Há três semanas, quatro médicos obstetras, sócios do Sindicato dos Médicos da Zona Sul (SMZS), que integra a Federação Nacional dos Médicos, informaram esta estrutura de que iriam rescindir os contratos com o Hospital Garcia de Orta (HGO), em Almada. A estes, podem juntar-se mais três, que devem apresentar as demissões até ao final de maio, e um outro que aguarda o tempo para apresentar a reforma. A saída destes elementos reduz o Serviço de Obstetrícia do HGO - segundo confirmou ao DN o próprio hospital, tem agora 19 especialistas - a mínimos históricos, ficando pelos 12.Isto mesmo foi confirmado ao DN pelo presidente do SMZS, João Proença, depois de a saída destes elementos ter sido avançada pelo jornal Expresso, na sua última edição. No entanto, o conselho de administração negou ao DN a saída de sete elementos, confirmando apenas dois médicos. Segundo o dirigente sindical, a saída destes elementos tem a ver com “a atitude prepotente com que entrou na unidade o novo conselho de administração, liderado por Pedro Azevedo, quer em reuniões com o Serviço de Obstetrícia, quer em reuniões privadas entre médicos e administradores. Os médicos têm-se sentido maltratados e estão a sair”. Recorde-se que a nova administração da Unidade Local de Saúde Almada-Seixal (ULSAS), liderada por Pedro Azevedo, que integra o HGO, foi nomeada já este ano pela ministra Ana Paula Martins, antes de o Governo cair, entrando em funções em fevereiro.O presidente do SMZS argumenta que o motivo do mal-estar tem a ver com o facto de “a administração estar a tentar obrigar os médicos que têm Contratos Individuais de Trabalho (CIT), de 30 horas, a fazer urgências noutros hospitais da Margem da Sul, o que é ilegal. Só os médicos que trabalham no regime de Dedicação Plena podem ser deslocados dos seus hospitais para fazerem urgências noutros serviços, o que não é o caso destes médicos”. João Proença diz que o sindicato enviou um pedido de reunião urgente à administração do hospital para pedir explicações sobre o que se está a passar no serviço, e que já receberam confirmação de que esta ficou agendada “para quarta-feira, dia 9, às 09h00”. A preocupação é que “a saída de tantos especialistas de Obstetrícia só vai agravar a situação que se vive na Margem Sul”, afirma.O HGO já fecha sistematicamente a Urgência de Obstetrícia aos fins de semana, por não ter elementos suficientes nas escalas. João Proença recorda que “este serviço já foi dos melhores de Lisboa e Vale do Tejo e que, agora, se encontra nesta situação”. Alguns dos elementos que saíram, “médicos que estavam no hospital há mais de 20 anos, vão para unidades privadas, outros vão procurar outros hospitais do SNS”, argumenta.O DN confrontou a administração da ULSAS sobre a saída destes médicos e de tal se dever à atitude da própria, mas na resposta enviada é-nos dito que “a administração nega que tenham saído ou estejam para sair sete médicos por motivos relacionados com o atual conselho de administração (CA)”, explicando ainda que “a situação herdada pelo atual CA obrigou a uma análise do serviço e motivou uma reunião com os respetivos profissionais, tendo dois elementos apresentado pedidos de rescisão, havendo, contudo, a expectativa de que possa existir uma reversão da decisão por parte destes”.A administração da ULSAS afirma ainda que “está, desde a primeira hora, a envidar todos os esforços para robustecer o número de recursos humanos do serviço de Obstetrícia, tendo já efetivado duas contratações, que assumirão funções em breve”.