Em 2024, foram gastos mais de 212 555 917 euros (212,5 milhões de euros) na contratação de médicos prestadores de serviço. Deste montante, cerca de 95 milhões (cerca de 45% do total dos encargos) foram pagos a empresas que contratam médicos à hora. A segunda maior fatia foi paga a pessoas singulares, médicos com recibos veres: 76,4 milhões (cerca de 36% dos encargos). E, por fim, a empresas unipessoais, ou seja, a médicos que faturam através das suas próprias empresas, foram pagos 41 milhões de euros (cerca de 19% dos encargos). Na maioria das Unidades Locais de Saúde esses serviços foram pagos, em média, entre os 35 e os 45 euros/hora, mas noutras o valor ultrapassou mesmo os 50 e os 60 euros.Estes dados oficiais, a que o DN teve acesso, mostram ainda que, até setembro deste ano, o Serviço Nacional de Saúde (SNS) já tinha gastado mais de 174 milhões de euros (174 681 924) por mais de quatro milhões (4 409 226) de horas realizadas à tarefa, sendo que a maior fatia dos gastos, 64% a 66%, foi com médicos contratados para os serviços de urgência. Por outro lado, segundo os mesmos dados, 35% dos médicos contratados como prestadores de serviços não tinham especialidade, mas foi este grupo que representou a maior fatia da despesa total com os tarefeiros - 75 milhões (75 052 203) de euros -, seguindo-se depois os especialistas em Medicina Interna, que representaram um gasto de 18,5 milhões (18 541 857).Os números até podem parecer avultados, mais de 212 milhões em 2024, mas quando comparados com o montante que o Estado quer poupar em 2026, “não são nada”, destaca o presidente da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares. “Não podemos esquecer que, de acordo com o OE2026, a tutela quer poupar 850 milhões de euros, portanto, não se pode dizer que é com a redução do valor/hora pago aos tarefeiros que vai conseguir grande poupança”, defende Xavier Barreto, argumentando ainda que “a contratação de médicos tarefeiros não é uma opção dos hospitais. As unidades fazem-no porque têm escalas de urgência para completar. Não têm alternativa, até porque a composição das escalas está definida, na maior parte dos casos, pelos órgãos médicos de cada especialidade. Portanto, ou os hospitais asseguram as escalas ou então, naturalmente, têm de encerrar o serviço”.O administrador, que até é defensor da regulação da atividade por prestação de serviço, recorda que há mais de 20 anos que trabalha na área da Saúde e desde sempre que recorda a existência de médicos tarefeiros para colmatar as falhas de recursos humanos internos ou a falta de capacidade para os médicos dos quadros fazerem horas extraordinárias”. Talvez por isto mesmo, e segundo os dados a que o DN teve acesso, as unidades locais de saúde com mais horas de prestação de serviços contratadas e com maiores encargos são “as mais periféricas, aquelas que têm mais dificuldade em captar profissionais para os quadros”, o que faz também com que, muitas vezes, sejam estas a pagar, em média, o valor mais caro. . Assim, e olhando para esta tabela, há a destacar que a ULS do Algarve foi a que gastou mais, até setembro de 2025, com prestadores de serviço: mais de 14 milhões de euros para pagar 313 033 horas contratadas, pagando em média 45,2 euros à hora. Depois segue-se a ULS do Médio Tejo, com um gasto de 9,1 milhões de euros em 262 738 horas - no entanto, é das unidades que até paga dos preços mais baixos à hora, 34,8 euros. Segue-se a ULS do Oeste, com um gasto ligeiramente superior a oito milhões de euros em 196 756 horas, o que representa em média 41,1 euros à hora.Mas as contas feitas pelo DN indicam que há, pelo menos, seis unidades que se destacam pelo que pagam em valor médio à hora: o IPO de Coimbra, onde este valor é, em média, de 58,4 euros, a ULS do Nordeste (Bragança), em que este valor chega aos 61,8 euros, a do Estuário do Tejo, que atinge os 59 euros, a de Gaia/Espinho (56,3 euros), Alto Douro (53 euros) e Cova da Beira (51,9 euros). Nas restantes unidades, o preço médio de hora varia entre os 26,1 euros no IPO de Lisboa, passando pelos 31,3 na ULS de Braga, até aos 36 na ULS Almada Seixal, 48 euros na ULS Viseu-Lafões ou os 42 euros no Alentejo Central.O administrador hospitalar reforça que estes valores são frequentes para hospitais mais periféricos, porque também são os que têm mais falta de pessoal. "Muitas vezes, estas ULS periféricas têm de contratar médicos que têm de se deslocar de Lisboa ou do Porto para fazerem o serviço. E se o preço não for atrativo, também não vão”, sustenta. Em relação às áreas urbanas, onde há mais médicos e a concorrência é maior, "já se conseguem praticar preços mais baixos, mas isto é a lei do mercado”, que é o que acontece, por exemplo, nas ULS do Porto e de Lisboa. "Têm mais médicos nos quadros e maior capacidade para captar e reter recursos humanos, e só se contrata prestação de serviços quando não existe mesmo alternativa interna e os preços aqui são mais aceitáveis”.O presidente da APAH lembra que a situação da atividade por prestação de serviços “foi criada pelo próprio sistema, portanto acho que temos de ter alguma empatia com a situação destes profissionais, porque, em muitos casos, esta opção também não foi delas”, considerando que o primeiro passo deve ser “ouvi-los, saber o que querem, para depois se resolver o problema”. No entanto, destaca, qualquer negociação “não poderá ser feita com grupos inorgânicos, estes médicos terão de se organizar”. Mas, garante, e conhecendo o setor como conhece, que esta situação só se resolve “oferecendo aos profissionais um contrato que seja atrativo. Estas pessoas têm de sentir vontade de fazer um contrato com o SNS”.* Com Rui Frias .Médicos tarefeiros dizem que paralisação das urgências não esteve em causa e que já pediram reunião à ministra para negociar