Joaquim Cunha é diretor executivo do Health Cluster Portugal
Joaquim Cunha é diretor executivo do Health Cluster PortugalFoto: DR

Saúde. "Estamos a duplicar exames, em alguns casos com situações dramáticas", alerta Health Cluster Portugal

Não há uma "estratégia nacional para os dados em saúde", diz Joaquim Cunha. Falta "transparência", as informações não circulam entre hospitais (nem mesmo no SNS) e quem mais perde são os pacientes.
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Os profissionais de saúde continuam à procura um meio que permita a todos os hospitais a circulação de informações sobre os pacientes. Ao mesmo tempo, falta "transparência", já que não se conhece um plano para o setor, neste âmbito, de acordo com Joaquim Cunha, diretor executivo do Health Cluster Portugal.

Em entrevista ao DN, começa por lembrar que a ineficiência no que diz respeito a sistemas de dados hospitalares não é exclusiva de Portugal. Porém, entende que é decisivo que seja implementada "uma estratégia nacional para os dados em saúde". Até ao momento, não se vislumbra essa possibilidade, pelo que sobressai a ausência de "uma visão estratégica".

"Quem tem responsabilidade sobre isso vai dizer que existe, mas eu não sei onde é que ela está", atira Joaquim Cunha. Assim sendo, as consequências são prejudiciais para quem frequenta os hospitais (independentemente de serem públicos, privados ou sociais, mas já lá vamos). "Se eu, enquanto doente, vou ao hospital e o médico ou enfermeiro não consegue ver o meu histórico médico, estamos mal", alerta o responsável. "Estamos a perder tempo e a duplicar exames, em alguns casos com situações dramáticas".

Informações não circulam entre hospitais... até no SNS

A circulação de dados sobre os pacientes (sem infringir as regras da proteção de dados) é crucial para garantir o bom funcionamento da saúde em Portugal. Porém, falha "entre os diferentes hospitais e, tanto quanto me dizem, dentro de alguns hospitais". Ou seja, a informação "nem sempre flui nos hospitais, não flui no SNS, nem do SNS para os hospitais privados ou sociais", salienta.

Recorde-se a situação que remonta a novembro da grávida que morreu e cujo bebé nasceu mas acabaria também por morrer. O caso ficou associado à falta de circulação dos dados existentes sobre a mulher e a respetiva gravidez, na medida em que a mesma era acompanhada no SNS desde julho. Tudo teve lugar no Hospital Fernando da Fonseca e, na altura, levou à demissão do presidente do Conselho de Administração da ULS Amadora Sintra.

O setor da Saúde não aproveita "da melhor forma possível o manancial de oportunidades que a tecnologia nos dá", de tal modo que falham aspetos que deveriam ser simples, sublinha o diretor executivo do Health Cluster Portugal. "Quando alguém vai a um hospital, é importante que o histórico da pessoa (no público, privado ou social) esteja disponível. Isto é óbvio, mas falha... e não se vê luz ao fundo do túnel", lamenta.

Joaquim Cunha aponta falta de "transparência"

O responsável tece críticas ao funcionamento dos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS). Assinala que estes pecam pela "opacidade" e reitera a importância de que esta entidade se pronuncie sobre um prazo para que a interoperabilidade seja colocada em prática.

"Onde está um plano? Porque é que não há transparência?" Estas são questões que o próprio gostaria de ver respondidas. De resto, o SPMS "faz concorrência com as empresas e, no final do dia, acho que não se poupa dinheiro", acrescenta.

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