Em Portugal. Em Cascais.”
Carla Nunes Semedo justificou assim a publicação: “É duro escrever isto. Mas é mais duro calar. A quem ainda alimenta discursos racistas, com palavras ou com silêncios cúmplices, deixo um recado claro: nós já não somos os mesmos. Não somos mais aqueles que, por respeito ou medo, engoliam em seco o ódio disfarçado de ‘opinião’. Não somos mais os que aceitavam ofensas em nome da paz social.”