O Comité europeu anti-tortura apela às autoridades portuguesas para que “erradiquem completamente” com os maus-tratos físicos praticados pelas polícias, avançando que continuam as queixas apesar dos progressos registados nos últimos anos.No relatório divulgado esta terça-feira (21 de outubro) sobre uma visita a Portugal em 2024, o Comité para a Prevenção da Tortura (CPT) do Conselho da Europa refere que observou “uma diminuição” das alegações de maus-tratos por parte de agentes da autoridade em comparação com visitas anteriores ao país”, tendo também sido tomadas medidas pelas autoridades portuguesas para resolver esta questão.No entanto, destaca, que “continuem a existir preocupações”, tendo recebido várias alegações de maus-tratos físicos praticados pelas polícias portuguesas, incluindo “o uso excessivo da força durante a detenção”.“Os alegados maus-tratos consistiam principalmente em socos, pontapés no corpo e/ou na cabeça e, ocasionalmente, o uso de cassetetes”, indica o documento.As denúncias também incluíam ser atirado contra a parede, pressão na cabeça com o pé ou no pescoço com o joelho ou cassetete, “apesar de as pessoas detidas já terem sido controladas”, escrevem os relatores, dando ainda conta de relatos de ameaças verbais e atos de humilhação.No documento são feitas referências à necessidade de garantir cuidados médicos e melhores relatórios sobre lesões.“As autoridades portuguesas devem manter-se vigilantes e prosseguir os seus esforços, em consonância com uma política de “tolerância zero”, a fim de erradicar completamente os maus-tratos policiais. Devem, em particular, melhorar a comunicação desses casos, tanto internamente como aos órgãos de investigação competentes, e proporcionar formação adequada aos agentes responsáveis pela aplicação da lei”, recomendam os peritos do Comité Europeu para a Prevenção da Tortura e Tratamento Desumano.O Comité expressou “profunda preocupação com falhas persistentes na resposta do sistemas de justiça criminal” português, que afirma representarem um risco para a confiança nas autoridades portuguesas.“Em relação ao acesso a um advogado, este direito não parece ser garantido a pessoas sob custódia policial em todos os casos, desde o início da privação de liberdade”, observaram os autores do relatório.Para ilustrar algumas situações, o comité cita o caso de um homem detido pela PSP que relatou ter sido manietado e deitado pelos agentes ao chão, enquanto o pontapearam, desferiram socos e lhe bateram com um bastão na cabeça, entre outras agressões que foram confirmadas no relatório da enfermeira que o assistiu na prisão.“O CPT continuou a constatar omissões por parte dos estabelecimentos prisionais, bem como da Inspeção-Geral da Administração Interna (IGAI) e da Inspeção-Geral dos Serviços de Justiça, na comunicação de eventuais casos de maus-tratos por agentes da autoridade ao Ministério Público, bem como casos em que alegações ou informações indicativas de maus-tratos não foram objeto de resposta, ou foram insuficientemente céleres, por parte deste serviço”, acrescenta-se no documento.O comité destacou ainda a necessidade de melhorar a comunicação e a partilha de informações entre os órgãos de investigação criminal e disciplinar, especialmente nos casos em que os processos disciplinares e penais decorrem em paralelo.Os autores do documentos pedem, igualmente, que os agentes estejam identificados durante as operações e contestam o facto de alguns agentes taparem a cara. O Comité para a Prevenção da Tortura recomenda, igualmente, que as autoridades implementem o uso de câmaras corporais, uma medida que, frisam os responsáveis pelo relatório, oferece uma proteção adicional contra o "risco de uso excessivo e outras formas de tratamento, garantindo, também, proteção [aos agentes] contra qualquer alegação de maus-tratos"..Polícias suspeitos de tortura ficam em prisão preventiva.IGAI abriu processo administrativo ao caso das suspeitas de tortura em esquadras da PSP."Um só caso já é mau". Diretor da PSP dececionado com agentes suspeitos do crime de tortura