Poucos portugueses lhe conheciam o nome. Porém, foi uma das protagonistas em dia de apagão: chama-se Central da Tapada do Outeiro, está localizada em Gondomar e é um backup para a segurança do sistema elétrico nacional. Ajudou, juntamente com a congénere de Castelo de Bode, a que se fizesse luz: a meio da tarde, a REN informava que a produção destas duas unidades já estava a alimentar a rede e a permitir o regresso da eletricidade a algumas localidades. Situada numa zona de elevado consumo elétrico e na proximidade de parques eólicos, destaca-se no sistema nacional, tendo capacidade para arrancar autonomamente e funcionar, em alternativa ao gás, com gasóleo. Com 990 megawatts de potência - dividida entre três grupos produtores com 330MW cada -, é um ativo “longe de esgotar o seu tempo de vida” e cujo futuro deve ser olhado com “optimismo”. Assim prometia Duarte Cordeiro, em 2022, por ocasião da celebração dos 25 anos da Central que marcou a história da energia em Portugal, quando pairava no ar a possibilidade de a mesma encerrar por termino do contrato de aquisição de energia (CAE) e da licença de produção. Na mesma ocasião, o ministro do ambiente do anterior governo garantiria que a produção a gás na Tapada do Outeiro seria possível até 2030. O centro eletroprodutor não encerraria portas, e haveria trabalho para os quarenta trabalhadores que viam com receio o aproximar do fim da concessão (2024). A central, a funcionar desde Agosto de 1999 e considerada fundamental para assegurar a segurança do abastecimento elétrico no território, está localizada na margem direita do rio Douro, na bacia hidrográfica da barragem de Crestuma-Lever, freguesia de Medas, concelho de Gondomar, a cerca de 15 km da cidade do Porto. O rio Douro desempenhou desde sempre um papel de grande relevo na economia da região, em especial nas comunicações e nos transportes. “De um rio de mau navegar, com inúmeros pontos críticos de navegação, a obra das barragens originou várias zonas de extensos lagos artificiais de que o da barragem de Crestuma-Lever onde se situa a Central da Tapada do Outeiro é um exemplo”, lê-se na página da EDP dedicada à central. O projeto do arquiteto José Carlos Loureiro começa a ser construído em 1955, entrando em funcionamento apenas quatro anos depois, em 1959. À época, destinava-se a queimar carvões da Bacia Carbonífera do Douro, nomeadamente os antracites das Minas de São Pedro da Cova e do Pejão. Na memória das populações, conta um documentário de Sérgio Torres realizado em 2018 e dedicado a este “importante símbolo de arquitetura industrial moderna”, está a imagem de um teleférico que fazia o transporte do carvão desde a duas explorações mineiras de carvão (São Pedro da Cova e Pejão) até à Central. “Esta imagem resume-se a cestas carregadas de carvão que passavam bem alto, por cima de estradas e casas”. O grande impacto económico a nível regional atraiu investimento e população, acabando depois por evoluir para a queima mista (carvão e fuelóleo). Desativada em 1994 era, até então, a mais antiga Central Termoeléctrica em exploração. De acordo com o 1.º Plano de Fomento (1953-1958) tinha sido construída com a finalidade de dar apoio e servir como reserva à Rede Elétrica Nacional destinando-se principalmente a dar aproveitamento às antracites pobres regionais.