Tolerância zero para abuso sexual no cinema francês nos Césares 2025
A Academia do Cinema Francês anunciou esta semana que não haverá nomeados para os Césares, os “óscares franceses”, que estejam acusados de violência física ou sexual.
A academia endureceu as regras e alterou o seu regulamento, restringindo também os direitos de voto de qualquer membro que enfrente acusações legais dessa natureza e optando, mesmo, pela expulsão de quem for condenado enquanto durar a pena. Já em 2023, a academia tinha decidido banir a presença na cerimónia de suspeitos deste tipo de crimes, depois da pré-nomeação de um ator acusado.
A cerimónia de momeação acontece esta quarta-feira e vai decorrer num clima pesado, algo semelhante ao que inspirou o movimento#Me Too, em Hollywood, com uma onda de acusações de abuso no ano passado.
O tema está longe de ser novo na indústria. A alteração do regulamento surge na sequência de várias polémicas nos últimos anos, sendo a mais mediática a vitória do aclamado Roman Polanski no César de melhor realizador em 2020. A distinção do cineasta, previamente acusado de abuso sexual, gerou uma onda de indignação, com a estrela de “Retrato de uma jovem em chamas” (duas vezes vencedora do prémio de melhor atriz), Adèle Haenel, a abandonar a cerimônia daquele ano, em protesto após o anúncio.
Dois anos depois, a Academia enfrentou um turbilhão semelhante quando o ator Sofiane Bennacer foi pré-selecionado na categoria de ator revelação por "Les amandiers", de Valeria Bruni Tedeschi. O ator foi acusado de estupro e violência sexual por quatro mulheres. Além de instituir novas normas para evitar futuras repetições, a Academia de Cinema Francesa também retirou o nome do ator da lista de possíveis nomeados.
Com uma nova vaga de acusações liderada pelas atrizes Judith Godrèche (51 anos) e Isild Le Besco (41) no ano passado, o movimento #MeToo do cinema francês atingiu um momento marcante na cerimônia do César de 2024, quando Godrèche, que acusa os cineastas Benoît Jacquot e Jacques Doillon de abuso e de exercer um "domínio" psicológico sobre ela décadas atrás, criticou o silêncio da indústria em relação às acusações de assédio.
“Não vamos fazer de heroínas na tela apenas para nos escondermos na floresta na vida real”, disse Godrèche do pódio do Cesar. “Não vamos encarnar heróis revolucionários ou humanistas apenas para acordar de manhã sabendo que um diretor abusou de uma jovem atriz – e não dizer nada.”
Neste ano, que marca a 50ª edição do César, a academia francesa vai oferecer um prémio honorário a Julia Roberts, e convida a lenda Catherine Deneuve para presidir à cerimónia. Tal como acontece com o Oscar deste ano, espera-se que “Emilia Pérez”, de Jacques Audiard, receba uma série de nomeações – embora ali, o musical deva enfrentar forte concorrência da sensação de grande sucesso do ano passado “O Conde de Monte-Cristo”, estima o jornal brasileiro O Globo.
O vencedor da Palma de Ouro de Cannes “Anatomia de uma queda”, de Justine Triet, foi o grande vencedor da última edição do César, arrebatando os prémios de melhor filme, realizador, atriz, ator secundário, edição e argumento original.
A cerimónia será realizada a 28 de fevereiro no Teatro Olympia de Paris.